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Artigos-->DAR TEMPO AO TEMPO -- 06/06/2005 - 00:37 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


“É preciso dar tempo ao tempo. Não se pode esperar que uma menina de quinze anos salte para os vinte cinco, dum dia para o outro.” É preciso dar tempo ao tempo, mormente se é tempo de crescer, dizia-me o Senhor Corvelo.



O Senhor Corvelo é o meu vizinho do lado. E é do Corvo, a ilha mais pequena dos Açores. É homem de poucas letras, mas de muito saber. Ou melhor, de poucos saberes, mas de muita sabedoria. Agora também já está aposentado e temos tempo de sobra para a conversa.



Desta vez, a conversa era sobre a União Europeia e sobre a recusa do Tratado de Constituição pelos franceses e pelos holandeses: “Esperar que uma rapariga de quinze anos se comporte como uma mulher de vinte e cinco? E ainda por cima querer meter-lhe em casa um moiro, ou lá o que é... assim de repente! Essa gente está doida.”



A comparação do Senhor Corvelo, entre uma menina de quinze anos e a Europa dos Quinze que de repente se tornou Europa dos Vinte e Cinco, mete água por todos os lados, mas a culpa não é dele. Fui eu que, no meu entusiasmo de lhe explicar melhor o que se passava com a Constituição Europeia, simplifiquei demais. Símiles, exemplos e imagens nem sempre esclarecem a questão.



Não foi em anos que a Europa cresceu, assim dum dia para o outro. Foi em tamanho.

Mas a comparação do Senhor Corvelo não deixa de ser sugestiva. Muito sugestiva mesmo. E aquele aforismo do tempo a que é preciso dar tempo, e o meter do moiro em casa. E o falar entoado dos velhos do Corvo, com umas vogais muito abertas, cristalinas. É tudo muito engraçado.



Mas o Senhor corvelo tem razão em pensar que o que se passa na Europa é uma crise de crescimento: “é preciso dar tempo ao tempo, mormente se é tempo de crescer.”



A União Europeia, como nós a conhecemos hoje, foi formalmente criada há mais de cinquenta anos, quando a Alemanha, a Bélgica, a França, a Holanda, a Itália e o Luxemburgo formaram a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Foi em 1952. Depois, foram precisos vinte e um anos para que esta Europa dos Seis crescesse e se tornasse em Europa dos Nove, juntando a Dinamarca, a Inglaterra e a Irlanda. Foi em 1973. A seguir, decorreram oito anos para que surgisse a Europa dos Dez, com a adição da Grécia. Foi em 1981. Passaram-se cinco anos para a Espanha e Portugal serem aceites formando-se então a Europa dos Doze. Foi em 1986. A partir daí, só nove anos depois é que a Europa torna a crescer. É a vez da Áustria, da Finlândia e da Suécia se juntarem ao grupo, formando a Europa dos Quinze. Foi em 1995. Passam-se mais nove anos e dá-se a enxurrada. A Europa dos Quinze cresce e, num ano, passa para Europa dos Vinte e Cinco, com a adição do Chipre, da Eslováquia, da Eslovénia, da Estónia., da Hungria, da Látvia, da Lituânia, de Malta, da Polónia e da República Checa. Foi no ano passado, em 2004. Um crescimento de quarenta por cento, numa instituição que foi crescendo tão lenta e cuidadosamente ao longo de meio século, não me parece muito saudável.



O senhor Corvelo tem razão, é preciso dar tempo ao tempo. Tanto mais que os dez novos membros põem questões muito sérias na mente de milhões de cidadãos da “Velha Europa”. São países pobres que ameaçam inundar de mão de obra barata o mercado do trabalho dos membros mais ricos. Pelo menos é isso que parece motivar os franceses e os holandeses que recusam a constituição. E não é apenas medo dos trabalhadores de leste, é medo de que as estruturas sociais não aguentem o influxo demográfico que se prevê com este crescimento explosivo. Os serviços sociais vão ter de atender um número acrescentado de utentes.



Mas há mais, e aqui entra o moiro do Senhor Corvelo. É que já se fazem planos para admitir a Turquia. E a Turquia, na mente de muita gente, não só não é europeia, mas nem sequer é cristã. Não será moira, como diz o Senhor Corvelo, mas é muçulmana.



Bom, o artigo vai longo. Para a semana, prometo voltar ao assunto, que isto dá pano para mangas.



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