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Contos-->O GOLPE -- 25/02/2002 - 15:28 (LUIZ ANTONIO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
José era um rapaz de ótima índole. Trabalhador, sincero, honesto e muito bom para todos daquela pequena cidade. Desde menino, trabalhava na farmácia do seu Eusébio, sempre ajudando a todos na sua luta diária. Se alguém precisasse de alguma coisa, algum remédio ou qualquer outro produto, lá estava José para acudi-los. E foi sempre assim, desde o começo. Filho de artesãos, ajudava em casa todos os meses, colaborando como podia. Sua mãe, D. Rita, dizia sempre: “meu filho, guarde o seu dinheiro, você já ajuda tanto...” Mas José não se cansava, trabalhava duro na farmácia para ajudar os pais.
E foi nessa vida que José comprou, em 1973, seu primeiro lote na cidade de Vespasiano. Era um lote arrumado, de esquina, perto da casa que ele morava com os pais. D. Rita ficou eufórica, e gritava a vizinha pela cerca: “ Elvira! Elvira! O José comprou um lote Elvira, um lote enorme, lá perto do cruzeiro. Só você vendo que beleza! Dá até pra ver a igreja. É uma beleza...” E delirava de alegria, em meio aos olhares de desprezo e inveja da vizinha. Elvira, que estendia roupas, balbuciava: “Grande coisa! Aquele local acidentado...” Dizia, na sua falta do que dizer.
José continuava trabalhando na farmácia e, devido ao tempo de casa, assumiu sozinho o comando do estabelecimento, depois que seu Eusébio adoeceu. Seu Eusébio pediu aos próprios filhos que deixassem que o rapaz tomasse conta de tudo, por causa da sua experiência no ramo. Era uma espécie de gerente geral, e cuidava de tudo. Finanças, compras e etc...
Passaram-se dez meses até que seu Eusébio se foi. Os filhos pediram para que José cuidasse da farmácia, e foram morar numa outra cidade, perto dali. Confiavam muito no rapaz, e sé apareciam uma vez por semana para pegar o dinheiro, e saber das novidades. José fazia tudo direitinho, agradando aos patrões. Teve um aumento elevado no salário, e comprou um carro para locomover-se com maior conforto. Chegou em casa aos berros gritando: “D. Rita! D. Rita! Olha só o carro que eu comprei”, gritava para dentro da casa. D. Rita apareceu na cozinha, enxugando as mãos: “Oh, meu filho! Que coisa boa. Que satisfação”! E correu para o fundo do quintal gritando:

_ Elvira! O José comprou um fusca, Elvira. Você precisa ver, tem até rádio. E você não sabe o que é melhor, é 1965. Novinho em folha...
D. Elvira respondia para D. Rita:
_ Nossa, que coisa boa. E adentrando para casa resmungava para o marido, que lia o jornal sem dar muita trela:
_Sujeitinha cismada. Até parece que comprou um chevrolet último modelo! E voltava para a cozinha com seu ar despeitado.

José continuava no emprego. Com seu esforço diário, vendeu o lote e comprou uma casinha no centro da cidade. D. Rita não se conteve: “Meu filho, você é o melhor filho do mundo, e eu tenho muito orgulho de você.”
José começou a freqüentar alguns bares da cidade, coisa que não era de seu costume. Ficava até altas horas na rua, bebendo. Começou a chegar em casa às madrugadas, tonto como uma égua velha, rebocado de batom. D. Rita achava graça: “Isso meu filho, vá se divertir mesmo”. Mas seu Valdevino não estava gostando nada nada daquela situação, porque José estava fazendo passando dos limites. Dizia à mulher: “Rita, Rita! Isso num tá certo. Os meninos da Farmácia já reclamaram que ela anda meio desleixada. O José precisa pensar melhor, antes de fazer essas besteiras. Veja só você, ontem abriu a farmácia ao meio dia”. D. Rita não dava ouvidos:
“deixa o menino se divertir! Sempre foi tão caseiro, tão quieto. Sempre nos ajudou em casa. Pára de implicância, seu velho chato...”
E assim permaneceu a situação, por um bom tempo. Um dia José chegou na casa dos pais, de mãos dadas com uma mulher meio estranha, com umas roupas esquisitas e disse:
_ Mamãe, papai. Essa é a Valquiria, minha namorada.
D. Rita veio depressa:
_ Satisfação! Disse em bom tom. Mas seu valdevino não gostou da cara da moça. Cumprimentou-a e se recolheu em seu quarto alegando uma falsa dor de cabeça. Mais tarde, no quarto, desabafou:
_ Ritinha, você viu aquela mulher do José? Viu que tipinho? Ele não tem juízo não? Eu já ouvi falar que ela é uma trapaceira, lambisgóia e aproveitadora.
Dizia com um olhar de reprovação. Rita, na sua alegria de mãe, resmungava:
_ Pára com isso homem. Deixa o garoto viver. Ele tem o direito de ser feliz, é um bom menino. E, aliás, aquela moça me parece ser muito boa. Você não pode falar assim, você não a conhece.
Seu Valdevino virou para o canto e dormiu. D. Rita dormiu também, e sonhou com o casamento do filho.
No outro dia cedo Armando, filho mais velho do falecido Eusébio foi até a casa de seu Valdevino, para uma conversa sobre o comportamento estranho de José, ultimamente:
_ Seu Valdevino, o senhor sabe que eu adoro vocês, e gosto muito do seu filho também. Meu pai admirava o trabalho dele, e confiou-lhe a farmácia. Mas ultimamente ele está ficando meio irresponsável. Se não melhorar, vou Ter que tirá-lo de lá. Não temos interesse de fazer isso, até porque não temos quem tome conta dela.
Seu Valdevino prometeu conversar com José a respeito. Na hora do almoço, José apareceu, com Valquiria. D. Rita não se conteve:
_ Elvira, venha aqui conhecer a minha nora, olha só que linda que ela é. Não tá com cara que vai dar casamento, hein Elvira?
D. Elvira, de saco cheio, respondia com seu cinismo:
_ Ela é linda. Parece até atriz de novela. Disse com seu ar de deboche. Da porta da cozinha, seu Valdevino riu, entendendo a piada.
Após o almoço, seu Valdevino chamou o filho para uma conversa, sobre a farmácia. José ouviu tudo, e disse que não estava fazendo nada demais. Mas prometeu se empenhar no seu trabalho um pouco mais. Seu Valdevino aproveitou para falar sobre Valquiria. Disse que ela não era moça para José, e coisa e tal. José disse ao pai:
_ Pai, eu sei o que é bom pra mim. Por favor, não me impeça de seguir o caminho que o destino me reserva.
O pai não teve outra alternativa a não ser aceitar. Mas, ainda arriscou uma pergunta:
_ Então você pensa em se casar com ela?
José sorriu:
_ O mais rápido. Pelo amor de valquiria, sou capaz de loucuras...
Terminaram a conversa e os namorados se foram. Seu Valdevino contou à esposa sobre a conversa, e sobre o casamento. D. Rita ficou louca:
_ Só quero ver, o dia em que eu entrar na igreja com o meu José. Vai ser divino.
O marido ouvia tudo, cabisbaixo. Estava muito preocupado com o futuro do filho. José continuava empenhado com o casamento. Na farmácia, tudo ia muito bem por sinal. Levava e trazia papéis para Armando:
_ Vocês ainda vão ganhar muito dinheiro com a farmácia, vocês vão ver.
E assim, em pouco tempo, José já administrava duas farmácias. Ganhava o dobro do seu salário, e resolveu se casar de uma vez, com Valquiria. Reuniu a família, os amigos e oficializou o pedido. D. Rita delirava:
_Ai Elvira, acho que sou a mulher mais feliz do mundo. José bem na vida, casando. É um sonho meu que se realiza. Tenho vontade de colocar um retrato meu e do José, no jornal, para todos verem o quanto somos felizes.
D. Elvira, no seu despeito e revolta, dizia:
_ É só colocar, uai. É muito fácil sair no jornal.
José marcou o casamento para dali a um mês. Dizia:
_ É só o tempo de arrumar umas coisinhas.
Mas teve que adiar por mais dois, devido ao falecimento de seu pai, seu Valdevino. No dia do casamento, D. Elvira dizia na igreja:
_ Coitado do Seu Valdevino. Morreu de desgosto. Não queria esse casamento.
E foi uma festa boa, com muita gente. D. Rita fazia mil e um elogios ao filho. Dizia eufórica para as amigas:

_Os donos da farmácia deram-lhes uma viagem para a Bahia. Não é o máximo?

Armando assumiu temporariamente o comando da mesma. Uma certa tarde, apareceu por lá um oficial de justiça de posse de uma ação de despejo. Armando não entendia:
_ Mas não é possível, não pode ser! Tá tudo aqui, contabilizado, certinho. Dizia o pobre, exibindo os papéis preparados por José. O oficial disse:
_ Você foi lesado, Armando. O José lhe passou a perna. Está arruinado.
E foi uma confusão na cidade. D. Rita não acreditava naquilo. E, de fato, José não voltou da lua de mel. D. Rita estava sozinha e triste. Queria dar a casa do José para pagar a dívida. Foi surpreendida pelas palavras de Armando:
_ Foi vendida, D. Rita. Seu filho fez tudo muito bem feito. Não nos resta nada a fazer, a não ser esperar que a polícia os encontre.
D. Rita continuou sua vida de viúva, fazendo seus bonecos de barro. Quase não saía de casa, por causa da vergonha e da tristeza pelo episódio ocorrido. Passava o dia inteiro sozinha, na esperança de que José voltasse e acabasse com aquele pesadelo. De vez em quando, pela manhã, D. Elvira gritava do quintal:
_ D. Rita, D. Rita! O retrato do seu filho saiu no jornal, D. Rita. Dá uma olhadinha aí, está bem na capa da página policial...


FIM

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