Usina de Letras
Usina de Letras
141 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62265 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50654)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6203)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->HÁ MAIS VAGAS DO QUE VOGAS -- 14/08/2005 - 12:13 (Daniel Cristal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
HÁ MAIS VAGAS DO QUE VOGAS

Daniel Cristal



Vivemos ainda hoje sob a influência dos simbolistas. Até certo ponto sob a influência de Charles Baudelaire que percutiu a geração do fim dos anos Mil Novecentos, e a precurtiu . A poesia depois do simbolismo jamais foi a mesma. A ordem consciente deu lugar à desordem inconsciente, filtrada na contenção duma estética renovada, que permitiu o excesso alucinado e/ou alucinogenado , mas não o instituiu como lema. Os que a partir dessa época são notáveis sabem controlar a inconsciência ilimitada, e sabem-na estruturar na contenção.



A justo título chamou-se a Stéphane Mallarmé, o Mago do Verbo. Ir ao encontro da essência foi uma incessante procura numa experimentação de correspondências entre significados, significantes e referentes: «Atrás e dentro da rosa, encontra-se o ser ideal de rosa». No seu caso versificatório, ele sobrepõe as palavras e confunde-as. A preencher o modo, a musicalidade é um meio poderoso de efeito estético. Rimbaud, na verdade, tornou-se notável no manuseamento instrumental da sonoridade da linguagem, assim como Guillaume Apollinaire. Mas se houve movimentos contra esta vaga e esta voga, como a reacção romana de Moréas, o simbolismo não sucumbiu mais, e depois disso seguiu um curso de evoluções que nunca mais o perderam de vista e referência. Floresceu nos fins do séc. XIX e princípios dos XX, um néo-simbolismo e néo-romantismo, cuja máxima expressão aconteceu em Apollinaire. De Paris estas correntes literárias propagaram-se pelas línguas românicas, culminando em Portugal com a poesia de Camilo Pessanha, que abriu na sequência estética a vaga dos surrealistas lusófonos ainda hoje muito em voga.



Quando Mallarmé começa a dar os primeiros passos na poesia, invade-lhe a feitura e a admiração artísticas, a obra de Baudelaire e Edgar Poe. Historiando um pouco, registo: Paul Verlaine ganhava fama com edições sucessivas e estreitava com ele (Mallarmé) relações de aproximação. Mallarmé exercia o magistério (Ensino de Inglês) em Liceus e obtinha o reconhecimento dos seus pares: presidia a certames, festividades e celebrações. Em Jan. de 1896 morre Verlaine e nesse mês, Mallarmé é eleito Príncipe dos Poetas e no ano seguinte os jovens discípulos Henri de Régnier, Paul Claudel, Paul Valéry e outros rendem-lhe uma homenagem num álbum de poemas escritos em sua honra.



Os surrealistas que se lhe seguiram na busca da revolução autónoma da estesia, aproveitaram as inovações arrojadas dos simbolistas. É mesmo Apollinaire que é eleito seu Mestre, ao ser-lhe destacada a apologia do seu poema-testamento «La Jolie Rousse» de Caligrammes :



Nous voulons vous donner de vastes et étranges domaines

Où le mystère en fleurs s offre à qui veut le cueillir

Il y a la des feux nouveaux des couleurs

jamais vues

Mille phantasmes impondérables

Auxquels il faut donner de la réalité...



Poesia desprovida de constrangimentos a explorar os mistérios residentes no interior do homem, eis, em traços gerais, o lema da nova escola. Era uma procura em conjunto sem vontade de glorificar alguém em particular, os sonhos eram postos a circular, ia-se à procura dos mitos primitivos, sondando sonhos, ilusões de loucos, alucinações de nevrosados, e numa descoberta e conquista, explorava terrenos da psiquiatria: a hipnose, o desdobramento, a histeria, com Freud muito perto desta nova viagem pelo inconsciente - o seu material de estudo e análise.





Hoje vive-se de influências, sem Escolas imperiosas, na prática. Há mais vagas que vogas. O poeta escolhe o seu percurso, depois de várias experiências. Aliás o surrealismo assim mesmo estabeleceu o modus faciendi : o curso livre - a liberdade na escolha do caminho. E se é livre, também está liberto para reanimar a forma clássica ( como por exemplo desenvolver a melhor estrutura que foi dada a conhecer pelo Renascimento O SONETO, e sagrou tantas gerações de Poetas, até aos e nos nossos dias ); toda a modernidade pode cristalizar-se nessa forma: não deixa de ser uma jóia rara com o gosto duma peça estética actual. E convém ser dito, não exclusiva! - Há Poesia hoje noutras estruturas aligeiradas, em verso livre e solto que são obras primas, especialmente aquela que encontra a cadência ou o ritmo que a singulariza, e transforma - para melhor - a sensibilidade do seu leitor/auditor. E finalmente diria: não é necessário que a Arte seja útil e imediata, ou explícita, também a há que não parecendo ter nenhuma finalidade, existe só por si, e transforma pelo inconsciente a nossa inconsciência, donde a consciência provém, reestruturando-a novamente com a subtileza das coisas leves, insustentáveis.



Agosto de 2005





--------------------------------------------------

http://daniel.cristal.planetaclix.pt/index.html

COM POESIA DECLAMADA

( Comente para aferição! )
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui