Perdoem-me pela extensão
e sobretudo pelo poema
que é tolo, piegas,
só vale pela fiel fotografia
do sentimento da ocasião.
Foi escrito na adolescência,
ditado por uma paixão mal resolvida,
que durou...
Por assim dizer
maria da graça almeida
Neste outono desfolhado,
inda entôo um breve canto,
que me leva ao encontro
dos amores do passado,
onde porções e pedaços
mantenho desembrulhados,
pra exibir qual foi o naco,
de mim, cedo arrancado.
Revelação
maria da graça almeida
Se desta vida fores primeiro,
nada haverei de fazer.
Emudecida , seguirei teu féretro
e em teu ataúde colocarei a mais bela flor,
que um dia por aqui inda irá aparecer.
Duas gotas cairão e eu nem as disfarçarei.
Não mais precisarei esconder
os males que em vida de ti recebi .
Não porque tu quiseste,
mas porque eu consenti.
Porém, se eu partir primeiro,
ah, aí sim bem saberás o quanto te amei
e os mares que por ti deitei.
Saberás das noites insones
em que louca perambulei,
provando com dor
migalhas do amor.
Verás o tamanho da adaga
que me feriu o coração,
ao saber-te em súbita
e definitiva união.
Tocarás meu vestido amarelo
e nele verás as marcas da tua partida,
nas nódoas doloridas, das lágrimas caídas.
Somarás o tempo em que me mantive
contigo comprometida,
sem que te tivesse nem mesmo em retrato,
sem que meu coração ao menos me alertasse,
para o engano dos meus atos,
tampouco para meus desavisados passos.
Após a minha despedida,
ouvirás esta cantiga,
na voz da mesma amiga,
que sem nunca me negar favores
acompanhou-me pela trilha das dores.
Sei que ela atenderá o derradeiro pedido,
posto que inúmeras vezes
amparou o meu amor desiludido.
Ouvindo-a , enfim, meu rapaz,
não chores, jamais,
mantém secos os olhos
e engole cada uma das lágrimas,
com o pão do desamor
que tua insensibilidade amassou,
pois as mágoas, em gotas convertidas;
os choros desta insana lida;
as aflições liquefeitas já chorei eu,
desperdiçando muito tempo da vida
que um dia Deus me concedeu.
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(O amor era tanto
e do mesmo tamanho
a não correspondência,
que não me contentei
e escrevi inda mais,
porém jamais os enviei,
aliás, creio que ele
nem sabe que escrevo,
tampouco desconfia
do quanto o amei)
Julho de um ano especial
maria da graça almeida
Eu tão criança,
tu já rapaz...
logo chegaste,
foste capaz.
Deste-me a rima
que me domina,
pus-me em teus versos,
doce e menina.
Eu me apaixono,
tu me abandonas,
sem emoção,
mágoa ou razão!
Esse teu gesto
ficou indelével
feito tempero
tão pouco leve
e eu desbotei
minha imagem
em teu espelho
sem paisagem.
Quando te vejo,
menos distante,
eu, confiante,
fico à vontade,
pois, certamente,
perceberás
que inda no peito
trago perfeito,
o dom de amar.
maria da graça almeida
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