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Artigos-->Quem Sabe, Faz a Hora -- 07/07/2005 - 23:11 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


QUEM SABE, FAZ A HORA

(Por Domingos Oliveira Medeiros)



Não é a primeira vez que o Presidente Lula reclama do pouco tempo de que dispõe para realizar tudo que gostaria. Em que pese nosso respeito à opinião de Sua Excelência, a reclamação não procede. Primeiro, porque existe a possibilidade de um segundo mandato, a partir do instituto da reeleição, a respeito do qual, diga-se de passagem, sou totalmente contra, por considerar que o citado instituto não guarda sintonia com os princípios elementares do regime democrático. Tal como os seres vivos, a democracia necessita de constante oxigenação de seus órgãos. Daí a necessidade imperiosa de rotatividade do Poder.



A perpetuidade no Poder gera vícios que contribuem para a contaminação e poluição do meio ambiente, favorecendo terreno fértil para o plantio e o crescimento da corrupção. A familiaridade com a rotina do poder desemboca, quase sempre, na fadiga e no desinteresse das pessoas, que, empurradas pela fragilidade do ser humano, acabam cedendo às tentações que lhes são propostas. A perpetuidade no poder dá origem, portanto, a uma permanente situação de risco. E a Administração Publica não pode admitir tais situações. Sob pena de contribuir para o aumento da corrupção. Corrupção que cresce e se avoluma, deixando de lado os verdadeiros ideais e objetivos de bem-estar da população e do desenvolvimento de nosso pais,



Basta ver a crise que se instalou em nosso país. Tudo por conta, em tese, do uso do projeto de poder. Só se fala em reeleição. Não se toca nem se trata de projetos que beneficiem a população. Toda a discussão gira em torno da negociação política, com vistas às eleições, vale dizer, a perpetuação do poder. O que não difere muito dos regimes ditatoriais, posto que não se respeita o princípio constitucional segundo o qual todo poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido. O povo, que é rei apenas no dia da votação, passa ser escravo e mero observador dos interesses escusos dos representantes que ele mesmo elegeu. Perde-se, portanto, muito tempo discutindo a próxima eleição.



Depois, é preciso lembrar que determinados projetos de governo possuem diferentes tempos de maturação (de curto, médio e longo prazos) o que, convenhamos, torna impraticável estabelecer um tempo de mandato suficiente para realizar todos os programas e projetos pretendidos pelo governante da hora.



A questão, a rigor, não é de falta de tempo. Mas do arraigado vício da descontinuidade administrativa. O presidente que entra, independentemente de sua filiação partidária, é o presidente de todos os brasileiros e, por isso mesmo, deveria agir no rumo dos interesses da população, independente dos ideais deste ou daquele partido. Aproveitar e dar continuidade aos bons projetos de seu antecessor, seria medida de bom senso.



O fator tempo, é bom que se diga, varia de pessoa para pessoa. E depende de variáveis como, por exemplo, honestidade de propósitos, objetivos bem definidos, competência e liderança para conduzir o processo como um todo. Além de um pouco de sorte e de muita humildade para ouvir mais do que falar. Juscelino, por exemplo, conseguiu realizar cinqüenta anos de desenvolvimento em apenas cinco. E tudo porque soube utilizar, com eficácia e competência, o tempo de que dispunha. Assumiu a Presidência da República sabendo o que iria realizar. E ganhou tempo na condução do seu plano de metas. Bem definidas e bem planejadas. Construiu Brasília e deslocou o eixo de desenvolvimento para o centro do país. Criou a SUDENE, como pólo de desenvolvimento do Nordeste, a região menos favorecida. Apostou na criatividade do empresariado e do trabalhador brasileiro quando inaugurou e incentivou a produção automobilística nacional. Deixou espaços para que seu sucessor continuasse a linha de estadista bem sucedido. O caminho da ousadia possível: inerente a todos os atletas que conquistam campeonatos e medalhas.



Há corredores de maratonas que completam o percurso de 10 mil metros, por exemplo, em 30 segundos; enquanto outros, demoram horas; e, em alguns casos, nem completam a corrida. A diferença está no preparo de cada um. Na disciplina, dedicação e esforço pessoal. Muito treinamento, boa equipe de assessoramento, liderança e firmeza de propósitos. Disciplina, organização e objetivos bem definidos. Variáveis que fazem a diferença.



A governabilidade não necessita, a rigor, de negociação prévia junto à Câmara de Deputados ou ao Congresso Nacional. Bons projetos costumam contar com o apoio popular; e, nessa condição, dificilmente são rejeitados pelos parlamentares. É preciso evitar a indecorosa relação do toma-lá-dá-cá entre o Executivo e o Legislativo. Onde cargos e ministérios são trocados por apoios a projetos de interesse do governante de plantão; projetos, quase sempre, dissociados dos interesses da população que o elegeu. Prática menor da política equivocada de alianças de qualquer ordem. Como se os meios justificassem todos os fins.



Por tudo isso, é forçoso concluir: o governo, ao contrário do que alega, dispõe de muito tempo; todavia, não sabe, dele, fazer uso com a eficiência e eficácia necessárias. E não poderia ser de outro modo: um líder sindical que depois de vinte e quatro anos de lutas em favor dos trabalhadores chega ao poder sem um programa consistente de governo; que substitui a função de planejamento pelo improviso; que se apressa em inaugurar programas de apelo populista; que é lento em relação ao processo decisório, como a troca de ministros, por exemplo; que admite a criação de uma gigantesca máquina administrativa, com trinta e cinco ministérios, com funções superpostas e desarticuladas entre si; que dá mostras de total indiferença para com os recursos humanos colocados à sua disposição, seja pela falta de política salarial consistente,. seja pela falta de ações voltadas para a capacitação e o aperfeiçoamento profissional de sua força de trabalho; que se vale de cerca de vinte mil cargos comissionados para nomeações, no mais das vezes, de parentes, amigos e aliados políticos, sem qualquer critério técnico em relação ao desempenho de seus indicados ; que perde tempo com viagens para o exterior, cujos resultados são de eficácia duvidosa; que perde tempo evitando que denúncias e indícios claros de corrupção cheguem a bom temo; que faz uso excessivo de medidas provisórias, nem sempre calcadas em critérios de urgência e relevância....enfim, governo com este perfil não pode alegar falta de tempo para concluir seus projetos, se é que eles existem.



O resultado de todos esses equívocos, com o tempo, acaba envelhecendo, precocemente, governos e governantes. Que terminam caindo em abismos cavados com seus próprios pés, no dizer do saudoso Cartola. Empurrados por moinhos de ventos contraditórios. Parafraseando a letra de outra famosa canção: “Quem sabe, faz a hora, não espera acontecer”.



07 de julho de 2005

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