O BREVIÁRIO DE ANTÔNIO CONSELHEIRO (*)
Pelo menos três versões já foram divulgadas para explicar como os “manuscritos” do Bom Jesus Conselheiro foram dar às mãos do professor José Calasans.
A última, que figura no texto com que Fernando Peres faz a apresentação do “Breviário de Antônio Conselheiro”, informa que “as filhas do professor Aloísio de Carvalho Filho bem fizeram a doação do códice, por instância de Paulo Maciel”.
Infelizmente, nunca estive com as filhas do dr. Aloísio e, assim, a notícia dada por Fernando Peres não é verdadeira.
Embora o fato possa ser destituído de maior importância na densa história de Canudos e do Conselheiro é sempre bom deixar registrada a forma como a fortuna me transformou em proprietário do hoje célebre “Breviário”.
Em fins dos anos cinqüenta casei-me com Sônia, filha do sr. Hércules Politano, que morava em pequena casa construída nos fundos do terreno do sobrado que pertencia ao dr. Aloísio, no Corredor da Vitória, então residência de sua irmã Iá (Maria Koch de Carvalho).
Amigo de seus sobrinhos, Maria Alice, Roberto Koch e outros, naturalmente conhecia bem a tia Iá, como todos a chamavam.
Pois bem, nas férias de junho de 1970, que Sônia e meus filhos passavam em Salvador, na casa dos pais, Iá chamou-me ao casarão e levou-me à grande sala da entrada. Aí, empilhados sobre o tabuado, encontravam-se centenas de livros que entendi constituírem a biblioteca, ou parte dela, do dr. Aloísio, falecido meses antes.
Mostrando-me o amontoado de tomos ela mandou que eu pegasse o que quisesse, já que não sabia o que fazer com eles àquela altura.
Já então, freqüentador de sebos recifenses, gostava de livros raros, de livros de arte, de descrições de viagens pelo Brasil Colônia e coisas do gênero. Fiquei felicíssimo com a oportunidade de incorporar alguns exemplares à minha modesta biblioteca.
E foi assim que, andando praticamente sobre eles, escolhi uns poucos exemplares que levei comigo, cerimonioso de tirar proveito indevido da generosidade de Iá.
Entre as obras escolhidas – um livro de fotografias do desfile do nosso quarto centenário (“Auto de Glória e Graça da Bahia”), um outro de Marc Ferrez e mais alguns – peguei o “manuscrito” contendo trechos da bíblia e prédicas religiosas, que me pareceu muito antigo e valioso.
Foi precisamente esse caderno que, certo do grande valor histórico, tive o juízo de oferecer ao querido amigo José Calasans Brandão da Silva que, se ainda estivesse entre nós, faria hoje 87 anos de idade.
Salvador, 14 de julho de 2002
(*) – notas preparadas a pedido
de Oleone Coelho Fontes
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