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Artigos-->NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA (E DA VIDA) -- 26/06/2005 - 11:15 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA (e da vida)



Francisco Miguel de Moura*



Ando na contramão da realidade da vida, da história, da sociedade. Não dança (nunca aprendi direito), não canto por não ter voz, não gosto de futebol por nunca ter jogado. Gosto de ler, de falar sobre leituras, viagens, política (já participei da política, mas vi logo que não era minha praia (pra usar uma gíria carioca). Gosto de escrever. Mas vejo que os espaços para a poesia, a literatura, assim como para a filosofia, a psicologia e outras matéria que dizem respeito à alma humana, estão desaparecendo cada vez mais dos meios de comunicação (rádio, jornal, tevê, computador/internet). Já minha necessidade de escrever mais enlarguece. Resumir o que não se pode resumir? Como? Resta a alternativa de bipartir ou tripartir o assunto. Mesmo assim, como é que vou escrever a crítica a um romance de 800 páginas em duas ou quatro laudas de papel? De um romance como “Ana Karênina”, de León Tolstói, que acabo de ler? Não gosto de escrever o que outros já escreveram. Gosto de criar. Não é permitido escrever contos nos jornais, às vezes é possível publicar uma nota política, de crime, ou seções de biografias. Sacrifico o tamanho do artigo, tirando a gordura (dizem). Quem sabe se, entranhada na gordura, não vai carne da boa e até osso? Por outro lado, nós precisamos de gordura, sim. Guardo os artigos que escrevia quando tinha o dobro do espaço de hoje, que muitos eram crônicas e pretendo publicá-los em livro, sabe Deus quando. Mas vou continuar resumindo. Melhor do que parar.

Mas, nessas condições, a crítica deixa de ser crítica, a arte deixa de ser arte e vira propaganda. E tenho certeza de que não sou disto, não faço anúncio de melhoral, pasta de dentes, anúncio de out-door (melhor dizer antedor). Se penso em resumo demais artigos ou pensamentos, não me sinto bem, a qualidade, a naturalidade caem. Escrevo poesia, porque é o supra-sumo da literatura. Mas, publicar onde? Vivo num mundo em que “a letra” não tem nenhum valor artístico, vale pela técnica e prática que transmite, e assim mesmo muitas vezes substituída por desenhos mal feitos, como se fôssemos ainda o homem da caverna. Pela tevê, tudo é imagem bonita, feia, horrorosa, mas cor, movimento, rapidez. Como se as outras formas de arte, especialmente a literatura e a música não tivessem cor, movimento, cheiro, sabor... E quando se pensa, lê, escreve, ou se contam histórias, se lhes interpretam, são criticadas, elogiadas, analisadas, não há imagens? Ou falta imaginação em quem não quer tê-la, ou está obnubilado pela televisão.

Falem na crítica strito sensum e um pensamento me veio, não posso deixar de externá-lo: “Todos nós estamos, a todo instante, como exercício da liberdade, criticando uns aos outros e o mundo material.” Frase minha, coloco-a entre aspas para chamar a atenção do leitor. É assim que o mundo anda, principalmente se usamos da autocrítica: o verdadeiro mundo dentro daquele ilusório da mercadoria, da melancolia de “ter tudo e não ter nada”, da população oficialmente alfabetizada que deixou “a letra” na escola e esqueceu. E olhem que tem muita gente aí que se considera de elite.

“O inferno não são os outros”, como disse Sartre . São e não são ao mesmo tempo, porque o outro é nosso espelho. Se fosse verdadeiramente certo o que disse o filósofo do existencialismo francês, o mundo seria um inferno e o suicídio uma norma de vida. Sou mais para Ortega y Gasset, quando expendeu o pensamento de que “eu sou eu e a minha circunstância.” Ou “nós somos nós mesmos e a nossa circunstância”. Só que já creio que o homem da era “tecnocrônica” que vivemos, por falta de autocrítica, está perdendo as rédeas do “ser mesmo” para ser apenas “a circunstância”.

_________________________________

*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina (e-mail:franciscomigueldemoura@superig.com.br

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