Em 29 de Setembro de 1945, no jornal AS FLORES, publicava-se um poema dedicado “Ao ignorado poeta José Luís de Serpa”. Em 6 de Outubro seguinte, na primeira página do mesmo jornal, outro poeta florentino dirigia a Luís de Serpa palavras de muito apreço pela sua criatividade poética:
“Porque ocultais, pois,
De maneira tão modesta,
Cantor das musas que sois,
Vosso estro....?”
E o autor do poema, que trazia o título de SUBLIME ARTE, continuava queixando-se duma certa obscuridade mais ou menos consentida que então envolvia a obra poética de Luís de Serpa. Essa obscuridade manteve-se ao longo de toda a vida de Luís de Serpa e, infelizmente, ainda se mantém.
É certo que houve momentos de fulgor em que o véu de desconhecimento público parecia ter-se rasgado para expor a uma notoriedade merecida o obra poética de Luís de Serpa.
Mas esses momentos foram raros e breves.
Um deles aconteceu com o prémio atribuído ao poema SANTA MARIA, quando em 1946, Luís de Serpa participou nos jogos florais do Instituto Cultural de Ponta Delgada, ao comemorar-se, salvo erro, o 4º centenário da cidade.
Um outro momento de notoriedade aconteceu, já depois da morte do poeta, com a inclusão de dois poemas na ANTOLOGIA POÉTICA DOS AÇORES, editada em 1979 pela Secretaria Regional de Educação e Cultura. Estes dois poemas, que aparecem também publicados no jornal AS FLORES, intitulam-se NINHO DE AMOR e CARTA DESABAFO.
A nota do profícuo antologista Ruy Galvão de Carvalho, que acompanha estes dois poemas, é elucidativa e eu peço vénia para a transcrever aqui:
“Luís de Serpa (José) nasceu na ilha das Flores a 5 de Novembro de 1907 e faleceu em Ponta Delgada a 26 de Abril de 1964. Professor do Magistério Primário, durante os anos em que ensinou na sua terra natal, foi colaborador e redactor do jornal AS FLORES tendo, nesse jornal de modesta apresentação gráfica, publicado os seus primeiros poemas.
A sua obra poética não se encontra reunida em volume. Está, portanto, ainda inédita, e é pena, pois trata-se de poemas vindos do íntimo da alma, intensamente sentidos, de um lirismo espontâneo e confidencial.”
É o desejo de ver reunida em volume a obra poética de Luís de Serpa que me leva a deixar aqui uma palavra de gratidão e um apelo. Gratidão. em particular, aos Senhores Celestino Flores, João António Gomes Vieira, José Arlindo Armas Trigueiro, à D. Regina Meireles... e a tantos outros que, de algum modo, me tem encorajado.
Um muito obrigado ao Senhor Renato Moura que me facilitou, duma maneira tão simpática, a consulta da sua valiosa colecção do antigo jornal AS FLORES em que Luís de Serpa publicou alguma da sua poesia.
Queria deixar também um apelo a todas as pessoas que tenham conhecido José Luís de Serpa, especialmente aqui nas Flores, ou em S. Miguel, e que possam ter qualquer informação que ajude a encontrar e a divulgar a sua dispersa e ignorada obra. É um esforço imenso e que terá de ser de todos aqueles que privaram com o mestre, com o poeta, com o amigo que foi José Luís de Serpa. A conseguir-se a publicação em volume da sua obra, levar-se-ia a cabo um acto de justiça à sua memória e um enriquecimento das letras das Flores e dos Açores.