Deusa Poesia
Assim, acredito-te poesia.
Tu que me falas muitas vezes,
A palavra do impossível
Ou do apenas desejado.
Assim, acredito-te poesia.
Por registrares sob matizes diversos
A humanidade do universo
Em que te envolves.
Assim, acredito-te poesia.
Tu que me permites imagens
E cenários tão distintos,
Quando por minhas mãos
Deixas-te ser despida.
Assim, acredito-te poesia
Quando invocas os meus olhares
Para que te provem acariciando-te,
Ouvindo-te não apenas o som,
Mas identificando o tom da tua melodia.
Assim, acredito-te poesia.
Tu que me provocas
Uma intimidade de gestos,
Sentidos e expressões
Que vão além da letra
Consumada e consumida.
Assim, acredito-te poesia,
Porque me és natural
Como o deslizar de águas do rio ao mar.
Crias-me e recrias-me,
Quando dás-me a conhecer
As faces múltiplas da minha emoção
E do meu contemplar o mundo.
Assim, acredito-te poesia.
Quando fazes encontrar-me
Com meus tantos silêncios.
Como se eu tocasse a alma das palavras.
E tanto mais é inquietante
E, ao mesmo tempo pacificador este encontro,
Quanto mais me permito
A liberdade do apenas sentir-te.
Assim, acredito-te poesia,
Porque as asas das letras
Fazem-me alcançar horizontes inimagináveis,
Como se fosse o infinito
Apenas passagem e nunca destino.
Flutuo em teu ventre poesia
Entre o dizer e o sentir.
E há sempre uma lacuna,
Um hiato no verbalizado,
Como se fosse um espaço a ser fertilizado
Com a gestação de um outro verso.
Assim, acredito-te poesia,
Porque sempre haverá em teus lábios
Uma prece emudecida
Como se estivesses no templo,
À espera da súplica dos olhos,
De alguém que te contemple.
© Fernanda Guimarães
Em 17.04.02
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