Acompanhando os atuais retrocessos políticos do
País, com corrupções multiplicadas, não poderia
deixar de transcrever abaixo, o belo Artigo de
Carlos Chagas, que profetiza um impedimento
Governamental.
OPINIÃO - Os militares entram no palco
(Carlos Chagas)
BRASÍLIA - Há uma semana circula no País um documento que todo mundo, a começar pelo Palácio do Planalto, faz questão de ignorar, não por achá-lo desimportante, mas precisamente pelo contrário, isto é, pelo seu alto poder explosivo. É mais ou menos como a história contada outro dia por Sebastião Nery, do caboclo flagrado saindo pela porteira de uma fazenda roubando um porco, que levava nos ombros. O fazendeiro pediu explicações e o espertinho, negando o inegável, exclamou: "Porco? Que porco? Sai daí, bicho, sai daí bicho!"
Texto contundente
Assinado pelos presidentes do Clube Naval, do Clube Militar e do Clube da Aeronáutica, o texto é contundente. Valem alguns trechos:
"(...) A insensibilidade do governo chegou a tal limite que só nos resta ponderar que, além de um óbvio revanchismo, parece existir o objetivo de desmoralizar as Forças Armadas (...). A relutância em atender o que pleiteiam os militares (23% de aumento) poderá levá-los a uma situação de desespero, de desalento e de descrença, com sérios riscos para a hierarquia e a disciplina (...).
Enganam-se aqueles que, tentando asfixiá-las com baixos soldos e limitados orçamentos, possam julgá-las como algo descartável. Como no passado, somos forças vivas, atuantes em todo processo evolutivo da nação. Silentes, não estamos ausentes ou indiferentes ao que se passa no País.
A coesão é alicerçada (...) em direção aos objetivos maiores definidos na missão constitucional que um dia juramos defender, mesmo com o sacrifício da própria vida. Não podemos transigir com as tentativas de dividir-nos entre ativos e inativos e de levar-nos à indisciplina e à quebra de confiança na cadeia de comando. Confiamos em que a razão e o bom senso prevalecerão sobre a presente atitude de desatenção e desconsideração para com as forças armadas brasileiras."
Arrepender-se não valerá nada
O almirante José Júlio Pedrosa, o general Luiz Gonzaga Lessa e o brigadeiro Ivan Frota mandaram um claro recado ao governo do presidente Lula. Não dá para ignorá-lo, mesmo no período atual em que parece definitivamente afastada a hipótese de golpes militares e sucedâneos. O grave na história é que os três presidentes têm razão e falam por todas as corporações castrenses, já que os comandantes do serviço ativo enfrentam limitações legais para poder pronunciar-se. Mas pensam exatamente igual, ninguém se iluda.
Terra, mar e ar são assolados por mensalões, corrupção deslavada, saques de dezenas de milhões dos cofres públicos para o bolso de parlamentares e de ex-ministros, transferências milionárias e irregulares enviadas para o exterior, envolvendo o governo, o PT e outros partidos políticos, os bancos e as empresas privadas. Numa época como essa, seria bom prestar atenção no sentimento que grassa nas Forças Armadas. Depois, arrepender-se não valerá nada.
"Sai daí, Zé"
Repete-se mais depressa do que se imaginava a possibilidade de ser enunciado outra vez o conselho que há quarenta dias o deputado Roberto Jefferson deu ao então ministro José Dirceu, para que deixasse a chefia da Casa Civil: "Sai daí, Zé!".
Dirceu depõe hoje no Conselho de Ética da Câmara e, pelo jeito, sua melhor saída será renunciar ao mandato de deputado. Vai ser difícil negar a acusação de que um dos seus mais próximos auxiliares, Roberto Marques, foi autorizado por Marcos Valério a sacar no Banco Rural 50 mil reais da conta da agência SMP&B. Pode ter sido uma "plantação", como disse Dirceu, mas diante de tantas provas e evidências de centenas de casos paralelos, a tendência é de acreditar.
O ex-chefe da Casa Civil está sendo cozinhado em fogo lento e terminará com o mandato cassado. Melhor seria antecipar-se, renunciando e demonstrando enquanto é tempo que tudo o que fez, autorizou e permitiu não foi em causa própria. Que seu objetivo era transformar o PT numa estrutura invencível, capaz de governar o País pelos próximos trinta anos.
Vamos aguardar o depoimento de hoje, porque todo mundo é inocente até que se lhe prove a culpa. Milagres acontecem. Mas abandonado pelo presidente da República, obrigado a se pronunciar através de notas escritas para não se submeter a questionamentos da imprensa, José Dirceu vê o círculo fechar-se em torno dele. Sempre haverá a hipótese de botar a boca no trombone e contar tudo. Nesse caso, passaria de centro das acusações a epicentro do maior terremoto jamais acontecido na história política do País...
Outro homem-bomba
Capaz de explodir metade do Congresso, o deputado José Janene, ainda líder do PP na Câmara, ameaça que não irá sozinho para as profundezas. Dispõe de farta munição, envolvendo grandes e pequenas figuras de seu partido.
Depois de fracassada a "operação pizza", que previa o PP e o PTB retirando denúncias mútuas para salvar o mandato de seus envolvidos no "mensalão", só restará ao deputado pelo Paraná transformar-se num homem-bomba. Nesse caso, estilhaços arrasariam boa parte da Praça dos Três Poderes, ainda que alguns virassem mísseis, atingindo Belo Horizonte, São Paulo e até Curitiba.
Aliás, a propósito de alguns ingênuos bem intencionados e outro tanto de malandros, é bom contestar suas continuadas diatribes sobre ser Brasília o centro da corrupção nacional: veio tudo de fora, até as maletas com dinheiro vivo. Dos acusados de corrupção, por enquanto não apareceu um único representante do Distrito Federal.
Deputados e senadores eleitos por Brasília encontram-se a salvo das denúncias, ao menos até agora. O dinheiro vinha de outros ninhos, os que recebiam também, de preferência às terças, quartas e quintas-feiras. Valérios e companhia estavam sempre reservando suítes nos hotéis da capital e até as agências de onde mandavam sacar dinheiro eram de bancos alienígenas. Por favor, poupem Brasília, porque será de Brasília que serão expulsos os ladravazes e os corruptos.
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