OS CONSTRUTORES DO BANCO
- Em memória de José Gonçalves Ramos
Por motivo de viagem, não pude comparecer ao sepultamento de José Gonçalves Ramos, para honrar esse velho amigo, falecido no dia 12 de março, em Salvador.
Embora ele próprio não tivesse consciência do fato, tratava-se de pessoa de grande importância na vida do Banco Econômico, um dos construtores de sua história que até a morte não teve qualquer reconhecimento da empresa ou de seus dirigentes.
Zé Ramos, como tantos outros de seu tempo, foi um formador de quadros para a Instituição, numa época em que a atividade bancária dependia do trabalho estafante de funcionários dedicados, nas centenas de agências espalhadas pelo país.
Nas décadas de quarenta e cinqüenta as gerências das filiais do banco no interior da Bahia eram entregues a comerciantes e pecuaristas de grande respeitabilidade em suas cidades, como forma de superar a falta de credibilidade das empresas bancárias.
Em várias localidades, o nome de nosso banco estava associado ao do gerente; assim, havia o “Banco do sr. Joaquim Hortélio”, em Vitória da Conquista, ou o “Banco de Luiz Marinho”, em Rui Barbosa, para citar apenas dois exemplos.
Esses homens foram pioneiros do sistema bancário, tratados como “banqueiros de suas cidades”, tal o grau de autonomia com que atuavam. As dificuldades de comunicações de então e o conhecimento pessoal que possuíam dos clientes de suas agências faziam com que eles decidissem livremente sobre empréstimos em geral.
Embora gozassem de tal autoridade eram, no entanto, absolutamente despreparados para administrar os procedimentos bancários sob sua responsabilidade.
E aí é que apareciam homens como José Gonçalves Ramos, inicialmente chamados de contadores de agências, denominação depois mudada para Chefes de Escritório.
Esses altos funcionários eram grandes especialistas bancários, encarregados de organizar e dirigir os serviços, comandar o pessoal, produzir relatórios contábeis, exercer o controle sobre todas as atividades e, talvez sua função mais importante, preparar e treinar funcionários para cargos maiores, sobretudo futuros Chefes de Escritório e Chefes de Seção.
No início de minha carreira, nos primeiros anos da década de cinqüenta, todo mundo no Banco sabia que os melhores Chefes de Escritório, os que mantinham os serviços mais organizados, eram José Raimundo Ferreira, em Cruz das Almas e José Gonçalves Ramos, em Brumado.
Funcionários oriundos dessas agências transferidos para outras ou para a Matriz eram recebidos como se fossem profissionais diplomados pela Fundação Getúlio Vargas ou USP, disputados por todos que desejavam gente boa para suas equipes.
Contadores como José Raimundo Ferreira e José Gonçalves Ramos, apesar de modestos e tímidos, são heróis anônimos na rica história do Banco, ao lado de tantos outros igualmente famosos como Clodoaldo Reis, Carlos Henrique Botelho, Edvaldo Pedreira Gama, Enézio de Freitas Gonçalves, Salví Queiroz, Sizínio Galvão Marinho e Gilberto Araújo Gordiano, muitos que, depois, atingiram posições de maior relevância na hierarquia da organização.
Foi graças a esses velhos companheiros que o Banco chegou à época moderna preparado para as grandes conquistas que alcançou, antes de sua derrocada final.
Salvador, em 13 de março de 2003
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