Usina de Letras
Usina de Letras
159 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62270 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10381)

Erótico (13573)

Frases (50661)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4778)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6204)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Infantil-->O miado do pato -- 27/11/2001 - 21:45 (ROSANGELA TRAJANO DA SILVA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Olá, criançada! Eu sou o pato mais bonito do mundo, sabiam? Olhem para as minhas asas; quando vôo, faço dezenas de acrobacias! Canto que é uma beleza, querem ouvir?
- Quá, quá, quá, quáquáquá...
É, eu sou um pato todo metido: entro na cozinha de Isaura, a minha dona; só como em prato limpo para não pegar doenças; e só ando de botas. Tão vendo como eu sou chique? Ah! Mas tem uma coisa que vocês precisam saber: eu era um pato meio invejoso. Vocês sabem o que é a inveja? Não é uma coisa boa, mas, um dia, eu aprendi a lição e deixei de ser assim. Pois bem, vou lhes contar como me tornei um pato bonzinho, chique e sem ficar de olho grande nas coisas dos outros bichos. Olho grande se parece com a inveja: para quem não sabe, é desejar as coisas alheias só para dizer que também tem, mas sem nem gostar delas.

Certa vez, invadi a sala-de-visitas de Isaura. Nesse dia, eu passei do limite. Sei lá, fiquei curioso pra saber de onde vinha uma canção tão bonita. Fui entrando, entrando e, de repente, me vi numa enorme sala cheia de quadros pendurados nas paredes, um tapete vermelho bem grande no meio da sala, uma vitrola antiga onde rodava o disco da canção que ouvia, e poltronas belas e confortáveis! Até aí, tudo bem; só que, de repente, vi o gato Serafim todo manhoso deitado numa das poltronas, sobre grandes almofadas, bem à vontade, parecia o dono da casa.

Pensei comigo: ora, como é que esse gato pulguento pode ficar aí todo cheio de luxo? E eu, lá, naquele quintal cheio de cobras, lagartos e minhocas. Isso não tá certo, vou agora mesmo reclamar. E saí bravo como uma fera. Balançando meu bumbum de um lado para o outro, lá ia eu, de peito pra frente, cabeça bem levantada, atrás de Isaura, que vivia a paparicar aquele gato que nem sabia caçar ratos. Digo isso, porque vi muitas vezes os ratos passarem a perna nele, fugindo com ratoeira, queijo e tudo o mais.

Chegando em frente a Isaura, olhei para ela e fiz: quá, quá, quá. Essa é a linguagem dos patos, vocês já escutaram um pato falar? Já sei a resposta de vocês: "Patos não falam." Pois eu lhes digo: Pato fala sim, senhor. Aliás, todas as coisas falam, mas falam da forma delas. Mas voltemos à história. Nem foi preciso fazer muito quá, quá, quá... para Isaura, ela logo percebeu a minha presença. Estava sentada, na varanda do terraço, a tricotar.

Aproximou-se de mim e, toda melindrosa, foi logo dizendo: - Patinho, o que você tá fazendo aqui? Coitadinho, deve tá com fome. Vamos, vou colocar comida para você. - E lá foi ela me levando para o quintal novamente, jogando milho por todas as partes. Ora, eu não tive nem a chance de falar sobre o luxo de Serafim. Ela me trancou naquele chiqueiro velho, onde as minhocas viviam a sorrir da minha cara, porque todas às vezes que eu ia tomar banho naquele lago de meia tigela, só faltava me afogar. Também nunca vi um tanque de cimento apertado servir de lago para pato! Pato tem é que ficar se deliciando nas águas límpidas de um grande lago, conversando com o sol e ouvindo a sinfonia do vento... isso sim que é vida, não a minha.

Desde aquele dia, fiquei a observar o gato Serafim. Isaura, às vezes, trazia ele nos braços para ver se as galinhas tinham colocado ovos. Serafim era tão bobo que nem sabia subir em árvores e muito menos em telhados. Também pudera, só vivia trancado naquele casarão: a comer do bom e do melhor; a dormir sobre lençóis de seda; a usar xampu e sabonete feitos especialmente para gatos; a passear de carro pela cidade com Isaura; conhecia o cabeleireiro dela e até a manicure!

Cada dia que passava, eu sentia vontade de tomar o lugar de Serafim. Já estava tão perturbado com tudo aquilo, que em vez de fazer quá, quá, eu tentava miar, e ficava cada vez mais rouco; o desejo de tomar leite era tão grande que não comia mais, parecia um pato doente, todos falavam da minha feiura; vivia a caçar ratos, querendo mostrar a Serafim que era melhor do que ele. Meninos e meninas, que coisa feia eu estava fazendo! Eu não só queria ser igual a Serafim, eu queria ser melhor do que ele. Ficava danado de raiva ao vê-lo debruçado na enorme janela de vidro da casa. Era uma coisa mais ou menos assim: sentia muita revolta, vontade de ir lá e dizer um monte de coisas para ele, sempre lhe virava a cara quando passava por mim uma vez ou outra e desejava muito que alguém o levasse para bem longe dali. Sabem, crianças, isso é muito ruim, não devemos desejar o mal aos outros nunca, nem mesmo quando nos aborrecemos com alguém . A tudo isso que eu sentia os homens dão o nome de inveja ou, se vocês quiserem, podem chamar de olho grande também; sei la, chamem do que quiser. Eu não quero que vocês sintam isso. Logo verão que tenho razão no que digo. Se as pessoas têm coisas que gostaríamos de ter, devemos ser felizes por elas. Quando ficamos felizes pelas outras pessoas, os nossos corações ficam cheios de amor e bondade.

Um certo domingo de sol, eu resolvi me aventurar novamente na cozinha de Isaura. Lá estava eu, meio pato e meio gato. Quando menos esperava, apareceu a cozinheira e me viu bem na hora em que eu experimentava o leite de Serafim. Acho que ela pensou que estava ficando louca, ou era eu o louco... bem, não sei o que pensou, só sei que ela deu um salto pra cima de mim com aquele corpo pesado, seus braços gordos e enormes me agarraram, e eu comecei a espernear e a fazer quá, quá, quá....entrei em desespero quando ela olhou para a minha cara assustada e disse:
- Já que a dona Isaura quer comer pato hoje, esse aqui tá perfeito. Vai pra panela agora mesmo.

De tanto medo, fiz cocô e sujei o chão da cozinha. A cozinheira ficou danada comigo. Meu Deus, eu precisava me livrar dela, com tanto pato gordo lá fora, por que justo eu, um pato magro e com cara de doente? Eu precisava de ajuda. Enquanto me segurava com uma mão, ela colocava a panela d água no fogo para me depenar.

Naquele momento, eu já me despedia do mundo. Lembrei de coisas que pensei não gostar delas: das minhocas, do lago de cimento e até do Serafim. Sentiria saudades de todos. Começava a chorar por tudo de ruim que tinha feito, estava arrependido das minhas peraltices. Quando Isaura entrou na cozinha toda alvoraçada a procurar por Serafim. A cozinheira imediatamente me soltou, e foi ajudar Isaura a procurar o pobre gatinho. Ouvi quando ela disse que ele tinha desaparecido fazia horas. Ufa! Serafim, sem saber, tinha salvado a minha vida. Fiquei tão feliz que corri para me juntar aos outros patos. Êpa! Mas o que tinha acontecido com Serafim? De longe, eu só via as duas andarem de um lado para o outro a chamarem o nome dele, e isso durou cerca de três horas. Nada de Serafim. Comecei a me preocupar, porque mesmo ele não sabendo que tinha salvo a minha vida, eu era grato a ele.

Saí a procurar por Serafim. Estava anoitecendo. Isaura chorava desesperada, a cozinheira já tinha vasculhado tudo quanto era buraco, telhado, árvore, embaixo, em cima e dentro dos móveis e nada do gato. Resolvi dar uma volta novamente pelo sítio, e ouvi um miado baixinho e cansado. Ouvia o miado, mas não sabia de onde vinha, só sabia que estava cada vez mais fraco. Serafim estava em apuros. Foi quando me aproximei de um velho poço que tinha no sítio, e vi o pobre do Serafim já quase sem vida a lutar contra a água. O que fazer? Não tinha tempo para pensar. Ouvi passos se aproximarem e a voz da cozinheira a chamar por Serafim. Mas ele já não tinha mais forças para miar. Então eu me pus a imitá-lo, e comecei a miar fortemente. Era um miado horrível, assustei as aves e todos os outros bichos que se preparavam para dormir. Olhava lá para o fundo do poço e via o desespero de Joaquim, aí era que eu miava mais e mais. Então elas chegaram e me viram a miar, olhando desesperadamente para o poço. As duas mulheres se aproximaram e sem comentarem nada, pois os meus miados pareciam ter-lhes falado tudo, correram para o poço. Isaura jogou uma lata que tinha uma corda amarrada, e conseguiu resgatar Serafim. O gatinho estava quase sem vida. Elas pegaram-no e levaram-no para casa. Mas, antes de irem, Isaura olhou para mim e falou o seguinte:

- Não sabia que patos miavam, mas sempre soube que, para salvar uma vida fazemos qualquer coisa. Patinho, você até que mia bem. Parabéns, meu herói.

Ela passou a mão na minha cabeça e mandou a cozinheira me levar junto com elas. Tive medo da mulher, mas ela olhava para mim com tanta delicadeza, até comentou baixinho:

- E pensar que quis fazer de você o almoço do dia. Desculpe, Patinho.

Daquele dia em diante passei a ser tratado com mais respeito e admiração por todos da casa. Ganhei lugar na poltrona da sala, ao lado de Serafim, e nos tornamos grandes amigos.

É, amiguinhos, nada de inveja. Devemos gostar dos nossos amigos, e até querer ser igual a eles. Mas não
deixá-los de amar, só porque têm coisas que a gente não tem. Há uma coisa que todos nós temos: o amor. E, com amor, tudo se conquista.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui