Uma simples e desapercebida notícia. publicada em página indeterminada de um jornal de Salvador, trouxe-me a lembrança de episódio lançado rudemente ao conhecimento da opinião pública por jornais e revistas de circulação e conceito nacionais, com o intuito de constrange-la a ponto de exigir um exame de consciência coletivo da população brasileira.
O recente caso desses garotos romanos que, arriscando a vida, salvaram de horrível morte indefesa anciã envolvida por chamas em sua própria casa após desastroso acidente com uma candeia de querosene, não deixou de despertar-me na lembrança os sórdidos detalhes do crime praticado por meninos de Copacabana, que incendiaram velho esmolante enquanto dormia com o fito de divertirem-se. Não é necessário relembrar o acontecimento. Toda a nação ainda se recorda do fato com o mesmo
sentimento de culpa como se cada um de nós houvesse lançado a gasolina no traste humano, ou riscado o fósforo, tal a veemência do libelo da imprensa contra aqueles assassinos e contra a geração de responsáveis por esses precoces "tarados".
O libelo da imprensa nacional, de efeito chocante e coativo, serviu para aumentar o número de edições e exemplares dos jornais e revistas, que se dedicam a dissecar, com esclarecedoras e abundantes ilustrações fotográficas, as pútridas chagas da vida.
O presente caso dos meninos romanos devia merecer idêntico tratamento da imprensa. Os pequenos e anônimos heróis são iguais a milhares de crianças normais, que se criam nos lares brasileiros. Seu exemplo merece a mais ampla divulgação, pelo reflexo de bondade e humanismo e, principalmente, pelo que de edificante sugere à juventude.
Si a responsabilidade da formação de sadios jovens cabe à família, aos grupos sociais de influência, não é menos verdade que a midia exerce poderosa força nesse campo educacional. Os efeitos de sua ação moldam personalidades e criam exemplos. Que se pode esperar de uma coletividade sufocada por uma imprensa ávida de sensacionalismo, por que preocupada em vender suas edições?