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Artigos-->Homem ou omem – Chichi ou Xixi -- 19/08/2005 - 09:38 (Sérgio Olimpio da Silva Viégas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Homem ou omem – Chichi ou Xixi



Sento na frente do computador, olho a tela em branco. No passado, eu corria os olhos pelo papel branco empunhando os lápis caprichosamente apontados, buscando uma crônica. para escrever. As ideias vêm e vão e a tela do computador continua em branco. Será que não sei escrever? Falta-me imaginação? Não. Qualquer das minhas mentiras de rua daria um conto ou uma crônica. O diabo não é a imaginação, é o papel mesmo.

Já fui médico e, também, padre em sonhos de menino. Quis ser eletrotécnico e acabei sendo alambrador. Na escola Técnica, estudei a lei de Lens na vida real pratiquei a lei de Lem-Trena métrica. Quis ser poeta, mas por eu ser indisciplinado, meus versos nunca tiveram nem métrica nem rima.

Beirando os sessenta descobri anos, descobri que poderia ter escrito poemas! Que poeta o mundo perdeu! Desde o tempo de escola, tentei ser escritor. Mas como, se nunca aprendi português? É vergonhoso, alguém pretender ser escritor, sem conhecer a própria língua mãe. Nunca consegui entender por que homem só é homem se tiver ‘h’, uma letra inútil e sem significado. Quando escrevo sobre o homem afeminado tiro-lhe o ‘aga’?

Nesta língua, há incompatibilidade entre letra e fonema. Eu não sei se trancei ou tranzei com a minha namoradinha. Ensinaram-me que após consoante ‘esse’ (por que não ‘ece), soa como ç. Na palavra ‘sexual’, aí, tenho outro problema sério, porque (por que porquê, ou por quê) eu não escrevo cecçual? Será que vai ficar mais secci com ‘x’? Tem de ser diferente.A prostituta não sabe se mexer é com “X” ou “CH” , que importa ela sabe que se não souber mexer, não importa o “X” ou “CH” ela não vai receber o caxe ( ou cache) Em camisa, ‘s’ soa como ‘z’; em sala tem som de ‘s’ que é equivalente ao de ‘ç’ em caça . Qual o significado dessa letra-camaleão além de indicar o plural?

Por falar em letra-camaleão, eu nunca pude descobrir qual a utilidade de ‘chis ou xis’, nem para escrever seu próprio nome eu necessito dele. Se riscarmos do alfabeto a letra ‘aga’, ela não vai ter utilidade nem em chichi, pois é xixi. Será que o ex-namorado fica menos regeitado se for ser com ‘jota’? O esterno será ficaria menos fora que externo? Ou o esterior ficara menos fora do que o exterior?

Quando Deus criou o mundo e a escrita o Diabo e os lingüístas criaram, os ‘chis’ e os ‘agas’, as ‘cedilhas’ misturaram-se com os ‘esses’ e este com o ‘z’; o ‘g’ com ‘j’ e todos se desajeitaram na tigela da ortografia.

Assim, eu não sei se vim de Bagé e fui para Lages ou se vim de Lajes e fui para Bajé. Por que viagem, substantivo, é com ‘g’, se o verbo viajar é com ‘jota’? Para complicar mais, o velho Diabo em parceria com os lingüístas meteram dois inúteis pontinhos em cima de algumas Letras, o tal ‘trema’. Para que o trema no ‘u’ de tranqüilo, se pode ser escrito perfeitamente Tran-cu-ilo, ou será que vai ficar mais agitado se tiver ‘Cu’? Como se justifica o trema, para aportuguesar as palavras derivadas de Müller, vamos aportuguesar tudo, amilerado e não amüllerado. Aí, vem a complicação. Se expulsarem esse impostor da língua, eu passarei a comprar um quilo de Linguiça.( este testo foi escrito antes da nova ortografia e a gora eu não sei o que como, lingúiça ou lunguiça)

Por falar em assento, como fica a cadeira? Esse é o grande nó quando e onde usar acento. Eu não sei se ao tirar o pêlo do porco eu pélo o porco ou pelo o porco. Certa feita em Portugal, recebi um bilhete de um amigo convidado-me para comer todas. Todas quem? Maliciei; jantei cedo por medo de uma congestão e parti para o ataque. Cheguei no apartamento dele e descobri que havia sido convidado para uma passarinhada. Havia uma bandeja cheia de tódas assadas recheadas com toucinho.

Também no acolherar das letras, sempre me perdi, doble ‘erre’ é a única dobradinha justificável. Dois ‘esses’ para quê? Se o ‘sedilha’, ou ‘ç’ tudo resolve. Mas se colocarmos cada um no seu lugar, este também é supérfluo. Tem ainda, ‘c’ soando como ‘k’ e até ’x’ com som de ‘ks’, como em transexual, que tal? Falei tanto de ‘s’, mas ao ler não consigo distinguir o ‘êsse’ letra do ‘esse’ pronome demonstrativo. Surpreendo-me ao trazer, lá da cacimba, da minha memória esse termo, pois a última vez a usá-lo foi há vinte anos num vestibular.

Uma vez, um diretor cobrou de um engenheiro de campo por ter escrito Maçambará com ç (a meu ver, a forma, realmente, correta), mas as regras do bom português dizem que se escreve com dois ‘esses’. Existia uma justificativa para tal, Maçambará é uma palavra indígena. Que eu saiba os índios desconheciam a escrita.

Por que para escrever corretamente, eu tenho que conhecer a língua Tupi Guarani, ou quíchua, ou gloss, ou grego, ou aramaico, ou, mesmo, latin?

Remeto-me ao problema dos estrangeirismos, onde se escrevo uma coisa e se lê outra. Por exemplo, tenho um vizinho que se chama ‘Fachinelo’, ele fica furioso quando lhe chamo, tal qual se lê. Ele se diz ‘Faquinelo’. Ao chegar em casa, minha esposa briga comigo quando lhe peço que me alcance os ‘quinelos’, Eu tenho amigos da família Macagnan que se dizem ‘Macanham’. Quando fui a Santa Catarina, em um tendinha de beira de estrada, encontrei um vinho Colonial, ‘Montagna’, prontamente chamei o seu fabricante pelo nome como aprendi ‘Montanha’, então fui informado, mal-educadamente, que seu nome era realmente ‘Montagna’, como se escreve. Eu estudei português vinte e dois anos. Saí da escola sem nada saber. Que importa eu estudei inglês oito anos nada me ensinaram. Quantos alunos de segundo grau, sem o auxilio de cursinho saem falando Inglês? Recentemente encontrei um menino, de quinze anos de idade, com dois de estudo em inglês, em um cursinho, trabalhando de interprete. Todos os meus professores adoravam português. Como “Semi Deuses” do conhecimento da língua sentiam-se acima da necessidade de aprender como ensinar. Um dia tive a felicidade, em Alegrete de ter como professora uma adoradora de ensinar português. Lila, simplesmente Lila, não sei do que. Quando entrava em aula todo o seu corpo transpirava o prazer de ensinar. Com ela aprendi o pouco que sei de português.

Depois de tantas brigas com a ortografia e a gramática, rompo o namoro com o monitor do meu computador e tomo uma a drástica decisão: passo a direita sobre o “ratinho”, com ele guio a flechinha até o ícone iniciar, procuro desligar e dou o comando. Voltarei a escrever, se o ‘Mestre dos Mestres’ me der uma chance de retornar após a grande iniciação e, lá no primeiro ano do primário, quando estiver começando tudo de novo, me dedicar ao estudo da minha língua matrie.



 


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