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Artigos-->os gritos que não foram ouvidos -- 01/07/2005 - 11:26 (maria cecilia de godoy dias) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Os gritos que não foram ouvidos.



Sou uma mulher que possui uma trajetória de muito idealismo e crença nos valores que devem permear as relações humanas, ou seja, respeito, solidariedade, empatia, compaixão. Sempre acreditei nestes princípios e procurei orientar as minhas atitudes com base na aplicação dos mesmos. Entretanto, eu, que me considero uma pessoa com fé, de repente a sinto abalada, diante da constatação de que todo o conhecimento dos fatos que adquiri ou vivenciei, levam-me a um cabedal de dúvidas, que me deixam atônita.

Quero falar aqui sobre as lágrimas que não ecoaram em nenhum reduto de auxílio. O que tem me exasperado ultimamente é: qual é o segredo do jogo? Qual é a senha para não sermos atingidos pela inesperada e atroz mão da tragédia? Seria orar, ser bom e justo, ajudar ao próximo, ser honesto? Ora, quantos que já choraram perdas, sofreram dores, foram vítimas de assassinatos cruéis e eram pessoas que seguiam todas essas regras como direcionadores de suas vidas? E daí?

Toda vez que ocorre uma tragédia e ouço pessoas que sobreviveram a ela dando seus depoimentos, fico angustiada e confusa ao ouvi-las declararem: - Estou aqui, graças a Deus!, ou, - Deus não permitiu que algo tão terrível me acontecesse, ou, – Deus ouviu minhas preces. Então me pergunto: e os outros? Aqueles que passaram pelo sofrimento de forma solitária e desesperadora, porque por mais que clamassem, não foram salvos ou aliviados de terríveis agonias. Não bastou possuírem fé, serem pessoas generosas e gentis, porque não foram ouvidas? E o que dizer então, quando a dor se abate sobre crianças inocentes que nem tiveram tempo de entender o significado de qualquer regra.

Esses questionamentos inquietam minha alma, toda vez que me deparo com as grandes atrocidades cometidas pelo homem contra o seu semelhante. Quantos judeus imploraram por ajuda, por um milagre, durante seu longo calvário num campo de concentração, apartados de suas famílias, pais e filhos isolados, sofrendo o terror cotidiano da ameaça de torturas intermináveis ou mortes atrozes. Quantos gritos não foram ouvidos, por quê? O que torna uma dor digna de ser aliviada e outra não. É a mesma dor, a mesma carne, o que define os finais diferenciados para a mesma história?

Lembro-me da tragédia que se abateu sobre as famílias de três garotos, que no ano de 2000, simplesmente foram passar um final de semana na casa de praia de um deles, apenas para curtir o sol, rir de coisas tolas, paquerar as meninas. De repente, a atrocidade. Esses meninos que queriam apenas viver, que estavam tão alegres e completamente inocentes a respeito de tramas doentias que os rondavam, foram assim, surpreendidos por mãos guiadas por mentes assassinas e cruéis, que os sacrificaram sem dó, nem um mínimo de piedade, apesar de todas as suas preces e pedidos de ajuda. E essas mães e esses pais, que, com certeza pediram tanto pelos seus filhos, quanto eu pelo meu, ou qualquer pessoa que os tenha, porque foram abatidos por essa dor lancinante, apesar de estarem sempre orando pelos seus? Eu não sou melhor que eles, nem você, que está me lendo agora. Então por quê?

Esses exemplos que citei dentre milhares que existem na história da humanidade e ocorrendo todos os dias neste planeta, são os que têm abalado a minha fé e confiança em qualquer tipo de justiça. Será que somos realmente acompanhados e protegidos por algo superior a nós? Ou somos apenas peças de um imenso tabuleiro, que simplesmente, ao acaso, é movido de maneira aleatória, tal qual uma roleta russa? Quando poderá ser a minha vez ou a sua?

Escrevo tudo isso, não por querer levar desesperança ao coração das pessoas e, muito menos, para desafiar a fé de qualquer um que esteja lendo este texto. O que tenho precisado é de argumentos que me tirem desse conflito no qual minha alma está envolvida.

Alguém pode me dizer qual é o mecanismo que gira essa roda louca que se tornou nosso destino nesta terra?

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