O QUE VOCÊ ESTÁ LENDO?
Francisco Miguel de Moura*
Que livro você está lendo, meu querido leitor? Jornal? Revista? Não, estamos querendo saber do livro. Outro dia escrevi que a nossa vida privada se resume mesmo à “privada”, durando aquele tão pouco tempo. O resto é vida doméstica, familiar, ou então pública. Ora, há algumas formas de tornar nossa vida privada muito mais profunda e extensa. Ler é uma delas. Ler romances, contos, crônicas, poemas, biografias, memórias, ensaios... É quando a gente pode isolar-se mesmo no meio de muita gente. Assim, no ônibus, na fila do banco, no consultório médico, ninguém vai perder tempo, puxar assunto com desconhecido, sem mais nem menos. Ninguém hoje tem mais esse costume. E mesmo que tivesse, a que levaria? A muito pouco, pois todos têm medo de descobrir-se, embora queiram fazê-lo, receio de não serem bem entendidos, ou o reconhecimento a que tem direito.
Com o livro é diferente. Você o abre e conversa. Se conduz um lápis pode anotá-lo, contestá-lo, mas também aprender muito. Consola, distrai. Se for poesia, eleva até os páramos junto ao Criador dos mundos. Os poetas, quando inspirados, são colaboradores na obra da criação, pois sempre haverá o que criar. Mesmo que este mundo se acabe, dos seus escombros nascerão outros.
“Diz-me com quem andas que eu te direi quem és”, ditado dos antigos. Sabedoria. Com os amigos livros andamos bem, por mais que haja algum que não seja muito recomendável. Não falo naqueles de distração, anedotas, piadas, cartuns, fotos etc. Falo nos que possam pregar falsa moral ou falsas verdades, no intuito mesmo de enganar o incauto leitor e a si próprio, o autor. Mas a possibilidade é uma em dez mil de pegar-se, na verdade, um mau livro.
Quem não lê não ouve com o ouvido de dentro nem vê com olhos de distância, os olhos da imaginação. “Na Europa todo mundo está lendo ou comentando um livro”, frase da escritora Marina Colassanti, numa entrevista. É o caso de perguntar-se: Por que lá se lê tanto? Por causa da vida moderna, do hábito de leitura que apanham muito cedo. Porque a leitura consola, distrai, instrui, educa e eleva. Se você nunca leu um livro artístico, pegue um escolhido, indicado por seu amigo mais confiável, ou procure-o na livraria pelas seguintes indicações: – Orelhas (que hoje são chamadas de abas), prefácio, se é romance, conto, crônica, novela ou poesia. Tome pé sobre a biografia do autor, pois quem é bom naturalmente faz coisas boas. A ação é que marca a bondade de cada um. No caso, a ação é escrever bem sobre o assunto do seu particular interesse. Há uma variedade enorme de autores, livros e temas. Leia também o índice e, se possível, leia uma, duas páginas, ou um capítulo. Isto não é furtar. As livrarias permitem, sabem que quem quer o livro leva-o para casa, lê, relê e comenta.
Seria tão bom que os brasileiros lessem mais! Ler não é pecado. O contrário é que é grave. Não minta, diga o que leu (ou está lendo) e será mais compreendido, estimado, reconhecido.
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*Francisco Miguel de Moura, brasileiro, escritor, mora em Teresina (porque gosta).
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