Usina de Letras
Usina de Letras
148 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62210 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50604)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140797)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->AINDA SOBRE LULA -- 10/08/2005 - 12:29 (Jairo Nunes Bezerra ) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não poderia omitir de minha página uma entrevista que faz parte da história. Veja:

















"LULA É CÚMPLICE"



(Entrevista publicada pelo Jornal Opção, de Goiânia, em 1/8/2005)





Por Andréia Bahia:





"A noite do dia 13 de dezembro de 1968, Pinheiro Salles, 66 anos, não passou em casa. Ele dormiu em um matagal próximo a Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia.



Membro da Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop), Pinheiro era identificado como uma das lideranças dos movimentos contra o regime militar e, portanto, muito visado pelo aparelho do Estado.



A partir do AI - 5 o jornalista passou a viver na clandestinidade e participou efetivamente da luta armada contra a ditadura. Essa experiência deu origem a um de seus cinco livros, Confesso que Peguei em Armas, publicado pela Editora Vega, em 1979.



Foi preso em Porto Alegre, sofreu todas as torturas do cativeiro, de choques elétricos a pau de arara, e ao longo de nove longos anos passou por 18 presídios diferentes. Em 28 de agosto de 1979 deixou a prisão, beneficiado com a anistia.



Neste momento, em que o Partido dos Trabalhadores atravessa a maior crise dos seus 25 anos de existência, o jornalista Pinheiro Salles se presta a analisar o partido que ajudou a construir.



Essa crise ética, que assola o PT e que dói em todos os militantes do partido, dilacera particularmente àqueles que, ainda na obscuridade dos presídios, perceberam em Lula e no PT uma esperança da transformação social para qual lutavam.



Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Pinheiro Salles fala da crise do PT.



A fundação do PT



Eu estava no presídio para presos políticos, em São Paulo, quando começou a se desenvolver a proposta de fundação do PT. Lula surgia como uma grande liderança sindical, as pessoas nos falavam dele e nós ficávamos encantados. Os jornais [alternativos] da época, O Movimento e Em Tempo, publicavam matérias com Lula e sobre a proposta de fundação do PT e eu me lembro que a polêmica sobre o nome do partido envolveu muita gente.



Foi o próprio Lula que sugeriu PT, duas letras, Partido dos Trabalhadores. Esse movimento determinou uma discussão muito renhida entre os presos políticos porque lá conviviam marxistas que tiveram uma intensa atuação contra o regime militar e contra o capitalismo, pessoas que se limitaram ao combate à ditadura, sem atuação ideológica, PC do B, PCB e outras ramificações de esquerda, inclusive pessoas da igreja.



Alguns companheiros e eu vimos com muita simpatia a proposta de fundação do PT porque percebíamos uma alternativa para a construção de um partido revolucionário sem as deformações dos partidos comunistas tradicionais.



Na cela quatro se reuniam as pessoas que não tinham mais uma organização política, mas mantinham a concepção marxista leninista e defendiam a construção de um partido revolucionário nos moldes leninista, convictos que o PCB e PC do B não cumpriam esse papel.



O PT surgiu naquele momento e nós enfrentamos, na cadeia, a oposição do PC do B e do PCB. Foi uma luta intensa. O PT surgiu combatido pela direita, pelos resquícios da ditadura, e pela própria esquerda.



Nenhum partido nasce da vontade de pessoas. Foi um processo que determinou o surgimento do PT e que teve início com a ditadura fascista e sanguinária do presidente Garrastazú Medici, que foi atenuada no governo Ernesto Geisel, a chamada distensão, e a abertura.



Nesse período de transição não se tinha clareza para onde se estava caminhando, isso fez ressurgir o movimento de massa e Lula foi seu grande líder.

Lula, o líder sindical



O movimento grevista dos operários do ABCD paulista, incluindo Osasco, de 1968, foi completamente esfacelado e reprimido com muita truculência , mas com a chamada abertura esse movimento ressurgiu e esse nordestino de língua enrolada, que gostava de futebol e de tomar pinga, foi seu grande líder. O momento era adequado para o surgimento de uma liderança e Lula é líder mesmo. Ele não tem formação, não digo teórica, mas formação política mais elementar.



Aquele momento criou esse líder porque ele estava em uma posição privilegiada, à frente do sindicato mais importante [o do metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema], e a massa exigia do sindicato uma resposta para o momento. Ele cresceu com o movimento.



Eu não participei, mas acompanhava da cadeia. Eu me lembro dos intelectuais nos falando de Lula com veneração. Me lembro da atriz Eva Vilma falando: "Pinheiro, quando esse cara fala, a gente ouve o coração bater, uma mosca voar porque todo mundo pára. Ele faz um discurso que não tem elaboração política, mas é a linguagem e o sentimento da classe trabalhadora reprimida que se levanta".



Naquele vazio político, falência da Arena e do MDB, desgaste contínuo dos políticos tradicionais, Lula surgiu e cresceu sem muita clareza. No primeiro momento ele achou que precisava de um partido de pessoas que vestiam macacão, depois, houve intelectuais que apoiaram a greve - contribuíram até financeiramente, doando feijão, arroz, óleo para as famílias dos grevistas - e tinham uma preocupação política, se aproximaram do movimento.



Esse pessoal ajudou Lula a crescer, mas ele não sabia para onde estava indo porque não tinha nenhuma clareza política, não era nada além de um líder sindical.



Lula é uma pessoa que tem uma inteligência superior. Nunca estudou, nunca fez nada na vida, nunca teve militância partidária ou em coisa nenhuma e mesmo assim exerce essa liderança toda. É também preguiçoso, não estuda, não tem preocupações maiores, fica nesse feijão com arroz aí.

Os motivos da crise



Se fizermos um exame mais criterioso da história do partido, vamos encontrar muitos motivos para a crise atual. Primeiro, pessoas que tinham condições de exercer influência nos rumos do partido aceitaram, de maneira incondicional, a liderança de Lula, o que foi um equívoco porque Lula não tinha a formação mínima adequada para o exercício dessa liderança.



Todos, devido a essa veneração, aceitavam o que Lula falava, ninguém ousava questionar. E não tinha essa formação maior, Lula sentia naturalmente as influências dominantes, a esquerda era impotente para exercer a sua liderança e ele recebia a influência maior da conciliação, da social-democracia, de um "socialismo democrático".



Estas pessoas foram se aglutinando em torno dele e fortalecendo um posicionamento ideológico compatível com a aceitação da liderança de Lula.



O PT, que foi formado por sindicalistas, marxistas, comunistas velhos stalinistas, setores da igreja - que exerceram uma influência muito grande - terminou aglutinando também muita gente de concepções diferentes, e a esquerda terminou fazendo muitas concessões.



Claro que concessões ideológicas que, em um determinado momento, se justificavam porque eram para salvar um projeto maior.



Eles [do Campo Majoritário] precisariam ter a habilidade de dizer: se chegamos aqui, vamos chamar a esquerda e discutir. Mas não discutiu. E agora essa intervenção em São Paulo, autoritária e arbitrária, em um momento desses em que se está no lamaçal.



Existem pessoas respeitáveis na esquerda, basta olhar a história dessas pessoas, a coerência, a seriedade.



Se eles tivessem tido a humildade de discutir com a esquerda, mas não. Decidem tudo de cima para baixo e impõem, fazendo cada um engolir goela abaixo tudo isso.



Lula, e quando falo Lula é ele e o pessoal que está ao seu lado, também deveria ter a humildade de procurar a esquerda, que é o setor que tem maior inserção nos movimentos sociais, e buscar uma alternativa que nunca houve no Brasil.



Lula tinha condições de implementar um projeto democrático e popular, exercer plenamente a chamada democracia participativa com o apoio dos movimentos sociais, e isso não aconteceu.



Lula seguiu, coitado, o caminho inverso de tudo que a história determinava que fizesse diferente, seria o primeiro governo realmente democrático e popular. Poderia procurar respaldo nos movimentos sociais, no povo, na prática direta da democracia porque houve um momento no qual Lula era um deus.



Ele teve um apoio popular como nunca houve no Brasil e isso determinaria um novo comportamento no Congresso, mas ele rompeu, esqueceu tudo e se limitou a um ou outro discurso populista.

O projeto pessoal de Lula



As contradições do regime democrático em um sistema capitalista são muito acentuadas e Lula não percebe a dimensão dessas contradições.



O que ele fez nessa última campanha? Ele tinha o projeto de se eleger presidente da República e isso se transformou no grande projeto pessoal de Lula, em seu projeto de vida.



Já existiam condições para que ganhasse e ele ainda teve que ceder muito. Tudo que os políticos tradicionais utilizam foi usado na campanha de Lula.



Foi apresentada uma campanha que tocava a sensibilidade e contribuiu para que renascesse a esperança no coração das pessoas.



Lula se elegeu dessa forma e, eleito, ele já estava de tal maneira comprometido que não tinha mais como provocar uma ruptura e dar um novo direcionamento para o governo. Ele precisaria dar continuidade ao ritmo da campanha e terminou conciliando.



A primeira coisa que fez foi procurar um testa-de-ferro do FMI, do imperialismo norte-americano [Henrique Meirelles], para controlar o Banco Central e elaborar a política econômica, elaborar não, implementar a política econômica elaborada pelo FMI.



E ainda dentro dessa concepção, ele procurou alianças com o que havia de mais espúrio na política brasileira. Roberto Jefferson (PTB), companheiro de José Dirceu, foi o grande articulador dessa política.

A mentira de José Dirceu



José Dirceu mentiu quando chamou Dilma Rousseff de minha companheira de armas porque ele nunca passou perto de armas. A Dilma sim, Dirceu não.



Ele foi preso como estudante, saiu do país em troca de um seqüestrado, voltou e ficou na clandestinidade, cuidando da vida dele, sem nenhuma atuação política clandestina.



No governo, era o homem de confiança de Lula e contribuiu muito nessa política de conciliação.

A responsabilidade do Campo Majoritário



As divergências internas vêm de longe, e a esquerda sempre perdendo porque o que manda é o empirismo, o voluntarismo, a força dos setores que conciliavam. Quem cedeu um pouco, vai cedendo e perde o controle.



Eu não digo que a responsabilidade [da crise] é total do Campo Majoritário, porque todos nós participamos desse processo. Seria muito fácil atirar pedras agora e procurar uma forma de proteger a esquerda.



Nesse lamaçal, a responsabilidade é unicamente do Campo Majoritário, mas no desgaste mais amplo do partido, porque até quando nos omitimos, quando nos calamos, estamos contribuindo para que as coisas se desenvolvam.



Nesse lamaçal não tem ninguém envolvido, a não ser o pessoal do Campo Majoritário. A influência da direita já era tão marcante dentro do PT que esse pessoal passou a utilizar os mesmos métodos.



Estas pessoas perderam o referencial, falam de ética, mas perderam o referencial da ética, não entendem o significado da ética. Esse pessoal do Campo Majoritário assumiu o controle de tudo sem dar satisfação. Nas reuniões do diretório ou mesmo da executiva, essas questões não eram discutidas.

Genoino, Delúbio e Silvinho



O José Genoino já foi de esquerda e eu tenho um respeito, tinha [Pinheiro diz "tenho" e, depois, "tinha"], muito grande por essa fase do Genoino. Nós tivemos uma longa convivência em uma cela de presídio, era um companheiro atuante, responsável, disciplinado, firme, mas ele rompeu com o essencial, como o referencial da luta de classes e passou a enobrecer qualquer alternativa e a se submeter ao oportunismo da política mal cheirosa que impera no Brasil.



Quem é Delúbio Soares? Que formação tem Delúbio para ter capacidade de tomar decisão de um projeto político do país?



Quem é Sílvio Pereira? E esse Silvinho se transformou em um homem tão poderoso que é o cara que garantia os contratos da Petrobrás

A participação de Lula



Muitas pessoas me perguntam se eu vou sair do partido, e eu não vou, a minha tendência não vai, porque o PT é uma conquista que exigiu muito da classe trabalhadora.



Além de qualquer projeto individual, havia um projeto coletivo para atender uma determinada necessidade histórica e, num momento desses, não podemos nos afastar como se houvéssemos cometido qualquer tipo de irregularidade e não tivéssemos credibilidade política e moral para ter atuação política.



Isso para mim seria uma deserção. Eu defendo que os corruptos e os aliados dos corruptos deixem o PT. E mais: se ficar provado que Lula tem um envolvimento maior, acho que ele tem que ser expulso do PT. Se foi conivente, não tomou decisão, é cúmplice.



De qualquer maneira, é criticável o fato de não se tomar conhecimento porque uma pessoa que exerce o principal cargo do governo precisaria ter uma equipe fiel, séria e honesta, que, no mínimo, lhe repassasse todas as informações.

A intervenção branca no partido



Um dos grandes equívocos do Campo Majoritário, quer dentro do governo ou do partido, foi não estabelecer a necessária distinção entre partido e governo, governo e poder.



Estabeleceu-se, por ignorância teórica, uma confusão e criou-se uma dificuldade para compreender a realidade e, diante dessa incompreensão, vieram todos os equívocos.



O partido precisaria ter sua autonomia para discutir todos os problemas e apresentar alternativas. O partido não cumpriu o seu papel, ao contrário.



Os principais dirigentes do partido foram para o governo e aniquilaram o partido, que perdeu autonomia e ficou submisso ao governo. Tanto assim que Lula se sentiu com o direito de promover uma intervenção branca no partido, que não teve autonomia para discutir os seus problemas, acionar a Comissão de Ética para investigar Delúbio e expulsá-lo. Lula não interferiu como militante, mas como governante.



Trocou a cúpula do partido, impôs quem ele quis e o partido não teve autonomia nem para procurar a investigação e muito menos a punição dessas pessoas. Está na dependência da Polícia Federal, da CPI e de outros instrumentos do governo.

A descrença do povo



O povo acreditou muito no PT, em Lula, que esse seria um governo diferente, que o partido era diferente, não tinha ladrão, não roubava, quando foi surpreendido, inclusive eu, tendo ao meu lado um cara de atitudes questionáveis.



No PT eu já convivi com as situações mais diferenciadas, difíceis e adversas que se pode imaginar, divergência no nível filosófico, científico, político, ideológico, teórico, quanto à tática, estratégias administrativas, mas nunca havia tido dúvida sobre o comportamento ético de companheiros. Isso me atinge, mas reajo de cabeça erguida, isso não me baqueia, não me inibe nem me leva a nenhuma frustração.



Mas é dolorido porque é uma situação nova para mim. Meus companheiros e eu temos o projeto de eliminar do partido as pessoas nas quais a gente não confia. Na divergência política ou ideológica não tem problema, a gente convive, agora, com esse tipo de comportamento, a convivência se torna impossível.



Quem anda com o ladrão corre o risco de ser confundido com o ladrão. O PT tem instrumentos para expulsar estas pessoas, mas não os utilizou no Diretório Nacional.



Foram utilizados contra setores que discordaram do governo. O partido, mais uma vez submisso ao governo, cumpriu as decisões governamentais e expulsou estas pessoas.



O PT, para fazer a população acreditar na bandeira da ética, vai ter que tirar esse pessoal e o que restar do PT vai ter dificuldade para reerguer o partido. Que isso valha como lição para o Lula e seus companheirinhos, não adianta se iludir com os inimigos.



Roberto Jefferson é colega de José Dirceu, PTB, PP e PL.



Foram eles que o colocaram no governo, não foi ninguém da esquerda. E depois vão xingar Roberto Jefferson, eles precisariam ter a seriedade para fazer essa autocrítica, assumir o erro e pedir desculpa aos militantes. Nem falo ao povo, mas reconhecer o erro deles, porque nós sempre combatemos essa política de alianças.



Não podemos admitir que o PSDB e os rebotalhos do PFL da Bahia se apresentem como arautos da ética, porque a corrupção é própria do capitalismo e dos políticos de direita, defensores do capitalismo.

Lula, o pai do povo



Lula amadureceu muito, é inteligente, competente, mas tem todas as limitações naturais e procura assumir um comportamento messiânico, próprio das pessoas sem a necessária formação teórica, que acreditam no messianismo, que se vêem como um pai do povo, enxergam o povo e os próprios militantes do PT como seus filhos, alguns como filhos privilegiados e outros rebeldes.



No filho rebelde ele passa a mão na cabeça, mas protege tanto os outros que eles vão sendo escorraçados.





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui