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Artigos-->Escola Interativa -- 15/08/2005 - 11:34 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
1. O que é Escola Interativa?



Escola interativa é um programa do Ministério da Educação do governo Lula, implantado no início de 2003, pelo então ministro professor Cristovam Buarque. Com a palavra o Senhor Ministro: “Mesmo tendo o professor no centro do processo educacional, a escola não pode mais se limitar a ele e ao quadro negro. O Brasil precisar colocar sua escola no século XXI, e o Ministério da Educação – MEC lançou, no primeiro ano do Governo Lula, várias ações com esse objetivo, dentre elas:



a) Criação e implantação da TV Escola Digital Interativa – o desenvolvimento da escola digital, ao longo de 2003, pela equipa da Secretaria de Ensino a Distância, foi uma das maiores contribuições do MEC à Educação Básica no Brasil e em países pobres do resto do mundo. Essa tecnologia foi desenvolvida pela Secretaria de Educação a Distância/TV Escola do MEC, com patente registrada em nome do Governo. A execução do programa é possível graças a um convênio firmado com a Universidade Mackenzie, de São Paulo, permitindo a utilização do Laboratório de TV Digital e a infra-estrutura de transmissão via satélite daquela instituição.”



“O sistema criado pelo MEC permite integrar todas as escolas usando um sistema interativo via satélite. Já em 2003, as escolas brasileiras começaram a se integrar interativamente, sem necessidade de um sistema de telefonia, o que só será possível dentro de anos. Por meio do Programa Escola Interativa, cuja implantação teve início em dezembro de 2003, é possível unificar, pela primeira vez no Brasil, a qualidade da programação pedagógica nas 180 mil escolas brasileiras, independente do município, de sua renda ou seu isolamento geográfico. Isso a um custo reduzido, imediatamente, via satélite.”



“A Escola Interativa permite ao professor acessar programas das diversas TVs educativas, escolher o programa que deseja utilizar, gravá-lo para futura exibição e se comunicar com o MEC e demais escolas e TVs, tudo por meio de linha telefônica e da Rede Nacional de Pesquisa – RNP, sem necessidade de Internet. Já em 2003, a Escola Interativa começou a atender as escolas públicas de 18 municípios e os Núcleos de Tecnologia da Educação de sete estados. A meta prevista é atender todas as 180 mil escolas de Ensino Básico em quatro anos. A TVI permite a realização de cursos de formação continuada de professores em parceria com universidades e secretarias de Educação, com uma maior utilização do vídeo em aulas, que podem ser assistidas de acordo com a programação da escola, já que o conteúdo fica armazenado no próprio equipamento cedido pelo MEC.”



“A inovação da Escola Interativa fez com que esse projeto passasse a ser visto como alternativa para os países pobre do mundo. Muitos deles são países africanos de língua portuguesa, que manifestaram interesse em implantá-la, de maneira integrada com o Brasil, durante reunião promovida pela UNESCO em São Tomé e Príncipe, em janeiro de 2004.



b) Computador na escola – Já em 2003, houve aumento de 20% no número de escolas conectadas à Internet e foram instaladas 1.800 antenas em escolas de regiões de grande exclusão social, para conexão de alta velocidade Internet.”

c) Inclusão digital – Foi firmado um convênio com a Eletronorte para a instalação de ambiente tecnológico (computador, TV Digital e televisão), associado ao fornecimento de energia elétrica fotovoltaica (energia elétrica gerada a partir de captação de luz solar) em 582 escolas públicas das áreas mais carentes do Maranhão. A continuidade do programa vai permitir chegar a toda a região servida pela Eletronorte.”



2. A tecnologia na sala de aula



José Carlos Libâneo, em seu livro Adeus Professor, Adeus Professora? (2000, p. 39), afirma que “a escola continuará durante muito tempo dependendo da sala de aula, do quadro negro, dos cadernos. Mas as mudanças tecnológicas terão um impacto cada vez maior na educação escolar e na vida cotidiana. Os professores não podem mais ignorar a televisão, o vídeo, o cinema, o computador, o telefone, o fax, que são veículos de informação, de comunicação, de aprendizagem, de lazer, porque há tempos o professor e o livro didático deixaram de ser as únicas fontes do conhecimento. Ou seja, professores, alunos, pais, todos precisamos aprender a ler sons, imagens, movimentos e a lidar com eles. Kenski (1996, p.133) apresenta esse assunto de uma forma muito pertinente:



(Os alunos) aprendem em múltiplas e variadas situações. Já chegam à escola sabendo muitas coisas ouvidas no rádio, vistas na televisão, em apelos de outdoors e informes de mercado e shopping centers que visitam desde pequenos. Conhecem relógios digitais, calculadoras eletrônicas, videogames, discos a laser, gravadores e muitos outros aparelhos que a tecnologia vem colocando à disposição para serem usado na vida cotidiana.

Estes alunos estão acostumados a aprender através dos sons, das cores, das imagens fixas das fotografias ou, em movimento, nos filmes e programas televisivos (...) O mundo desses alunos é polifônico e policrômico. É cheio de cores, imagens e sons, muito distante do espaço quase que exclusivamente monótono, monofônico e monocromático que a escola costuma lhes oferecer.”



Libâneo (2000, p. 27) afirma que, “Nessa escola haverá lugar para o professor? Sem dúvida. Não só o professor tem o seu lugar, como sua presença torna indispensável para a criação das condições cognitivas e afetivas que ajudarão o aluno a atribuir às mensagens e informações recebidas das mídias, das multimídias e formas variadas de intervenção educativa urbana.”



“O que deve ser a escola em face dessas novas realidades? A escola precisa deixar de ser meramente uma agência transmissora de informação e transformar-se num lugar de análises críticas e produção da informação, onde o conhecimento possibilita a atribuição de significado à informação. Nessa escola, os alunos aprendem a buscar a informação (nas aulas, no livro didático, na TV, no rádio, no jornal, nos vídeos, no computador etc.), e os elementos cognitivos para analisá-la criticamente e darem a ela um significado pessoal.”



Para a professora Vani Kenski (2003, p. 68) “O ambiente educacional virtual não suprime o espaço educacional presencial. Ao contrário, ele o amplia. Os projetos de educação permanente, as diversas instalações e os vários cursos que podem ser oferecidos para todos os níveis de ensino e para todas as idades, a internacionalização do ensino – através das redes – criam novas dimensões para o acesso à educação, novas possibilidades de comunicação e agregação, novas oportunidades para o avanço na ação e na formação do cidadão que habita os múltiplos espaços da escola – e das suas múltiplas linguagens”. (grifo no original)



E acrescenta que “o mesmo tipo de rede pode ser também utilizado para a comunicação entre as várias instituições de ensino de um mesmo sistema escolar. Pode também servir para a articulação entre as escolas e outras instituições locais (como bibliotecas, museus, arquivos etc), além de proporcionar contatos com pessoas, grupos e associações regionais.”



Não deve haver dúvida sobre a discussão se a escola irá ensinar a manusear o computador ou ensinar com o computador. A proposta da escola interativa é que a escola ensine com o computador e demais instrumentos tecnológicos. Ensinar a manusear o computador é tarefa das escolas de informática ou de matéria específica.



O que não se deve questionar é a necessidade de reciclagem constante dos professores. Com as novas tecnologias da comunicação e informação – NTCIs, a reciclagem não se dá apenas na matéria lecionada mas também no manuseio dos novos equipamentos de áudio e vídeo. Na reciclagem tecnológica, o professor poderá escolher melhor os programas, softwares e equipamentos a serem utilizados.



Além da reciclagem em sua disciplina específica o professor também terá cursos de atualizações para compreender as novas tecnologias. Com a grande velocidade de mudança das tecnologias a tendência é exigir-se, na mesma velocidade, a atualização do professor. No modelo de escola interativa exige do professor constante aprendizagem e conhecimento lançamentos dos meios tecnológicos no mercado. A escola não pode prescindir dessa premissa pois os alunos, no afã de novas descobertas, estarão sempre acompanhando o que chega ao comércio.



Na escola interativa os alunos estarão em contato direto e constante tanto com os assuntos atuais como com alunos e escolas de outras cidades e países vizinhos ou alhures.



A demonstração da necessidade de atualização dos professores, e aqui nos reportamos aos professores mais experientes cabe lembrar-lhes que na década de 80 existiam bate-papos por telefone denominados “disque-amizade” - inesquecíveis para os pais de adolescentes quando chegavam as contas telefônicas -, que foram substituídos pelos chats e salas de bate-papos na internet. Na atual época virtual a escola não pode ignorar esses avanços sob pena de comprometer a sua credibilidade e o entusiasmo do aluno dentro da sala de aula. Cabe à escola ficar atenta aos anseios dos alunos com relação às inovações tecnológicas. Se a escola não acompanhar o desenvolvimento do aluno, a escola assa a ser chata e sem graça, desmotivante.



No espaço tecnológico virtual, alunos e professores se apresentam através de códigos, senhas e páginas virtuais individuais.



Como é grande a velocidade da tecnologia para produzir novos equipamentos, os alunos sempre ávidos por novidades, logo se inteiram do funcionamento e utilidade dos novos produtos. Na mesma velocidade a escola tem que se inovar e se aparelhar sob pena de tornar-se obsoleta por não transmitir conhecimentos novos.



As disciplinas serão atualizadas mais rapidamente, quase instantaneamente. O jornal das notícias do dia anterior serão velhos, passados. Através da internet as notícias serão divulgadas tão logo os fatos aconteçam, muito úteis para pesquisas de Geografia, história, Biologia, Matemática e outras.



Quando surgiram as primeiras teorias sobre NTCIs havia a preocupação – e com certo fundamento, se os professores seriam substituídos pelas novas tecnologias. Já estamos na segunda década convivendo com essas tecnologias e já sabemos que o professor jamais será substituído, mas será direcionado a novo conceito de desenvolvimento.



Não se imagina a escola sem a presença dos professores e alunos. Sempre existirá o professor de um lado e o aluno do outro. O que muda é a forma de contato, de interação. Não será mais o contato presencial, dois corpos na mesma sala física, mas será a presença de indivíduos interligados no mesmo instante, na mesma rede, mantendo os mesmos interesses.



A escola sempre foi orientada a aceitar a cultura que o aluno traz consigo, a entender e ampliar os conhecimentos adquiridos na família, na rua, pelos meios de comunicação. Na época atual a escola não pode ignorar os conhecimentos tecnológicos que o aluno adquire antes de chegar à escola, quer seja o uso do celular, da internet, do pager, do DVD e da tecla SAP etc.



Libâneo (2000, p. 62) acrescenta que “Outro posicionamento decorrente da análise do impacto das novas tecnologias da comunicação e informação – NTCIs na educação é o de descartar o papel da sociedade informacional. Numa sociedade caracterizada pela multiplicidade de meios de comunicação e informação, não teria lugar a escola convencional, a escola do quadro-negro e giz.”



47. A professora Vani Kenski, em seu livro Tecnologias e ensino presencial e a distância, citando Laurillard (1995), apresenta os papéis dos professores e do aluno em quatro diferentes tipos de ensino que podem ser desenvolvidos por meio dos diversos tipos de novas tecnologias de comunicação e informação.”



“No primeiro tipo, o professor se apresenta como o “contador de histórias” e pode ser substituído por um vídeo, um programa de rádio ou uma teleconferência, por exemplo. No segundo tipo, o professor assume o papel de negociador e o ensino se dá por meio da “discussão” do conteúdo aprendido em outros tipos de interações fora da sala de aula (a leitura de um texto ou de um livro, a observação ou visita a determinado lugar, assistir a um filme, por exemplo).”



“Uma terceira possibilidade exclui inclusive a ação direta do professor. Nesse caso, é o aluno que assume o papel de “pesquisador” e interage com o conhecimento por meio dos mais diferenciados recursos multimidiáticos. O aluno aprende “por descoberta” e ao professor cabe a interação final com o aluno, para “ordenar” os conhecimentos apreendidos pelos alunos nos outros espaços do saber.”



“A quarta e última modalidade de ensino é a que apresenta professores e alunos como “colaboradores”, utilizando os recursos multimidiáticos em conjunto para realizarem buscas e trocas de informações, criando um novo espaço significativo de ensino-aprendizagem em que ambos (professor e aluno) aprendem.”



“Espaço social por excelência, a sala de aula, nessa última perspectiva, pode assumir para si a perspectiva de interação com o conhecimento e com os atores do ato educativo. Assume também a função de ser o principal lugar em que se desenvolva a inteligência coletiva, como é defendida por Lévy (1994), em que ocorra “a negociação permanente da ordem das coisas”, da linguagem, do papel de cada um, do recorte e da definição dos objetos, da reinterpretação da memória social da comunidade.”



É indispensável o debate de que a escola virtual traz também o benefício da comodidade, do não estresse tanto do aluno como do professor. O professor, de sua casa, diante de um computador ligado à rede se livra dos congestionamentos do trânsito, dos riscos de acidentes e outros imprevistos. O tempo que seria gasto no trajeto casa-escola-casa o professor o dedica a si, a sua família, ao seu lazer ou reciclagem. O mesmo vale para o aluno. Integrado à rede o aluno não tem o compromisso de sair de casa muito cedo ou chegar tarde da noite. Se estiver impedido de ir à escola por motivo de doença ou viagem, ele poderá participar das aulas em tempo real, basta ter um computador e sua senha individual.



Corroborando esta idéia, o megaempersário Bill Gates em seu livro A empresa na velocidade do pensamento (2000, p. 368) afirma que “o aprendizado à distância também tem permitido que alunos retidos em casa por acidentes ou doenças acompanhem o ritmo de suas classes.” Se se afastar por muito tempo “...assim o aluno nunca deixa de ser um membro da classe.”



Assim como nas salas de bate-papos as comunidades se formam pelos assuntos que lhe interessam e se auto intitulam, tais como “não gosto de estudar” ou o oposto “adoro estudar”, “estou sem ninguém”, “adoro morar na praia” ou ainda “ligados em automóveis”, fenômeno idêntico acontecerá na escola virtual interativa.





Na escola interativa o computador não pode ser visto como um “modismo”, passageiro. Deve ser encarado como um projeto educacional complementar ao sistema atual de ensino. Também não deve ser estruturado para substituir o atual sistema de ensino, mesmo porque os principais atores – professor, aluno e conteúdo – serão os mesmos, apenas muda a maneira de um atuar sobre o outro.



Bill Gates em seu livro A empresa na velocidade do pensamento (2000, p. 372) “Para as escolas, é caro comprar PCs para todos os alunos, especialmente diante do fato de que os PCs se tornam obsoletos a cada três ano, mais ou menos. Por esse motivo, há o temor de que a distância entre as famílias que podem e as que não podem possuir PCs em casa crie uma importante diferença em termos de oportunidades.”



(Idem p. 374) Informa ainda que “um estudo recente, denominado “Powerful tools for schooling: second year study of the laptop program”, desenvolvido pelo pesquisador pedagógico norte-americano Saul Rockman, conclui que estudantes que usam regularmente os micros adquirem muitas aptidões. Eles escrevem com mais freqüência e melhor; aumentam a capacidade; trabalham com mais independência e também mais cooperativamente, baseiam-se com mais freqüência no aprendizado ativo e em estratégias pedagógicas; demonstram prontidão para a resolução de problemas e o raciocínio crítico; e manifestam aptidões de raciocínio de alto nível. Os números objetivos do estudo fundamentam-se em reações subjetivas dos professores: 66% disseram que os laptops aumentaram em seus alunos o raciocínio de alto nível; e 74% disseram que os laptops aumentaram em seus alunos a motivação e sua disposição para se concentrar no trabalho escolar.”



Como a cada dia esses bens estão mais disponíveis e acessíveis, a escola não pode ignorar os novos hábitos da geração atual e vindoura, sob o risco de tornar-se reativa quando deveria ser proativa na aquisição de conhecimentos.



Vani 77. Como o mercado tecnológico é bastante amplo e de rápida inovação, a professora Vani Kenski orienta que “cabe à equipe da escola (ou ao grupo de professores e alunos) a decisão sobre qual o melhor meio tecnológico ou quais as mídias mais adequadas para desenvolver o ensino, a fim de alcançar os objetivos previstos.”



E acrescenta que a escola deve se acautelar na hora de adotar o modelo escolhido pois “esse talvez seja, em termos de tomada de decisões sobre o projeto pedagógico da escola, um dos pontos mais decisivos. Para que a escola realize um ensino de qualidade é necessário muito mais do que possuir avançados equipamentos disponíveis. É necessário também muito mais do que a boa vontade ou submissão do professor às instruções dos técnicos que orientam sobre o uso dos computadores e demais equipamentos. É necessário muito mais do que os breves cursos de “introdução” aos programas e softwares que a escola dispõe para uso didático.”



EVPBG376. O estado australiano de Victoria está “empregando PCs para gerenciar processos administrativos, usando, por exemplo, o e-mail para disseminar documentos, memorandos escolares, extratos financeiros e imagens para suas mais longínquas escolas. Os administradores utilizarão software para detectar tendências de absenteísmo dos alunos, o que pode revelar problemas relativos à motivação. Os administradores planejam usar ferramentas digitais para facilmente comparar e contrastar tudo, inclusive resultados de provas por região, série ou tamanho de escola.”



No entanto não basta equipar a escola com um laboratório caro de última geração, se os professores não estiverem inseridos neste projeto. Segundo a professora Vani Kenski “é necessário, sobretudo, que os professores se sintam confortáveis para utilizar esses novos auxiliares didáticos. Estar confortável significa conhecê-los, dominar os principais procedimentos técnicos para sua utilização, avaliá-los criticamente e criar novas possibilidades pedagógicas, partindo da integração desses meios com o processo de ensino.”



Vani 85. Observa ainda que, “não podemos cair no “delírio tecnológico” (em que se apresentam opiniões como a de que “a partir do uso do computador na educação tudo se transforma, para melhor, e todos os problemas educacionais se resolvem”). Qualquer decisão em nível nacional deve vir acompanhada de um projeto de longo prazo. Deve, também, partir do Governo Federal para Estados e Municípios. Eis a razão da necessidade de engajamento da classe docente. Ainda há no Brasil a eterna luta de classes onde a classe alta usa todos os seus poderes, e influência, e não são poucos, para sufocar qualquer sinal de ascensão ou melhoria na qualidade do aprendizado das classes menos favorecidas.



Para os governantes o ganho com a escola interativa será a constante vigilância e posse dos dados estatísticos úteis para aperfeiçoamento e definição de metas governamentais. Com um sistema informatizado os governantes poderão dispor de dados estatísticos e qualitativos sobre o andamento da educação no país, no Estado ou no Município. De posse desses dados poder-se-ia traçar metas, ajustar as situações atuais, enfim dotar o governo de informações precisas e rápidas, o que não é possível com a atual política educacional.



EFBG231 As manifestações em favor da Escola Interativa não são preocupações apenas da classe docente, o megaempresário Bill Gates, dono da Microsoft, em seu livro A estrada do futuro afirma que “os grandes educadores sempre souberam que aprender não é algo que você faz apenas na sala de aula ou sob a supervisão de professores.”



E continua, “há quem receie que a tecnologia ira desumanizar a educação formal. Mas quem quer que tenha visto crianças trabalhando juntas em torno de um computador... ou tenha observado intercâmbios entre estudantes separados por oceanos sabe que a tecnologia pode humanizar o ambiente educacional... As corporações estão se reinventando em torno das oportunidades flexíveis proporcionadas pela tecnologia da informação; as salas de aula terão de mudar também.”



“O professor Howard Gardner, da Harvard Graduate School of Education, afirma que crianças diferentes devem ser ensinadas diferentemente, porque os indivíduos compreendem o mundo de diferentes maneiras... E recomenda que as escolas “se encham de aprendizados, projetos e tecnologias” para que cada tipo de aprendiz tenha o seu lugar.”



232 Com o advento da internet “qualquer estudante poderá gozar da conveniência de uma educação sob medida a preços de produção em série. Os trabalhadores poderão manter-se atualizados sobre as técnicas de seus campos de atividade.”



Às páginas 233, acrescenta que “A escola primária ou secundária média nos Estados Unidos está bastante atrás da empresa americana média no acesso à nova tecnologia da informação. Crianças em idade pré-escolar, familiarizadas com telefones celulares, bips e microcomputadores entram em jardins-de-infância onde o que há de mais avançado são quadros-negros e retroprojetores.”



Acrescenta que “Reed Hundt, presidente da Comissão Federal de Comunicações [Federal Communications Comission, ou FCC] dos EUA teceu comentários sobre isso. “Há milhares de prédios neste país em que milhões de pessoas não têm telefones, televisão a cabo e nenhuma perspectiva razoável de serviços de banda larga”, disse ele. “Eles chamam-se escolas.”



234. A seguir as palavras de Bill Gates devem ser analisadas por aqueles professores que ainda receiam em dividir a sala de aula com computadores: “Os alunos continuarão a freqüentar aulas, escutar os professores, fazer perguntas, participar em trabalhos individuais ou de grupo (inclusive em experiências práticas) e fazer lições em casa.”



236EF. “Quando um professor faz um trabalho excelente e prepara materiais maravilhosos, apenas suas poucas dezenas de alunos anualmente se beneficiam. É difícil para professores em diferentes localidades conhecerem o trabalho dos outros. A rede permitirá que os mestres compartilhem lições e materiais, de forma que as melhores experiências educacionais se disseminem.”



A escola não deve minimizar o interesse dos estudantes diante do computador. EFBG240 Tanto o adulto como a criança à frente do computador mantém a curiosidade “o que acontece se eu clicar aqui?” E clica. Ou seja, o computador não minimiza o aprendizado, não inibe a curiosidade.



Outro ponto favorável ao computador é que ele deixou de ser visto como obstáculo para aprendizagem. Os pais já não recomendam seus filhos a ficarem longe do computador. O computador já é bem visto no seio familiar tal qual a televisão e o rádio.



EVPBG367 No livro A empresa na velocidade do pensamento, (2000, p. 367), Bill Gates enaltece a presença dos computadores afirmando que “os PCs são parte da vida de cada professor na sala de aula, e não algo externo a esta. Eles usam o e-mail para se comunicar entre si sobre assuntos comuns. Não precisam esperar pelas reuniões do distrito, que ocorrem poucas vezes por ano. Podem apresentar uma questão a um colega e receber rapidamente a resposta. As pessoas talvez não percebam como os professores são solitários na sala de aula”, afirma Joe Kitchens, superintendente de Western Heigths. “Em sua maioria, eles permanecem atrás de portas fechadas o dia inteiro. Têm pouco ???? para compartilhar experiências ou interagir com outros professores. Há somente umas poucas ocasiões por ano em que eles conseguem se reunir com seus colegas. O e-mail elimina o isolamento.”



EVPBG377. O dono da Microsoft mantém o entusiasmo ao discorrer que “uma das mais progressistas idéias é usar os PCs para oferecer uma variedade de modos de aprender. Existem cerca de cinqüenta diferentes teorias que procuram caracterizar os estilos individuais de aprendizagem. A maior parte delas identifica atributos similares. Em termos simples: algumas pessoas aprendem melhor pela leitura, outras pela audição, outras observando alguém fazer uma tarefa, outras fazendo a própria tarefa. A maioria de nós aprende com algum tipo de combinação desses métodos. E todas as pessoas têm diferentes níveis de aptidão e diferentes personalidades e experiências de vida que podem motivá-las ou desmotivá-las para o aprendizado.”



A professora Vani Kenski, (2004, p. 19), lembra que “Muitos dos equipamentos e produtos que utilizamos em nosso cotidiano não são notados como tecnologias. Alguns invadem nosso corpo, como próteses, alimentos e medicamentos. Óculos, dentaduras, comidas e bebidas industrializadas, vitaminas e outros tipos de medicamentos são produtos resultantes de sofisticadas tecnologias.”



Como podemos deduzir, dificilmente nossa maneira atual de viver seria possível sem as tecnologias. Elas integram nosso cotidiano e já não sabemos vier sem fazer uso delas. Por outro lado, acostumamo-nos tanto com uma série enorme de produtos e equipamentos tecnológicos que os achamos quase naturais. Nem pensamos o quanto foi preciso de estudo, criação e construção para que chagassem em nossas mãos.”



À página 30 ela acrescenta: “Na atualidade, o que se desloca é a informação, seguindo o pensamento de Virilo (1993). E desloca-se em dois sentidos: o primeiro, o da espacialidade física, em tempo real, sendo possível acessá-la por meio das tecnologias midiáticas de última geração. O segundo, por sua alteração constante, pelas transformações permanentes, por sua temporalidade intensiva e fugaz.”



Vai32. “Em princípio, a revolução digital transforma o espaço educacional. Nas épocas anteriores, a educação era oferecida em lugares física e “espiritualmente” estáveis: nas escolas e nas mentes dos professores. O ambiente educacional era situado no tempo e no espaço. O aluno precisava deslocar-se regularmente até os lugares do saber – um campus, uma biblioteca, uma laboratório – para aprender. Na era digital, é o saber que viaja veloz nas estradas virtuais da informação. Não importa o lugar em que o aluno estiver: em casa, em um barco, no hospital, no trabalho. Ele tem acesso ao conhecimento disponível nas redes, e pode continuar a aprender.”



3. Os sindicatos e a política educacional



Falta à categoria dos professores, aos sindicatos e federações, mais união em torno das questões relacionadas à educação.



O jornal O Estado de São Paulo, na sua edição de 30/06/2005, publicou a manchete “Tarso quer distribuir laptops de UU$100 para alunos da 1ª série”. A reportagem informava que o Ministro da Educação, Tarso Genro, manifestou interesse em distribuir o laptop de US$100 para alunos da 1ª série fundamental das escolas públicas. O Ministro argumentou que “o laptop se enquadra perfeitamente entre o material escolar do qual somos distribuidores” e que “o laptop entra fazendo a síntese entre o material escolar e a oferta de programação e de conteúdo”.



Com a máxima vênia a Sua Excelência, a iniciativa do MEC seria abrangente se estes laptops estivessem conectados à internet. Sem esta conexão os laptops servem apenas para escrever (digitar) as aulas, não fornecem aos alunos a possibilidade de realizar pesquisas ou contatar professores e alunos da sua ou de outra escola.



A Secretaria de Ensino à Distância – SEED daquele Ministério fomos informados que o programa escola interativa foi desativado na gestão do ministro Tarso Genro “e atualmente não existe nenhum outro programa para substituí-lo.”



Em 2003 o MEC implantou o programa Escola Interativa. Em janeiro de 2004 o então ministro professor Cristovam Buarque foi substituído pelo ministro Tarso Genro, que não é do ramo de educação. Foi uma substituição com fins políticos, e não técnicos.



No momento em que escrevíamos este trabalho, julho de 2005, o ministro Tarso Genro fora demitido para ocupar a direção do Partido dos Trabalhadores. Certamente os programas que ele implantou serão cancelado pelo novo ministro fulano de tal.



Essa postura isenta dos sindicalistas deixa o governo muito à vontade para retirar recursos da educação para aplicar no superávit primário e cancelar projetos.



O programa Escola Interativa foi desativado e não houve nenhuma manifestação de qualquer sindicato ou entidade educacional em favor da permanência do ministro ou da continuidade do programa. Na semana em que escrevíamos estas linhas o ministro Tarso Genro estava sendo substituído pelo ministro xx. De novo não aconteceu nenhuma manifestação de apreço ou desapreço ao ministro que sai e ao que entra nem à manutenção de algum projeto já em andamento.



Visitando as páginas na internet do Sindicato dos Auxiliares de Educação no Distrito Federal – SEDF, http://www.saedf.org.br/, do Sindicato dos Professores do Distrito Federal SINPRO/DF, http://www.sinprodf.org.br/, e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE, http://www.cnte.org.br/, não consta qualquer manifestação favorável ou contrária às ações do Ministério da Educação. Observamos que nas páginas do SINPRO/DF e da CNTE havia apenas a informação de que o dia 11 de agosto/2005 será o Dia Nacional de coleta de assinaturas para conversão da dívida externa em recursos para a educação. Mas este não é um projeto do Governo Federal.



Num país como Brasil onde existem cerca de xxx milhões de crianças fora da escola, a classe sindical docente não pode ignorar este contingente, pelo contrário deve manifestar-se em favor de programas de inclusão de todas as crianças, seja através de aulas presenciais ou a distância.



Não se vê no Brasil a união interestadual dos sindicatos da educação. Quando os professores de um Estado entram em greve, reivindicando salários ou outros benefícios, os outros Estados não se mobilizam para apoiar o primeiro, é como se as reivindicações dos professores do Estado A, não fossem as mesmas dos Estados B e C.



O antigo lema “A união faz a força” deveria ser bandeira permanente entre os sindicatos da educação. Não se tem notícia de uma mobilização nacional pela escola pública. Os sindicalistas só conseguirão a atenção do governo brasileiro para a escola pública quando conseguirem mobilizar todas as escolas país e o Brasil sofrer pressões de outros países e instituições mundiais.



Porém, enquanto houver reivindicações isoladas, sempre por melhores salários, e nunca por investimentos em educação, os professores não serão vistos como categoria essencial.



Falta à classe docente da escola pública o engajamento em torno de reivindicações que recomponha a escola pública. Deve-se considerar como espelho o que ocorre com os professores universitários que se unem nacionalmente em torno de uma reivindicação.



O primeiro passo para essa união seria o apoiamento junto ao Congresso Nacional para a federalização do ensino básico. Esta proposta do professor Cristovam Buarque visa transferir a responsabilidade pela educação básica dos Estados e Municípios para a União.



Não se vê mobilização dos professores em favor da aquisição de novos instrumentos de trabalho, de construção de mais sala de aula, de cursos de reciclagem. Quando se manifestam é apenas em favor do aumento salarial. Não abraçam nenhum programa de governo. Também não se vê no Congresso Nacional uma Bancada da Educação Básica, que seria um grupo de parlamentares comprometidos com a causa educacional, a exemplo da Bancada de Metas do Milênio, Frente Parlamentar pelo Pleno Emprego, Frente Parlamentar Mista da Floresta Amazônica, Frente Parlamentar pela Administração etc.



Esse distanciamento dos professores deixa o Ministério da Educação isolado, sem saber o que realmente os professores desejam para a educação. Essa atitude isolacionista faz com que cada ministro que entre desative os programas que já estão em pleno andamento e com vasta aceitação pelo professores e comece outros que julgue mais vantajosos politicamente.



É utópico esperar que a classe dominante, que os deputados, senadores, governadores e prefeitos, sem manifestação da população, se empenhem em favor da educação básica de qualidade. Estas autoridades jamais olharão com compaixão para os menos favorecidos, para as crianças descalças e famintas se dirigindo à escola de lata, de lona ou de taipa.



Não faz mais sentido se pensar assim. Ou os órgãos que englobam os profissionais da educação se debruçam em torno da uma reivindicação única ou daqui a 505 anos o país ainda estará clamando por escola pública de qualidade.



Além das sugestões em favor da educação básica ser de responsabilidade da União, existe também a da troca dívida pública do Estados por investimento em educação; que parte dos recursos arrecadados com as contribuições (CMPF, COFINS, CIDE) sejam destinadas à educação. A arrecadação dessas contribuições não obriga a União repassar recursos para os Estados e Municípios, diferentemente do que acontece com a arrecadação de impostos.



Descontadas as devidas proporções e os interesses envolvidos, deveria-se comparar o sucesso do comércio e de outras instituições pela rede mundial de computadores. Já contamos com serviço hospitalar, bancário, de supermercados, livrarias, editoras etc. Não seria o momento do engajamento dos trabalhadores em educação para que o mesmo investimento seja feito nas escolas?



Os sindicalistas da educação são esclarecidos o suficiente para entenderem que as decisões são tomadas pelo poderes executivo e legislativo, mas não existe qualquer manifestação em torno dessas autoridades para melhoramento da educação pública.



A Esplanada dos Ministérios, um largo de cerca de xx m², já recepcionou os integrantes do Movimento dos Sem Terra - MST, já acolheu os pneus dos tratores dos produtores rurais de todo o país, conhecido como o ‘tatoraço’. A Esplanada já recebeu também manifestações nacionais para cumprimentar, como é o caso da recepção à Seleção Brasileira de Futebol em todas as suas conquistas mundiais ou para recepcionar os novos Presidentes da República eleitos. Enfim, aquele gramado em frente ao Congresso Nacional, ladeado pelos xx Ministérios já recepcionou quase todas as classes trabalhadoras. Infelizmente nunca recebeu os professores da rede pública brasileira, nem para reivindicar nem para agradecer.



A federação da educação é a oportunidade de os professores se unirem em torno de uma causa. A dispersão destes professores é alegada pelo distanciamento de realidade em que cada um se encontra, também devido à realidade de cada Estado e Município. Com a federalização da educação todos terão o mesmo patrão e padrão de qualidade.



Assim como não há diferença entre um professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e outro da Universidade Federal do Amazonas, também não serão diferenciados os professores da Escola Estadual Piratini em Porto Alegre e os da Escola Municipal José Dorotéia Dutra, em Campina Grande, na Paraíba.







Bibliografia

GATES, Bill. A empresa na velocidade do pensamento. Ed. Companhia das Letras, 2000, 444 p.

GATES, Bill. A estrada do futuro. Ed. Companhia das Letras, 1995, 346 p.

Jornal O Estado de São Paulo, de 30/06/2005, pág. 37

KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Série Prática Pedagógica, Ed. Papirus, 2004, 157 p.

LIBÂNEO, José Carlos. Adeus Professor, Adeus Professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. Ed. Cortez, série Questões da nossa época, vol. 67, 2000. 104 p.

BUARQUE, Cristovam. Educação: a revolução possível já em 2003. 42 p.



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