Em um dos mais belos sonetos brasileiros, encontramos no primeiro verso do segundo terceto, o "som desagradável...": como eu...":
ÚNICA
No turbilhão da vida quotidiana,
há sempre um nome oculto de mulher...
Há, no tumulto da existência humana,
alguém que a gente quis e que ainda quer...
E, numa sede de paixão insana,
cego e humilhado, aceita outra qualquer,
mas sem íntimo ardor, de alma profana,
porque a alma nem acordará sequer...
E vão passando assim, uma por uma,
mulheres e mulheres, como vieram,
sem depois despertar saudade alguma...
Trsite de quem, como eu, vê que, infeliz,
teve todas aquelas que o quiseram,
mas nunca teve aquela que ele quis!...
Nilo Bruzzi
Li, há anos, no antigo (e que deixou de circular) jornal carioca Correio da Manhã que, quando um poeta - não recordo o nome - recitou o soneto acima para o, então, Príncipe dos Poetas Brasileiros (Bilac já tem muitos sucessores!),ele ficou entusiasmado e exclamou:"Este soneto não é Única, é Único!"
Todavia, salvo melhor juízo, o cacófato existe, a tirar um pouco o brilho desse belo poema, que, alías, é o soneto decassílabo de que mais gostamos, na língua portuguesa!
Mas, um dos nossos professores de português (nascido na fronteira de Portugal com a Espanha), o Professor Elvite, falou, certa vez, em sala de aula:"É muito difícil se escrever em nossa língua, sem cometer cacófatos..."
E, por falar em cacófato e português, o maior poeta modernista lusitano, o famoso Fernando Pessoa, cometeu o conhecido "Uma mão enorme..."
(não recordo em qual de seus poemas, se em Carrossel, Tabacaria ou outro...).
Aqui, no Brasil, já li em trova classificada em Concurso o "batido" cacófato: "Ela tinha..."
Quem se interessar pelo assunto e quiser desenvolvê-lo melhor, gostaria de aprender mais a respeito...
Por fim a definição do Aurélio:"Cacófato.{Do gr. kakóphathon, pelo lat. cacophaton.} S. m. Gram. Som desagradável, ou palavra obscena, proveniente da união das sílabas finais de uma palavra com as iniciais da seguinte; cacofonia."
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