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Artigos-->UMA VISÃO POÉTICA DO ESPAÇO SEGUNDO GASTON BACHELARD -- 05/06/2005 - 19:37 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




UMA VISÃO POÉTICA DO ESPAÇO SEGUNDO GASTON BACHELARD (1884-1962)



João Ferreira

7 de abril de 2005





“Quando os cimos do nosso céu se juntarem

Minha casa terá um texto”.Paul Éluard – Dignes de vivre. Paris: Julliard, 1941, p.115







O mundo está aí em sua materialidade física e imediata. Em sua significação semiótica, pode significar tudo e pode não significar nada. Depende essencialmente do eu inteligente que a ele se aplica para o decifrar. Há pessoas que descobrem nele sentidos e transcendências. Há outros para os quais o mundo não significa nada.



Em sua experiência quotidiana, o homem conhece a materialidade e a resistência do solo que pisa. Conhece e sente a fluidez do ar que respira num determinado ambiente. Percebe os muros da casa que habita. Como ser inteligente escolhe espaços, freqüenta espaços para se divertir, para morar. Pela sua sensibilidade e interesses, viaja pelos espaços, busca os espaços, conquista os espaços. Quando decide, compra também espaços. O espaço é como que uma vertente de seu movimento. Nasce e cresce nele o desejo e a volúpia de ter e de possuir espaços.



Em seu livro "A Poética do Espaço", o filósofo francês Gaston Bachelard (1884-1962) procedendo a uma específica análise de espaços e lugares, ou a uma topoanálise, como seria correto dizer-se, cria uma reflexão singular a que chama "Poética do Espaço". Ao falar de poética do espaço Bachelard revela a intenção de dar à palavra a missão de elevar o objeto de sua análise, os lugares e os espaços, ao nível poético do devaneio. A fim de que isso seja possível, Bachelard apela para o serviço da imaginação, a faculdade humana por vezes esquecida que pode fazer nascer, renascer e criar novas formas de vida e de interioridade, dando às coisas o lastro humano que elas não ostentam quando ficam penando em sua material solidão. O autor mostra que há poesia nos principais espaços preferidos pelo homem. Na casa, no sótão, no porão. Numa simples gaveta. Num cofre. Num armário. Ele busca a poesia do ninho e da concha, do cantinho da casa, da miniatura, do grande e do pequeno, e sobretudo na imensidão íntima que ressoa em seu interior. O autor de A Poética do Espaço tem a capacidade de nos mostrar a fenomenologia do homem e sua relação com o mundo por meio de análises de textos que mostram que há poesia dentro do homem e à sua volta. Poesia profunda de sentido de relação metafísica e psicológica. Poesia que pode e deve ser participada pelos seres humanos atentos, sensíveis, imaginativos e abertos ao devaneio. Segundo ele, as coisas do quotidiano deverão ser redimidas pela atenção, pela nova significação que a elas devemos dar. Deverão ser vistas em sua profundidade. E entre elas, as mais usuais, as mais íntimas, aquelas que fazem parte de nosso quotidiano e que se relacionam profundamente com nossa vida social, pessoal e psicológica. Há formas que acariciamos simplesmente. Mas há símbolos a que damos profundidade e que nos oferecem, em troca, poeticidade, sensibilidade, intimidade. Formas e símbolos que curtimos com nossa imaginação e com nosso devaneio a serviço de uma fantasia sequiosa de intimidade. A sociedade contemporânea e seus indivíduos vivem hoje em enorme solidão. Em parte porque fazem de sua aventura humana no mundo uma mera experiência mercantilista do ter, do possuir e do consumir. Uma dimensão ontológica do ser com todas as implicações filosóficas e fenomenológicas do conhecimento lhes dariam outra qualidade de vida, certamente. A poeticidade, o devaneio e o cogito do sonhador em dimensões de sentido, da maneira com que se apresentam nas proposições de Gaston Bachelard, elevam a consciência e a alegria do viver. Transparece na filosofia otimista de Bachelard a evidência de que o homem solitário pode descobrir a qualquer momento a voz do acolhimento em espaços próximos assim como o sentido da vida em símbolos que ele manipula no dia a dia. Caberia ao homem contemporâneo a consciência crítica da necessidade de convergência para valores vitais para que as coisas que ele concebe como coisas do nunca tenham finalmente a sua vez. O raro, que é precioso por ser raro, pode ainda se transformar em bem acessível, havendo para isso apenas a necessidade de o descobrir como valor. Para os excluídos e os deserdados de bens do espírito, que é a forma mais dramática da exclusão, está de pé a possibilidade de serem incluídos, se forem acionados os projetos interiores de uma reposição do que é devido, a esses seres peregrinantes na terra, mas que inocentemente demandam, como meninos carentes do acolhimento materno, os sentidos frontais da vida. Como as coisas têm de ser provocadas para que nasçam, os indivíduos e a sociedade terão de colocar na ordem da vez, através de uma revolução especial de pensamento, de educação, de opinião e de movimento de idéias, esta postura para que as coisas do nunca cheguem a celebrar as núpcias da sua vez.



João Ferreira

7 de abril de 2005







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