Joaninha Farinha e a Maninha Joaninha
Heleida Nobrega, 2007
- Voa, voa, voa, Joaninha Farinha, pare de exibir suas reluzentes pintas pretas, temos que acabar com os pulgões nos jardins. É hora de trabalho, disse-lhe Maninha Joaninha.
Mas Joaninha Farinha não ouvia. Olhava para suas asas inferiores que se abriam para voar seus sonhos. Adorava vê-las, pois estavam sempre veladas pelas asas superiores, vermelhas com pintas pretas.
Eram justamente essas asas vermelhas que chamavam a atenção de todos para a sua figura pequenina. Todos admiravam a graça de seu corpo redondo, acobertado por uma cor tão vibrante. Mas ela gostava mais das tímidas asas que viviam escondidas. Elas sim, sabiam de seus sonhos.
Justamente no instante em que se preparava para o vôo livre, Maninha Joaninha alcançou-a por uma de suas asas:
- O que significa isso Joaninha Farinha? Primeiro o trabalho, depois o vôo para o lugar dos seus sonhos. Preste atenção: a hora é agora, pois os pulgões ainda não perceberam a nossa aproximação. É a hora certa, Joaninha Farinha, são milhares deles nos jardins desta cidade. Lembra–se da história contada e recontada na nossa família, quando no início do século XIX, as joaninhas salvaram a produção de laranjas da Califórnia quando comeram todos os insetos que ameaçavam destruir fruta por fruta? Então, agora chegou a vez da nossa geração fazer alguma coisa. Venha comigo, Joaninha Farinha, muitas outras nos aguardam para essa tarefa e não podemos desapontá-las.
Assim, Joaninha Farinha arquivou o vôo dos sonhos e seguiu Maninha Joaninha em direção ao vôo da responsabilidade. Estava ainda tristonha quando chegaram ao jardim da cidade.
O jardineiro ainda estava lá, totalmente desanimado por não saber mais o que fazer para acabar com os pulgões. Não queria usar nenhum agrotóxico, uma vez que muitas crianças brincavam naquele local quase todos os dias.
Quando as duas, Joaninha Farinha e Maninha Joaninha, seguidas de um pequeno exército entraram no jardim os olhos do jardineiro brilharam de felicidade enquanto os pulgões se desesperaram diante do ataque.
As ‘vermelhinhas’ não deixaram um só pulgão para contar a vergonha de sua história.
Repentinamente, o jardim parecia um canteiro de pontinhos vermelhos, mais arredondados ainda, pois as joaninhas nem podiam voar, estavam pesadas demais.
Lado a lado, Joaninha Farinha e Maninha Joaninha, exaustas, descansavam sobre uma linda folha, levemente danificada pelos pulgões, imaginando que um dia seus filhos e netos também iriam contar para os seus filhos e netos sobre a proeza e valentia das duas e seu pequeno exército.
Enquanto seus pensamentos divagavam, sequer perceberam que seus corpos começaram a rolar sobre a folha.
A folha, coitada, fez um esforço imenso para acolhê-las em seu colo como sinal de gratidão, mas não deu certo, teve que ceder ao peso e as duas foram parar no chão depois de um grande escorregão.
Pensam que se machucaram? Que nada! Um gramado bem macio estava prontinho para acolher aqueles corpos tão redondinhos.
E foi exatamente assim, que Joaninha Farinha e Maninha Joaninha adormeceram por vários dias até que um raio de sol as despertou para um novo trabalho.
Joaninha Farinha acordou, reclamou e voou, voou e voou novamente para mais uma batalha em favor da natureza. Maninha Joaninha ficou toda orgulhosa!
Mas um dia, Joaninha Farinha saiu sozinha. Ah, sim! Saiu sozinha e finalmente pôde abrir suas lindas e tímidas asas para um vôo de puro sonho.
Suas amigas gritavam em coro: voa, voa, voa, Joaninha Farinha, voa para tirar o véu do seu sonho. Voa, voa, voa Joaninha Farinha...
Enquanto isso, Maninha Joaninha rezava para que ela voltasse ilesa, sem nenhum arranhãozinho nas bolinhas pretas do seu lindo corpo vermelho e redondinho.
Essa é a história de Joaninha Farinha e Maninha Joaninha.
- AH! Querem saber o porquê do nome Joaninha Farinha?
Muito bem, essa é uma história engraçada que fica para uma próxima vez...
Joaninha Farinha e Maninha Joaninha
julho de 2007
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