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Artigos-->OS ESTIGMAS, DE CHICO MIGUEL -- 13/07/2005 - 22:08 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OS ESTIGMAS DE CHICO MIGUEL









Trata-se de uma obra definitiva, acabada, burilada até o absurdo do tempo: vinte, quarenta, sei lá quantos anos do vir-a-ser até sua escritura definitiva elaborada pelo perfeccionismo de um Flauber.

Ah! meu amigo Chico Miguel! Você nos contagia e nos invade a alma iluminando-a lenta e continuamente "como as luzes das lamparinas que bruxoleiam em quase todas as casas". Você nos faz aspirar em cada frase concatenada o "cheiro do mato próximo"; logo, nós, seres telúricos destas bandas brasileiras! A obra, sentimos, é feita por um poeta; mas quem na memória nasal já não deliciou semelhante aroma? Cheiro de mato verde, cheiro de mata fresca; aroma da terra, da terra molhada!

Esse Chico Miguel sabe explorar esteticamente imagens, aromas, sabores que dão água na boca... e a promessa (certeza) de estarmos vivos e co-participantes dessa sua novela/romance. Há escritores assim, que dão chance para o desdobramento de suas imortais obras; incitam-nos a desconstruí-las e a reconstruí-las ao nosso bel prazer; assim, desarrumar a obra que se ama e que se gosta, pô-la numa nova ordem ou configuração sem, no entanto, comprometer o "pecado original". – El delito mayor del hombre (e da obra) es haber nacido/. - Calderón & Osvaldo.

Sabemos que muitos escritores, filósofos e poetas, ao lerem obras de arte que lhes tocaram realmente, sentem-se como se aquele texto lhes tivesse sido "roubado" e pinta o sinal de Caim, aquele desejo de posse do alheio. E muitos disseram: – Ah! se esse texto fosse meu! Esse cara me roubou esta idéia! – O filósofo Nietzsche sentiu esse drama ao ler Montaigne, Voltaire e Stendhal. Deste último chegou a escrever no seu Ecce Homo – “Stendhal, um dos mais belos casos de minha vida, seu previdente olho de psicólogo.. Rroubou-me ele a melhor frieza ateística”!

Pois bem meu caro Chico Miguel, a sua obra é boa, se ninguém se deixar iscar a culpa não é sua, faltaram os peixes, merece ser desdobrada e reescrita, desconstruída, para novamente ser construída por aqueles que, de alguma maneira, se identificaram com ela. Caso seus "estigmas" fossem os meus, a minha desconstrução ou tentativa de dar mais corda na eternidade, começaria por Lili e não por Ciro. De cara, logo no primeiro capítulo, tascaria assim:

- “Naquela tarde Lili trajava vermelho, um bonito vestido que lhe punha em evidência a cintura fina, o corpo frágil e um pouco dos seios. Tinha ela o viço das folhas novas do começo do inverno e a beleza das flores silvestres quando desabrocham. Os cabelos lhe desciam pelos ombros, pretos como a noite que chegava sem lua, combinando com a cor dos olhos. Mas a pele era feita de luar.”

Se fosse verdade-verdadeira, como seria bom! E se tudo é ilusão, para que desmantelar agora? - São olhos tristes de criança com fome de tudo... Priorizaria, assim, meu caro Chico Miguel - "o eterno feminino" em primeiro capítulo dos seus/meus estigmas.

Das festanças no interior; o vigário em desobriga; missas e novenas; o mestre-escola Nicanor, o homem letrado, o ghost-writer do político, hábito em voga até dos presidentes nos "seus" belos pronunciamentos à nação; - "tudo é um; amor ou eleições - não falta matéria às discórdias humanas"; foguetório e curtição no tempo das "promessas"; eleições me remetem ao poeta do absurdo - Zé Limeira que cito de cor: "não gosto de inleição/que no Tauá não tem/ entretanto mais porém/ se fosse obrigado a votá/ votava num burro brabo/ ou votava num trem/! ; porém o mais significante - os olhos de Lili como as luzes dos faróis!

Carraspana nas festanças pelos jovens iniciados, a paixão vicejando; Ciro bebendo os olhos de Lili simultaneamente com o líquido do copo que casavam bem; - leveza do corpo, a alma voando, o mundo a boiar...

Só um poeta consegue tal façanha, pois poesia é também a prosa com graça e leveza d alma

Mas a salvação era o comércio de alho e cebola (parece-me ainda o é naquela região). Safras boas, correndo dinheiro para felicidade das moças com alvoroço de olho nos bons casamentos; que, diga-se, nem sempre bem sucedidos.

A visão cabocla da cidade (Picos) e da metrópole (Teresina); "com suas belas ruas, não existem mais casas de palha - o governo mandou queimá-las todas” - (não é ficção, é verdade histórica). Muita casa bonita, luz elétrica, água encanada, cinema e cabaré de luxo. O rio é muito largo (o Parnaíba) e ninguém enxerga ou “divulga” outra pessoa do lado de lá. Capital é lugar de gente sem-vergonha. Mas Ciro quer ser doutor; um doutor diferente, com a promessa de retorno à sua aldeia.

Apesar do clássico, Chico Miguel é um clássico, sua tessitura poderá ocorrer a ouvidos "puros", por vocábulos "impuros"! Os chamados politicamente corretos; os "bons" - os homens bons ensinam artes falsas! - gago é gago; aleijado é aleijado; estamos conversados; não é privilégio; é maldição; é a miséria da existência humana; qual, então, o prurido? Chamar aleijado de “deficiente motor” me parece frescura das mais refinadas. Cego é cego, não tem gradação. Chamar cego de deficiente visual subtende-se o pouco cego, o meio-cego e o cego de nascença. - Os homens bons ensinam artes falsas! Tenho medo dos grandes homens, são seres perigosos, criados pelo acaso, exceções e tempestades; são suficientemente fortes para pôr em perigo o que foi lentamente fundado e edificado.

Locke passou a vida demonstrando, que a maior parte das discórdias na filosofia vêm do emprego falso das palavras. - Sucede que o reino da virtude não é deste mundo. - Os homens bons ensinam artes falsas! -

A essa troca permissiva de palavras e conceitos; metáforas suavisantes, nos levam até aos casamentos propostos por pederastas, ditos "gays" atualmente. Nem os gregos nas suas veadagens pensaram tanto! Você pode ter trejeitos espalhafatosos e talvez femininos; pintar-se à maneira das fêmeas; siliconar-se; emascular-se cirurgicamente para ganhar uma "vagina"; (lá em Picos não passa de um capado); ganhar unanimidade e até prêmios no Big Brother; mas cadê o útero? Cadê a guerra dos sexos? Cadê a tensão pré-menstrual? Cadê a gravidez? Você pode imitar uma mulherzinha com toda a humildade e o donaire de uma Roberta Close; todavia não pode ter filhos, não pode parir; logo não há casamento. Entendam de uma vez por todas, mulher não é bicha, mulher é um bicho delicado e perigoso; um animal selvagem em pele de bicho de estimação, e veja: - uma delas já pariu até um deus! Como o homem adora o perigo vai brincar com elas; é seu brinquedo predileto. A mulher é bicho teimoso biblicamente; teve a iniciativa de provar a fruta, gulosa; descobriu ela que as funções animais são mil vezes mais importantes que os belos estados de alma e os ápices da consciência. Entretanto o homem é o guerreiro, ela o seu repouso. Seu maior mérito é embalar a criança que há no homem. Há uma maneira de salvá-la: - faz-se-lhe um filho! - disse Nietzsche e digo eu agora. Já para a “bicha” não há salvação; só maldição e danação eterna; salva-se apenas quando um michê resolve esfaquear-lhe e sangrar-lhe até a morte.

“Impossível! Lili casou, pariu. É a lei”.

O pessimismo em Chico Miguel é providencial. O seu insight lhe deu a exata apreciação da humanidade: o homem é “l animal méchant”, pontifica Gobineau. Infinita falsidade, dissimulação e malícia. O homem é mentira por dentro e por fora ou como bem disse o nosso Machado: "em muita vez os de verdade são menos verdadeiros". O homem, no fundo, é um animal selvagem e terrível; é capaz de sobrepujar qualquer animal; mata e tortura pelo simples prazer! Conhecemo-lo no estado subjugado e domesticado denominado civilização; porém, tênue demais essa cadeia; grilhões que poderão romper-se a qualquer momento, revelando o que ele é realmente. Sua existência é uma imensa “mascarada” (um carnaval) onde tudo é falso e nada sério, ensina Schopenhauer, aconselha inclusive ensinarmos aos jovens, desde cedo, essa realidade.

Mas há outros estigmas; as deformidades morais, que certamente não são de Chico Miguel; arrolemos rapidamente: a pedofilia, o sado-masoquismo, a consagração da bestialidade, o voyeurismo adentrando na TV e Internet; os intelectuais rendidos às benesses do Estado; os artistas comprados pelo comércio; críticos e rebeldes amaciados pelo sucesso; a “severinada” cleptomaníaca de políticos oposicionistas integrados ao sistema e toda a gama de aleijões morais e sociais. Essa anomia me tira do sério...Penso num tranco...num regime de exceção...não, não mesmo...Esqueço a má idéia...Faço voto de silêncio...Fico entre a cruz e a espada...Todos são filhos de Deus... Porém nem todos ficam à direita do Pai... Há que reconhecer a desigualdade no desigual... Vem-me a revolta, entretanto não sou ressentido. Recito Homero - a vingança é mais doce que o mel! O conflito entre a opressão e a liberdade é eterno; mesmo os batalhadores pela liberdade podem se tornar opressores!

Percebo que desando, minha mente faz cabriolas, vejo e aprovo o melhor, mas sigo o pior; quem sabe faz a hora... Estou de carona, numa história contada e recontada; sou um leitor do terceiro grau, história de boca a boca como as boas histórias, eis o curinga de Chico Miguel. Benedito Luz e Silva e José Afrânio Moreira Duarte são dois craques que acompanham e orientam o leitor nessa viagem literária; desempenham uma espécie de guias de cegos, ajudando-nos a não ficar como jumento em beira de estrada; duas excelentes críticas literárias. Não menos excelente a capa ilustrada do livro: uma mandala estilizada, de parabéns Alda Veloso. Em sânscrito significa círculo sagrado; forma geométrica usada para meditação. Quem leu C.G. Jung, o criador da psicologia analítica e o grande dissidente de Freud, sabe que a mandala foi o modelo ideal encontrado por ele; um símbolo para a concepção de nossa individuação; representa algo assim como a nossa caminhada existencial, seguimos em contínuo amadurecimento psicológico, nessa caminhada para o centro (O Self) em meandros circulares da vida. Somos todos peregrinos em busca instintiva da Totalidade e da Transcendência; da perfeição e da realização; do Absoluto. Essa extraordinária descoberta de Jung reuniu a emoção e a razão na busca da totalidade, característica do fenômeno humano em todas as expressões da cultura.

Tenho dito, um abraço e até mais .

Teresina, 12 / 07 / 2005



Osvaldo Monteiro, Membro da UBE-PI









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