No final da década de setenta, não me lembro bem o ano, foi empossado no Governo de Minas o Senhor Ozanan Coelho, que até então era Vice-Governador do Estado. A sua primeira viagem ao interior do Estado como Governador foi num domingo quando foi à Cidade de Montes Claros presidir a solenidade de abertura de uma grande exposição agropecuária. Como o Presidente da FAEMG- Federação da Agricultura de Minas Gerais, não podia ir em razão de um compromisso previamente assumido, foi representando a FAEMG o Vice-Presidente, o agropecuarista Bolívar de Andrade, que também era Presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos da Raça Mangalarga Marchador. Como eu era o Secretário Executivo da Mangalarga, fui convidado pelo Sr. Bolívar para viajar em companhia dele para juntos recebermos o Governador em nome das duas entidades de classe. Fomos em um avião alugado, com capacidade para, ao que me parecer, cinco passageiros, incluído o piloto e co-piloto. Voamos para Montes Claros de manhã, o tempo estava bom e tudo correu às mil maravilhas. O Governador chegou, foi recebido com as honras de sempre, a exposição foi aberta com discursos e mais discursos e em seguida, além do desfile dos animais, teve um grande rodeio com montaria de um grande número de peões. Levantamos vôo em Montes Claros por volta das 18:00 horas, logo depois da saída do avião do Governador. Encontrava-se na exposição e desejava vir para Belo Horizonte uma nora do Sr. Bolívar de nome Márcia, mas que nunca havia andado de avião pequeno e já havia combinado de voltar conosco para Belo Horizonte. Antes da viagem ela me manifestou esse seu medo e eu garanti a ela que não havia perigo, ainda brinquei dizendo a ela que morria mais gente nas carroças puxadas por jegues do que nos aviões. Mas por uma fatalidade, depois que levantamos vôo e andamos uma meia hora o tempo fechou, apareceram nuvens muito escuras e tivemos muitas dificuldades para retornar, porque o avião começou a balançar em decorrência da grande ventania . E para completar, deu uma pane no sistema elétrico do avião e o piloto ficou sem altímetro e passou a voar mais baixo para seguir a rodovia que liga Montes Claros a Belo Horizonte, nesta altura quase invisível dado o enorme temporal que passamos a enfrentar. Para piorar ficamos sem rádio e tivemos que ficar sobrevoando a cidade de Belo Horizonte por cerca de uma hora para que fôssemos identificados pela torre e fizéssemos as manobras técnicas para descer na Pampulha. O resultado é que a Márcia ficou muito nervosa e eu, mesmo morrendo de medo, ficava assegurando a ela que tudo iria dar certo e que chegaríamos sãos e salvos. Resultado, nossa viagem que deveria durar cerca de uma hora, acabou durando por volta de duas horas. E como o Sr. Bolívar era uma pessoa idosa e já estava cansado pelas atividades cumpridas durante o dia, dormiu logo que o avião subiu, de sorte que não passou pela agonia de quem estava acordado. Não viu o piloto e o co-piloto tentarem com uma lanterna a consertar o defeito do rádio, discutirem sobre a altura e se estávamos voando em perigo de bater em serras e assim por diante. Todavia, o mais interessante aconteceu quando conseguimos pousar no Aeroporto da Pampulha, foi quando o Sr. Bolívar acordou e exclamou: “ Que viagem maravilhosa…”. No seu pesado sono, não tinha visto nada do acontecido.