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Artigos-->Eu sou um... -- 02/06/2005 - 17:52 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu sou um ...







Pois é, nem mesmo eu me dava conta do fato, mas a verdade é que sou um “Simões e Silva, Evangelista Pereira e Melo, Portela Maciel dos Santos”, produto da combinação de genes de famílias de vários rincões da Bahia.

Vivendo em cidade grande, onde as ligações familiares se esgarçam, a gente não valoriza o parentesco e mantém um relacionamento distante, às vezes protocolar, com a maior parte dos membros da família.

A tendência nos grandes centros urbanos consiste na formação de um pequeno núcleo - avós, pais, filhos, netos, às vezes um ou outro tio - que garante a coesão através de reuniões fechadas, nas ocasiões de casamentos, aniversários e outros eventos de membros do grupo.

A aldeia global em que o mundo moderno transformou nossas vidas existe apenas na instantaneidade da informação, da comunicação e da imagem colocadas ao alcance de todos graças ao avanço da tecnologia.

No plano das relações humanas, pelo contrário, a imensidão urbana isola os indivíduos e os impede de filiar-se aos vários ramos de sua família.

A partir do instante em que refleti acerca de minhas origens familiares e tomei a caneta para escrever sobre o tema, tenho tentado imaginar como seria minha vida se eu tivesse vivido em épocas passadas nas pequenas vilas do Brasil de antanho, todos os clãs familiares ali por perto!

É verdade que a maioria de meus ancestrais é oriunda de lugares diferentes de nosso Estado, todos, contudo, do sertão.

Os Simões e Silva vêm de Bonfim e adjacências, os Evangelista Pereira e Melo, de Juazeiro, minha terra, os Portela Maciel, a que pertencia minha avó paterna, de Irará e, finalmente, o sobrenome Santos, de Santa Luzia, hoje Santaluz.

Convivi muito, toda minha infância, com a parentela dos Evangelista Pereira e Melo e com todos com quem eles se entrelaçaram às margens do São Francisco, Simões e Silva, os Siqueira, os Carvalho, os Torres, os Barreto, os Muniz, e até os Cavalcante, de Petrolina.

Fui criado nesse meio, freqüentando as casas e fazendas de tios e primos, participando de suas festas, torcendo por seus cavalos, nas corridas domingueiras no híbrido campo de futebol-hipódromo construído no Alagadiço de Juazeiro, brigando contra os adeptos de “A Apolo Juazeirense” pelo nosso aristocrático “28 de Setembro”, sem dúvida possuidor da melhor filarmônica da região.

Para todos da cidade eu era muito mais do que o filho do juiz Zeca Maciel, pois meu pai viera de outros lugares, não tinha raízes na região. Eu era o bisneto do coronel Janjão Evangelista, neto de “Meu Tonho”, filho de Leonídia, sobrinho de João e Totonho Evangelista, primo de Carlos Maurício Torres e de José Carlos Muniz, entre outras dezenas de referências familiares que me posicionavam na sociedade local.

Desde muito cedo, sem que fosse preciso ninguém me dizer, eu sabia perfeitamente quem estava do nosso lado, ou seja, aqueles que, por várias razões - políticas, clubísticas, familiares - integravam nosso clã, e os outros que se constituíam adversários, desafetos ou simplesmente aliados desses.

A vida era fácil, simples e você se sentia seguro naquele ambiente.

Agora, que uma prima moradora em Olinda me incumbiu de atualizar os levantamentos genealógicas de nossa família que ela vem fazendo nos últimos anos, fiquei surpreso ao constatar de quanta gente mais sou parente, pelo lado materno, pessoas que moram aqui perto de mim, os Trigueiros, Danemann, uns Mata Pires, Nascimento Bastos, Sales Vitor, Meira Cabral, Rocha Coelho, Fonseca e tantos outros sobrenomes, a maior parte que eu não associo a qualquer rosto conhecido.

Do lado de meus avos paternos, uma família menor do que a de minha mãe, tenho menos conhecimento. À exceção dos Bahia, convivi pouco com eles, muitos que se espalharam por outros lugares, Rio de Janeiro, Pernambuco, Brasília.

O que ressalta dessas considerações é um certo sentimento de frustração, pois fico imaginando quanta gente interessante deixei de conhecer e amar, quantas histórias pessoais ficaram circunscritas a um restrito grupo familiar, a memória coletiva dos antepassados se perdendo gradativamente com o desaparecimento de cada um de nós...



Salvador, 10.03.99

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