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Artigos-->Miguel Calmon e a Bahia -- 16/08/2005 - 17:21 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Miguel Calmon e a Bahia





A timidez de Miguel Calmon e sua aversão a qualquer tipo de promoção pessoal terão impedido, até agora, que a Bahia reconheça nele uma das mais importantes personagens de seu desenvolvimento dentre quantos, nos últimos 30 anos e de maneira permanente, contribuíram para decifrar e superar o "enigma baiano" de que falava seu amigo Rômulo Almeida.

Na verdade, não há presença local que, de forma consciente e persistente, mais tenha contribuído para propiciar à Bahia as condições de desenvolvimento reclamadas por este século, cujo principal desafio é o da "administração da sociedade industrial".

A esse objetivo dedicou Miguel Calmon sua vida e sua capacidade, onde quer que a exercitasse - no setor público ou privado - a tal ponto que as consumiu prematuramente.

A importância de sua influência e seu campo de ação, contudo, não são do conhecimento público, salvo aquelas iniciativas tomadas quando no exercício de funções públicas, como recentemente na condição de reitor da Universidade Federal da Bahia.

Sua mais importante contribuição terá sido, sem dúvida, a de colocar "seu" banco a serviço da Bahia, muito mais do que de seus próprios objetivos financeiros.

Havendo trabalhado muito tempo sob sua direção, bem me recordo de quanto muitos de seus companheiros de diretoria criticavam seu "exagerado" espírito público.

Quando a Bahia ainda vivia um estágio de administração feudal já Miguel Calmon apregoava "a responsabilidade social de toda empresa, que se sobrepõe a seus objetivos meramente lucrativos", como costumava dizer. E fazia com que seu banco praticasse tal filosofia.

E, não apenas isso. Com seu exemplo, influenciou os estabelecimentos congêneres que, no seu encalço, terminaram por cobrir com suas redes de agências todo o Estado da Bahia.

Na aplicação do seu princípio, colocou o Banco a serviço das comunidades onde operava. E a tal ponto que, em determinadas épocas, concorria com o Estado na solução dos problemas de serviços públicos de dezenas de cidades do interior, havendo anos em que mais fez por esses municípios do que o poder oficial.

Assim, em muitas cidades, o primeiro mercado municipal, o primeiro serviço de águas e esgotos e de energia elétrica, a pavimentação das vias públicas, o matadouro, o primeiro hotel de categoria foram instalados graças aos financiamentos que, a longo prazo e juros baixos, colocava à disposição de seus prefeitos, muitos dos quais jamais foram pagos... Até ponte o "seu" Banco construiu, e diretamente, afim de que propiciasse a criação de um novo bairro residencial que decidira oferecer à cidade por que tinha especial apreço.

E as estradas, abertas e pavimentadas com os recursos do caixa de sua instituição. E os primeiros ônibus elétricos de Salvador, e tratores e... E tanta coisa mais, seja aquilo que o dinheiro podia diretamente criar, seja o que - através de muitas outras pessoas e instituições - podia motivar e influenciar para que fosse feito.

As primeiras tentativas no sentido de abrir a mentalidade dos homens de empresa da Bahia aos modernos princípios da administração de empresas foram feitas por ele, já pelas idéias que procurava divulgar, já pelo exemplo que dava em seu Banco. Nessa linha de ação, instalou o Escritório do Ponto IV em Salvador e deu início a um sutil programa de treinamento dos homens que detinham ou viriam a deter a direção das empresas de Salvador.

E também nesse campo foi um precursor e um excepcional realizador. Transplantando para a atividade empresarial sua experiência de professor, exerceu a mais decidida influência no sentido de criar nas empresas o sentimento de responsabilidade pela formação e aperfeiçoamento de seu pessoal. No "seu" banco, sempre reservou a melhor atenção pessoal a esse problema, fixando política altamente benéfica ao desenvolvimento da organização. Hoje, os mais altos postos do banco são ocupados por funcionários que percorreram as melhores instituições de ensino e treinamento do país e do exterior.

No setor da industrialização, terá sido um dos primeiros a compreender sua importância para o desenvolvimento de nosso Estado.

Ainda através do Banco Econômico, mas principalmente por sua ação pessoal, estimulou a instalação de indústrias na Bahia, sendo incontáveis aquelas surgidas - e em atividade - em decorrência de seu esforço,

Empresas pioneiras como Aratu, Fagipe, Poliflex, Brasilgás, Ceramus, Companhia Química do Recôncavo, entre muitas outras, aqui se fixaram em função do seu apoio e de seu incentivo,

Na qualidade de conselheiro informal de quase todos os governos baianos, dos últimos 20 anos, foi sempre um estimulador de iniciativas que visavam ao desenvolvimento do Estado,

No governo Regis Pacheco propôs a constituição de uma equipe permanente de técnicos em desenvolvimento econômico que se encarregaria dos estudos necessários ao conhecimento das potencialidades do Estado. Conquanto aceita, a idéia não foi levada a cabo, embora seu propugnador houvesse iniciado o recrutamento dos especialistas no sul do país e garantido o financiamento para remuneração da equipe,

Não obstante, na qualidade de presidente de sua Comissão Organizadora, participou da criação da C.P.E, juntamente com Rômulo Almeida, no governo Antonio Balbino, e assumiu sua direção durante certo período, havendo custeado, com seus próprios recursos as primeiras despesas dessa entidade e mantido, por sua conta, o Escritório da C.P.E. em São Paulo.

Finalmente, nos últimos anos, criou em seu banco um escritório para elaboração e execução de projetos industriais - a Promotora Econômico – empresa que muito tem feito para a fixação de indústrias na Bahia e no Nordeste brasileiro.

No campo da educação realizou um notável e silencioso trabalho de pesquisa e análise da realidade do ensino baiano, com vistas à reformulação da Universidade Federal da Bahia. Nesse grandioso e pertinaz trabalho trouxe à Bahia eminentes especialistas em educação superior, do país e do exterior, e propiciou o mais amplo debate em torno da idéia e da filosofia da Reforma Universitária.

Através de escritório especializado, elaborou um projeto destinado à implantação dos institutos básicos da Universidade, com o qual pleiteou e obteve do Banco Interamericano de Desenvolvimento os recursos necessários à sua implantação nos próximos cinco anos. Provavelmente o primeiro da espécie, no país.

Tão importante foi sua ação nesse setor que o Governo Federal, incorporando as principais teses de seu trabalho, institucionalizou a Reforma Universitária em todo o país e o Conselho de Reitores, por unanimidade, escolheu-o seu primeiro presidente.

Notável, ainda, embora também anônima, foi sua gestão à frente do Ministério da Fazenda, no curto Regime Parlamentarista de 1963. Precursor das grandes reformas, sua principal preocupação consistiu em dotar o ministério das condições indispensáveis ao seu moderno funcionamento. Com esse propósito, deu início ao processo da Reforma Administrativa do Ministério da Fazenda, implantada em 1965/66 e projetou a primeira grande alteração do Imposto de Renda, de molde a transformá-lo em tributo de justo significado social.

Assim foi Miguel Calmon, um pioneiro, um precursor e um notável realizador de novas idéias. Um idealista, de irrecusável espírito público, que se elevou sobre os de seu tempo.

17.05.67

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