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Artigos-->VELHA EUROPA, NOVA EUROPA -- 19/06/2005 - 12:33 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu gosto de Jacques Chirac. O Senhor Corvelo também. “Esse é cá dos meus” dizia-me ele enquanto eu lhe explicava o comentário de Chirac sobre a onzenice de Tony Blair, na reunião cimeira da União Europeia.



“Ele quis guardar o cheque todo” declarou o presidente francês, em conferência de imprensa. “É deplorável que o Reino Unido se recuse a contribuir com uma quota parte razoável e equitativa para as despesas do alargamento”.



Aconteceu em Bruxelas nos passados dias 16 e 17 onde se reuniram os 25 chefes de estado (ou de governo) da União Europeia. Tratava-se de aprovar o orçamento para o septénio de 2007-2013. Foram dois dias dramáticos, talvez trágicos para a Europa, e especialmente para os dez novos membros que precisam desesperadamente da ajuda económica dos membros mais ricos.



O cheque que Blair levou todo inteirinho para casa, isto é, para os cofres ingleses, não era brincadeira nenhuma – à volta de quatro mil e quinhentos milhões de euros... "é grandeza de dinheiro – comentava o Senhor Corvelo – grande onzeneiro, havia de ter vergonha na cara, esse míster Blair!" O senhor Corvelo ainda usa as palavras e a expressões de há meio século.



Algumas vindas de muito longe, do tempo em que era pecado emprestar dinheiro a juro.. Onzeneiro, por exemplo, era quem emprestava dinheiro à onzena, isto é, por cada dez que emprestava recebia onze. Uns míseros dez por cento que, comparados com os cartões de crédito de hoje, até parecem uma autêntica benesse.



Mas adiante. O dinheiro que os britânicos não querem deixar nos cofres da União, para ajudar os dez membros novos, é um reembolso a que a Inglaterra tem direito desde 1984. Nessa altura, a economia inglesa atravessava um período difícil e precisava de ajuda. Mas agora a Inglaterra é um dos países mais ricos da Europa e devia renunciar ao seu reembolso. Pelo menos é o que pensam, quase unanimemente, os outros vinte e quatro membros.



É claro que Tony Blair vê a questão com outros olhos, e aponta o dedo a Chirac como o grande culpado do impasse. Quando a França se dispuser a reduzir os subsídios à agricultura, a Inglaterra dispõe-se a negociar o seu reembolso. Mas Chirac diz que não e não e não! E teimam e cada um puxa a brasa â sua sardinha, e os novos membros agonizam ao ver desvanecer-se o sonho da solidariedade europeia que lhes fora prometido com a adesão. Um representante dum dos novos membros desabafou com palavras de profunda desilusão: “Isto é ridículo, frustrante e, para nós, completamente incompreensível.”



E a cimeira acabou sem se chegar a um acordo e a União Europeia não tem dinheiro para o período de 2007-2013.



Não resta dúvida nenhuma a ninguém que a Europa está em crise. E não é apenas uma crise de crescimento. Desta vez é mesmo a sério. E sem grande esforço consegue-se vislumbrar a razão de tudo isto. Não é unicamente o reembolso a que os ingleses não querem renunciar. Nem são os subsídios agrícolas a que os franceses se habituaram, nem é mesmo a tremenda carga financeira que o alargamento do ano passado exige. Será isso tudo, mas é muito mais ainda.



A Europa atravessa uma crise ideológica. Está a tomar forma, no seio da Europa, um novo conflito entre as duas ideologias que polarizaram o planeta durante o século passado. Dum lado o capitalismo, do outro o socialismo. A Inglaterra e a França são apenas as pontas de lança de cada um dos campos. Esta confrontação vai-se tornando cada vez mais clara na comunicação social. Fala-se do capitalismo anglo-saxónico e no socialismo franco-germânico.



Aquilo a que os franceses (e muitos outros europeus) não querem renunciar não é apenas os subsídios agrícolas é a todo um sistema feito de mil e um programas de segurança social, que os protege do berço à sepultura. O que os ingleses e os seus correligionários preconizam é uma europa liberal, do tipo americano, capitalista, onde as estruturas sociais e o destino de cada um se tecem no mercado, e só no mercado.



Tony Blair que, com a sua recusa de renunciar ao reembolso inglês, de facto, bloqueou a passagem do orçamento europeu em Bruxelas, vai ser o presidente do conselho europeu para os próximos seis meses. É uma responsabilidade tremenda porque a Europa que ele vai superiormente gerir é, por culpa própria, uma Europa sem dinheiro, sem orçamento. Mas é também uma grande oportunidade para ele se explicar.



Que tipo de Europa é que o capitalismo anglo-saxónico quer? Até que ponto é que é possível um compromisso com o campo socialista? Regressamos a um conceito de Europa-Mercado-Comum, multinacional e multinacionalista, onde os únicos interesses comuns são o s económicos, onde o único ponto de encontro, a única plataforma de diálogo é o mercado, ou avançamos para uma Europa politicamente unida, mais voltada para os seus cidadãos - sejam eles suecos ou italianos – e para as suas necessidades e o bem estar como eles são definidos pelos cânones socialistas?



Tony Blair volta a Bruxelas dentro de dias. Vai-se explicar perante o parlamento europeu. Vai ter muito que dizer sem dúvida. Aconselho os meus sobrinhos a prestar muita atenção ao que ele vai dizer.



O Senhor Corvelo e eu ficamos à escuta.
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