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Artigos-->O SILÊNCIO DO PRESIDENTE -- 02/08/2005 - 12:03 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O SILÊNCIO DO PRESIDENTE

(Por Domingos Oliveira Medeiros)



Apertem os cintos. O presidente sumiu. Melhor dizendo: ficou surdo e mudo. E com a visão embaralhada. Acometido por uma espécie de autismo político. Desde que retornou da França. Depois daquela infeliz entrevista concedida, de forma inusitada, à uma desconhecida jornalista. Naquela ocasião, o presidente teria dito: “O que o PT fez do ponto de vista eleitoral é o que é feito sistematicamente no Brasil”. Pisou na bola, mais uma vez, o nosso craque das metáforas e do jogo de cintura. Das gravatas e das bravatas. O tiro saiu pela culatra. A bola bateu no travessão da incoerência.



Lula jamais poderia afirmar algo tão grave. Ainda mais no exterior. Assumir, publicamente, de que no Brasil pratica-se, sistematicamente, o crime eleitoral conhecido por Caixa Dois, e que o ex-tesoureiro do PT, o Sr. Delúbio, cinicamente, apelidou de “recursos não contabilizados” beira à irresponsabilidade.



Procedimentos como esse denigrem a imagem do partido que fundou e pelo qual foi eleito. Partido, é bom que se diga, que nasceu empunhando a bandeira da ética e da moralidade pública, cresceu na linha de frente contra o desrespeito aos direitos humanos, e que sempre pautou sua conduta política a favor da liberdade, com responsabilidade e justiça social.



Está na hora, portanto, de os petistas coerentes com os ideais e propósitos insertos na bandeira e na brilhante trajetória política do partido, separar o joio do trigo.



Não é possível que o presidente continue governando o país no ritmo lento do bolero político, na base do dois pra lá, dois pra cá, sem sair do lugar. Uma hora, diz que a economia está em pleno crescimento, que o Brasil saiu da UTI e já respira sem o auxílio de aparelhos; que o milagre do crescimento está próximo; que ninguém deve ter medo de ser feliz; que ninguém é mais ético do que ele; que a crise não existe; e que tudo não passa de mero “denuncismo” por parte das elites, que desejam, tão-somente, derrubar o seu governo. Provavelmente, com inveja do metalúrgico que, apenas com o curso do SENAI, conseguiu fazer mais do que os doutores que o precederam na cadeira de maior mandatário do país.



Apologia implícita ao analfabetismo? Ou seria mais um infeliz improviso de Sua Excelência? Como se a educação não servisse para nada. Como se o conhecimento fosse o culpado pelos erros e defeitos do ser humano. Uma coisa não tem nada a ver com outra. O ensino, para quem age com honestidade de propósitos, com firmeza de caráter, e outras virtudes pessoais, é sempre melhor do que a sua falta. O presidente precisa abandonar a estratégia inadequada de comparar os feitos do seu governo com os de seu antecessor. Melhor faria se adotasse a postura de compará-los (seus feitos) com suas promessas de campanha.



Alguém precisa avisar ao presidente que a utilização da poderosa ferramenta do marketing tem limites, relativamente à sua eficiência e eficácia. Só funciona até certo ponto. No caso, seduziu o eleitorado e conseguiu “vender” o seu produto. Todavia, se o produto não tiver suas próprias qualidades, as vendas tendem a diminuir e todo o empreendimento termina por cair no descrédito da propaganda enganosa.



Não tem cabimento, à esta altura, quase no final de seu mandato, o presidente mudar o discurso. Apostar no que antes combatia ou não acreditava: o fantasma do medo; o pessimismo em relação ao milagre do crescimento; e a decisão firme de apoiar todas as investigações sobre corrupção, de maneira implacável. Inclusive, em relação às lideranças de seu partido.



O governo fez de tudo para negar a existência do mensalão e do Caixa 2. Apesar das evidências, tentou minimizar os efeitos dos escândalos, associando-os, tão-somente, aos crimes de ordem eleitoral. Ignorando, por conveniência ou má-fé, outros ilícitos penais bem mais graves, que envolvem parlamentares que receberam volumosas quantias de dinheiro para votar a favor dos interesses do governo.



Agora, o que está em jogo, na verdade, é a credibilidade do governo e a imagem do Congresso Nacional, e,como de resto, a do Brasil pelo mundo afora.



Diante destes fatos, faz-se necessário que o Presidente da República, junto com a bancada sadia do PT e todos os parlamentares que desejam a verdade, juntarem forças para acelerar as investigações e punir os culpados; abortando, desse modo, qualquer tentativa espúria de acordo no sentido de abafar os trabalhos da CPI. Sob pena de colocar todos no mesmo saco de malfeitores. E enterrar, de vez, nossa frágil democracia, sem prejuízo dos riscos e das conseqüências danosas que deste ato poderiam advir.



A propósito, o jornalista e repórter político do JB, Villas-Bôas Corrêa, em artigo publicado na edição de 22 de junho próximo passado, assim se expressou:



“Como parece confusa e embaralhada a cuca presidencial! Emenda uma bobagem na outra, como quem escorrega em assoalho envernizado. (...) não apenas aderiu à uma farsa de amadores para antecipar sua adesão à manobra da dupla Delúbio-Marcos Valério de transferir para o lombo do PT a carga da tramóia de milhões para o pagamento do mensalão a petistas e aliados. Mas, oficializou , em frase untuosa, o seu omisso conformismo com o financiamento ilegal de campanha eleitoral...( ...) Espantosa exposição pública do mais absoluto desconhecimento das responsabilidades e atribuições do seu cargo.” E mais adiante, completa: ”Ou o presidente Lula assume o comando do barco com rombo no casco ou terá que ser enquadrado em uma fórmula negociada par a saída da crise”.



Mas nem tudo está perdido. Segundo o teólogo Leonardo Boff, em artigo publicado na mesma edição do JB anteriormente citado, “Graças a Deus que existem pessoas no PT que sempre resistiram às tentações das benesses do poder, que não negociadas com as “más companhias”, que sempre alimentaram uma relação orgânica com os movimentos populares e que sempre mantiveram alto teor ético-místico em sua prática política. Estes formam a reserva técnica, ganharam, nesta crise, credibilidade e emergem como pontos luminosos de referência.” E, em seguida, arremata: “Se não forem escutados, se não ocuparem posições intrapartidárias importantes na reconstrução da figura do partido é sinal que este não se dispõe a aprender nada da crise e persiste na arrogância e no farisaísmo”.



Ainda há tempo.



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