diz-me, há como escapar
do rastro dos teus poemas?
amorosa sinfonia
- perigosa e úmida
segue-me pelo dia
ah, se o que me inspiras é inevitável,
culpo-te por tudo
declaro aqui
- quero-te amigo
pois antevejo o abismo,
sem poder adivinhar-lhe
o ponto exato em que me precipito
declaro aqui
- precisas parar de construir
essa armadilha doce,
em que me aprisionas,
todo dia
pensa:
se quero amar como quem caminha,
preciso fugir-te.
não vai ser assim contigo.
o que pressinto
é muito doce e quente.
- no ar, o perfume do perigo.
talvez pudéssemos
apenas alimentar a alma,
com nossa amorosa ternura
e saber-nos amantes em sonhos,
quem sabe já vividos?
talvez fosse prudente
manter o beijo preso no poema
e a pele distante
e o olhar, perdido na lembrança.
talvez devéssemos
não mais ver-nos,
para que nosso encontro
fique como recordação suave,
como os amores infantis,
leve bruma que nos faz sorrir,
aperta o peito
e nos traz suspiros
e tu? o que me dizes?
não sei o que mais temo
- cair no laço ou fugir do perigo!
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