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Artigos-->Um pouso no inferno -- 30/08/2005 - 15:41 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Quem já esteve próximo do reino de Hades – na mitologia, o Satanás dos gregos – saberá muito bem do que vou falar. Como Zeus pôde recriminar certos deuses ao mundo das sombras? Talvez alguns pudessem tornar-se anárquicos, fora dos padrões formais da escola do Todo Poderoso. Deus pode ser mau, dependendo do conceito que lhe concede. No geral, é visto como um ser muito piedoso. Não é o caso dos homens, em particular,os EUA. Ultimamente, violar os direitos humanos tornou-se prática comum naquele país, principalmente quando se fala em latino-americanos, europeus do leste, asiáticos, africanos e tudo aquilo que eles detestam.



Antes de tomar as dores do exemplo a seguir, eu questiono: o que responde o Itamaraty pela morte de nossos pátrios, quando em situação ilegal em um país estrangeiro? Não me digam que a responsabilidade individual é a lei seca. Nossos cidadãos, mesmo que em circunstâncias diplomáticas complicadas, não podem ser tratados como marginais, independente dos motivos. E a Declaração Universal dos Direitos Humanos? Serve pra quem?



Nome: Francisco Ricardo.

Idade: 25.

Natural de Araguatins, extremo norte do Tocantins.

Deportado dos EUA, quarta-feira, dia 02 de agosto de 2005.

Concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal do Tocantins, edição nº 3.442, de domingo, 07 de agosto de 2005.



Já estava no aeroporto de Palmas, quando a equipe de reportagem o contatou. Estava muito abatido, cançado, com leves alterações de humor, o que caracteriza uma pessoa que passou por um recente processo de trauma.



“Eu cheguei no dia 08 de junho, pela manhã, e no dia 12 de junho já estava com a polícia norte-americana. Teve um policial que falou “fuck ( foda-se ) para o Brasil”, você sabe o significado. Passaram a gente para uma sala fria, ar-condicionado na temperatura entre 15 e 18 graus centígrados”.



Francisco contou que a polícia estadunidense é extremamente agressiva com os imigrantes. Para se ter uma idéia, segundo seu relato, os departamentos onde são levados os estrangeiros lembra um QG nazista. Qualquer semelhança não é mera coincidência. Crianças, mulheres e jovens são algemados e ficam em celas, como prisioneiros. Francisco permaneceu ainda 30 horas sem comer. As refeições do presídio eram feitas à base de pão seco e água morna ( servindo a cada cinco horas, uma porção de legumes e carne mal passada, uma espécie de sopa para os “cucarachas”).



Mas afinal Francisco, como você foi se meter nessa?



“Vendi tudo que tinha, juntei um dinheiro e resolvi ir pra lá. Um primo meu, que foi primeiro, disse que tava bem, mandando dinheiro pra família e tal. Aí eu animei. Tinha um oficina de motos, casa, carro. Vendi tudo para tentar a sorte lá. Fui através de um coiote. Você paga um valor antes de sair do Brasil, quando chega no México, já tem um coiote te esperando”.



Pensou em voltar?



“Não pode. Depois que você está no México, você passa o dinheiro e entrega para um coiote, você não pode pedir para voltar. Ou você fica com os coiotes ou eles te matam ali mesmo. Ou você paga a polícia para te passar, US$ 100,00 por cabeça. A polícia de lá é corrupta.”



O que Francisco não sabia, é que o Congresso estadunidense faz vista grossa quanto aos meios corruptos de “negociação” dos deportados. Eles sabem o que querem. Imigrante não gera imposto. É claro que uma grande quantidade de atravessadores possuem relações criminosas com o FBI. Lembrem-se que os estadunidenses não limpam banheiro e nem lavam pratos. Os escravos do século XXI fazem certos trabalhos com maestria. Claro que há um consentimento econômico interessante com seus vizinhos do sul.



“Teve um coiote que fugiu e eles mataram o outro pelas costas. Pegaram um saco preto, colocaram o corpo em cima da caminhonete e, chegando na prisão, eles encaminharam para outra sala, que não sabemos para onde que foi levado o corpo”.



O governo brasileiro precisa cobrar das autoridades competentes sobre os assassinatos. São filhos desse país!



Francisco fala que na tentativa de atravessar o deserto a pé, uma criança e uma mulher morreram. Conta ainda, que um dos coiotes estuprou uma jovem. O marido levou um tiro na cabeça quando descobriu e tentou reagir. A criança ( que Francisco não revelou a idade ) foi jogada em um rio, pois chorava demais. A mulher morreu por problemas ocasionados pela desidratação. Estava no deserto.



Francisco gastou na empreitada aproximadamente R$ 20.000,00 reais. Não realizou seu sonho. Pensou que iriam matá-lo a qualquer momento, pois a hostilidade da polícia estava acompanhada de constantes pressões psicológicas. Disse que se arrepende amargamente do sonho frustrado de tentar a vida nos EUA. O caso de Francisco é apenas um, em milhares de outros, fazendo parte da vida de brasileiros que buscam melhores oportunidades de emprego e vida no exterior. A foto de sua filhinha e esposa ajudava a confortá-lo durante seu pouso no inferno. Hoje, está morando na casa de seus pais, desempregado. Seu maior sonho agora, é recomeçar a vida. Longe dos EUA. Também pudera.



Another world is possible...

Justícia, trabajo, vida e dignidad.













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