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Artigos-->Parece que nada mudou -- 06/06/2005 - 18:28 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O exemplo vem de cima



Embora antigo, o artigo

permanece atual.



Em muitos lugares deste pais, de gente ilustre e gente do povo, tenho ouvido com freqüência que a crise do Brasil é de natureza moral, nosso organismo social está enfermo por moléstia altamente contagiosa, que é a falta de vergonha, o maucaratismo, a desones- tidade pura e simples!

Não sei se engrosso o time dos que pensam assim, pois sempre tive a sorte de conviver com muitas pessoas de conduta ilibada, entre elas profissionais liberais, empresários, gente de banco, do comércio e da universidade, homens do povo, artistas, tantos que pautam suas vidas pelos melhores padrões morais.

Mas, se não chego a integrar esse numeroso e desalentado grupo, não deixo de reconhecer que a sem-vergonhice ganhou foros de instituição nacional - faltando apenas o logotipo e o "jingle" para aparecer em horário nobre da televisão ...

O que me impressiona e me preocupa nessa questão é constatar que a falta de moralidade cresce na razão direta em que os poderes públicos a estimulam, por sua ação ou omissão.

Na verdade, só chegamos a esse estágio de descaramento que escandaliza tanta gente porque tivemos um regime autoritário durante tempo demais, com cerceamento das liberdades individuais e sobretudo com a imprensa amordaçada.

A revolução que muitos fizeram sob o pretexto de combater a corrupção e a subversão, como todo movimento que desemboca na ditadura, em regime fechado, terminou por conviver com níveis inigualáveis de roubalheira, desídia e empreguismo - e ainda que nos altos escalões se buscasse coibir a safadeza generalizada., essa grassava solta em muitos ambientes.

Os grandes escândalos financeiros, a locupletação dos que se aproveitaram das benesses geradas pelos sistemas de incentivos e subsídios, os "negócios especiais" que envolveram as grandes obras públicas e muitas atividades de exportação, quase tudo feito às escâncaras, despudoradamente, levaram as pessoas a descrer das boas intenções dos que proclamavam sua disposição de corrigir todos os desvios.

O pior de tudo era a certeza da impunidade, confirmada pelo fato de não se conhecer qualquer caso de corrupto que tenha ido parar na cadeia ...

Mas, essas são ações reservadas aos barões e tubarões, personagens de quem se conhecem o nome, CPF e endereço

O problema maior, no meu entender, é o que afeta a nossa vida, o dia-a-dia de milhões de pessoas condenadas a uma convivência rotineira com a venalidade, sob as mais variadas formas.

Essa situação deforma nossos valores e entorpece nosso senso crítico, uma anestesia em nossa sensibilidade moral. Os atos banais da existência de qualquer cidadão, as formalidades que são o produto da burocracia civilizada sempre esbarram em dificuldades, emperramentos e procrastinações se não contarem com a "lubrificação" que evite esses atritos protelatórios.

Nos mais variados órgãos da administração municipal, estadual ou federal, a propina é o estímulo que dá regularidade ao andamento dos processos.

Em repartições como os cartórios, ninguém conhece as taxas previstas nas tabelas oficiais, mas quem quer ser atendido nos prazos normais não pode desconhecer o valor do ágio, o popular "por fora" , que desemperra a máquina cartorária.

O que aconteceu nos porões dos poderes menos transparentes, o Legislativo e o Judiciário, não podia ser pior para a formação do caráter nacional, pois dessas instituições, responsáveis pela elaboração e aplicação das leis, guardiãs dos valores éticos da sociedade, se espera, sobretudo, o exemplo e a isenção.

Aqui, pelo contrário, o que se vê é o empreguismo e o nepotismo generalizados, as decisões em causa própria que resultaram no aparecimento de situações iníquas no campo dos salários e gratificações.

O famoso "jeitinho brasileiro" , um antigo modo de ser meio inocente, meio malandro, que caracterizava o comportamento flexível e tolerante dos habitantes destes pais, perdeu sua condição original e degenerou-se. Hoje, o "jeitinho" está associado ao "molhar a mão" ao sórdido "é dando que se recebe" , pois naturalmente todo mundo quer levar vantagem em tudo “, certo !”.

A tal ponto se vulgarizaram esses conceitos e a sua avassaladora prática que até mesmo aquela parte não corrompida da sociedade, sob o pretexto de defender-se do governo, passou a adotar procedimento ilícito, principalmente apelando para a sonegação de taxas e

impostos.

E ao constatar essas coisas, porque, afinal, não me assusto tanto diante desse quadro aparentemente sem jeito!

Porque, graças a Deus, sei que o caráter básico do nosso povo é bom, é honesto, e ele vive à procura de melhores paradigmas.

Agora, com a novidade da democracia, que nos obriga a votar periodicamente para elegermos nossos governantes, as coisas vão começar a mudar.

Diferentemente dos colégios eleitorais fechados que escolhiam os dirigentes com o objetivo de assegurar-se de mais favores e privilégios, o povo vai eleger as pessoas que sejam capazes de dar -lhe o bom exemplo e de trabalhar pelo bem comum.

Pois o que realmente é importante na democracia é que o voto tanto serve para eleger os bons candidatos quanto para cassar a carreira política de todos que frustrem as aspirações do povo.

21.10.89

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