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Artigos-->Estado do São Francisco -- 02/06/2005 - 09:20 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ESTADO DO SÃO FRANCISCO







Durante o Carnaval fui passar uns dias com parentes queridos no Remanso, às margens do Lago de Sobradinho.

Apesar do calor abafado gostei muito da cidade construída pela CHESF, com suas ruas e praças amplas, em nada lembrando os lugares desarrumados do nosso interior.

Andei pelas fazendas de um primo, onde cria carneiros e ovelhas de boas raças e experimenta um manejo racional da caatinga. Está identificando a maior parte das leguminosas de suas propriedades e com elas produzindo silagem e feno para os períodos de seca.

Esse meu parente é um produtor rural com visão empresarial moderna, preocupado em utilizar as tecnologias à disposição de sua atividade, mas inimigo da sofisticação. Estuda tudo que diz respeito à criação de caprinos e ovinos, visita fazendas onde busca aprender com a experiência de outros e mantém contato regular com especialistas e empresas de assistência técnica.

Enfim, é pessoa muito esclarecida, com liderança em sua região.

Nesses dias remansosos foi meu companheiro diário de conversas sobre assuntos variados, papos intermináveis e interessantes.

Na varanda de sua bela casa, tendo à frente, lá longe, as águas do Lago, com a participação de um amigo dele, ouvi pela primeira vez, apresentada com responsabilidade, a tese da criação do Estado do São Francisco.

Como qualquer baiano não diretamente envolvido na questão fiquei chocado com a defesa que eles fizeram da idéia da separação daquelas terras do nosso Estado, hipótese que nunca levei a sério e que sempre considerei heresia.

Embora não tenha contestado o posicionamento dos dois de maneira firme, encaminhei o assunto para o terreno técnico, para conhecer as justificativas.

Ao fim da discussão, já pelo fim da tarde, com a brisa clareando ainda mais nossas mentes, quase saí convencido da justeza de seus argumentos quanto à conveniência da criação do novo Estado.

Segundo meus interlocutores, aquela região, conhecida genericamente por “Além São Francisco”, epíteto que detestam, nunca esteve nas preocupações dos governos da Bahia. Como tal, não recebe atenção e investimentos proporcionais à sua expressão geográfica, econômica e social.

Até mesmo quando o Governo Federal, através da CHESF, construiu a Barragem e a Eclusa de Sobradinho e edificou cinco cidades em substituição às que foram inundadas, entre as quais Remanso, a maior delas, ainda assim o Governo da Bahia não se envolveu na gigantesca operação, deixando passar oportunidade única para pressionar por vantagens e benefícios para a Região . Com tristeza comentam que até o hospital que existia na cidade não foi reerguido na nova.

Por outro lado, através de Barreiras e cidades próximas a ela, existem relações comerciais, econômicas e sociais mais intensas com Brasília e Goiás do que com Salvador, a distância e a qualidade das estradas e comunicações favorecendo essas ligações.

Percebi no meu parente e no seu amigo que eles se consideram muito mais sanfranciscanos, barranqueiros do que baianos, signifique isso o que quer que seja para eles.

O orgulho que nós outros temos de nossa Boa Terra, de sua história rica, de suas tradições, desse povo miscigenado, da cultura afro-brasileira, da música, da dança, das comidas, dos nossos heróis e artistas – tudo isso chega às gentes do Além São Francisco esmaecido, descorado.

Para eles, não é uma questão de “dividir a Bahia”, de mexer em sua integridade, mas sim uma oportunidade de luta por melhores dias para sua população.

Eles têm certeza de que a criação do novo Estado importará em rápido desenvolvimento e progresso para as cidades situadas do outro lado do rio, com enormes possibilidades de emprego, trabalho e riqueza, e tomam como exemplo o que vem acontecendo com o Estado do Tocantins.

Universidades, faculdades, novas escolas, estradas, ligações vicinais, empresas públicas, emissoras de televisão, jornais diários, escritórios e agencias regionais de órgãos federais, investimentos do setor privado e mais a instalação política do governo estadual, com sua Assembléia, Tribunais de Justiça e do Trabalho, tudo isso concorrerá para que, rapidamente, se instale na região um novo quadro de perspectivas com a geração de milhares e milhares de empregos.

É duro para nós admitir que os moradores de Remanso e outras cidades da região, a quem chamamos de conterrâneos, possam ter razão.

Mais duro ainda é imaginar que sua reivindicação por um Estado independente possa ser alcançada.

Mas, acima de tudo, o pior mesmo é não discutir de forma racional esse problema e, no caso de eles não conquistarem a liberdade, permitir que continuem sonhando com ela.

A única forma de evitar esse despedaçamento da Bahia é integrar a região do Além São Francisco à nossa terra, satisfazendo suas necessidades e anseios de desenvolvimento.



07.03.03

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