A Herança
Maine Valery
-E a resposta que me deves?
-A do positivismo?
-Não posso te afirmar,Gabriel,que estudei a fundo o positivismo,mas do que vi,não gostei.
- Por que Maine?
- Olha,primeiro,prefiro te convidar para irmos ao Copacabana,que é aquele restaurante tradicional dos jornalistas.Nesses dias,precisamos estar no nosso meio.Vamos comer um bacalhau com um vinho branco.Te confesso que sou mais brilhante assim motivada.
- Pois que seja,aqui conheces tudo!
- Gabriel ,o Augusto Conte ,de quem li a biografia foi – segundo minha análise – um ser bem complicado.E depois terminou por fazer desta teoria uma religião.E com adeptos ferrenhos.Até hoje,tem em Porto Alegre,um templo que abre todos os domingos.
- Já fostes lá,Maine?
- Não,estou adiando esta idéia.
- Imperdoável.Como dizes,dá uma bela pauta,ainda mais neste ano de união Brasil-França.
- Ah! Deixa eu te contar:outro dia (1307)escrevi um artigo intitulado Qual das Franças?. Da França charmosa,avançada,cheia de perfumes e idéias exóticas e febris e a França de Robespierre,do exílio de Napoleão,das derrotas. A escolha que fiz foi chamar De Gaulle e ir desfilar com ele para comemorar o 14 de Julho....
- Quero ler...
- Perdi todo o texto, acho que teclei errado e um anjo mau,desses de computador,levou-o embora.
- Mas Maine,voltando ao Augusto Conte,descobriste mais o que?
- Olha, Gabriel, do pouco dá para rejeitar a teoria;do muito,dá para desejar que tirem a tal frase da bandeira,com todo o simbolismo que esta herança representa.
- Mas..
- Gabriel ,a Constituição Riograndense,Castilhista como chamamos,inspirada nele, é um libelo à liberdade e em nome disso muita coisa foi mal feita.
- Mas ,atualizando um pouco o assunto,tu achas que a reclamada Reforma Política ´pode começar por aí?
- Meu querido colega,não faz mal nenhum revisarmos a historia e desenterrarmos os erros.Esse inconsciente coletivo,não nos faz bem.
- Tem relação com a corrupção?
- Eu não disse isso.Acho que a herança da corrupção é outra.Sabes do que estou falando.Não sei por que lembrei de uma sala na Catedral de Toledo,cheia de peças de ouro,que o guia explicou terem saído do Brasil.E por aí se vai.Isso é herança,isso é sangue,isso é costume.
- Não estás sendo tão peremptória ,Maine?
- Queres o que Gabriel? A gente se criou lutando,procurando saídas.E agora o homem da Estrela Vermelha desceu em outro planeta:olha para um lado,age em outra direção e trata de agradar aos amigos.Agora mesmo comprou dos franceses a sucata “miragiana”.Quer dizer:só trocou de balcão.
- Decididamente isto aqui (se referia ao ambiente) te faz jornalista como antigamente.
- É,graças a Deus.De cegueira,estamos fartos;de mentiras,também.De falsos inocentes,nem se fala.Mas vou parar porque se não vais querer pegar o avião e voltar.E eu não quero isso.
- Diga-me o que te dói mais?
- Ver o futuro que enxergo para meus descendentes.Essa gente nova,Gabriel,só repete uma coisa:não voto mais! E aí?
- Bem,pode ser “o ano do destino”.
- Pois que seja,regado à Luz,cuja Fonte não seca.
- Vamos?
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