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Artigos-->A solidão pernambucana -- 02/06/2005 - 09:08 (Paulo Maciel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A solidão pernambucana







Quando morei no Recife li, certa vez, acho que no “Diário de Pernambuco”, crônica de Gilberto Freire em que, falando de si próprio, contou a seguinte história:

Reitor de famosa universidade americana, a pretexto de convidá-lo para um evento acadêmico em seu país, telefonou para ele.

Era o tempo em que se fazia a ligação através da ‘telefonista internacional”.

Contatado com a telefonista, no Recife, disse-lhe o reitor que queria falar com o escritor e professor Gilberto Freire.

- Pois muito bem, qual o número do aparelho dele aqui no Recife, indagou a moça.

- Não sei, respondeu o reitor. Mas, trata-se de GILBERTO FREIRE, provavelmente o mais eminente pernambucano vivo.

- Ok, mas sem o número não posso fazer nada!

Com amargura, Gilberto Freire comenta que, se houvesse nascido na Bahia e lá morasse, qualquer motorista de táxi saberia o endereço de sua casa, e todas as telefonistas, internacionais ou não, o número de seu aparelho...

Trago essa historinha a lume por causa de outra, passada com Lula Cardoso Ayres, um dos mais importantes artistas de Pernambuco, e do assunto que quero tratar, envolvendo os primos Francisco e Ricardo Brennand.

Nos meus bons anos pernambucanos, sempre morei na Boa Viagem, num trecho entre a praia e a rua Domingos Ferreira.

Pelos idos de 1969 conheci Lula Cardoso Ayres e sua mulher, Lourdes, irmã do talentoso empresário Maneca Ferreira.

Lula era um sujeito simples, um pouco triste, que pintava belos quadros em que apareciam mulheres de perfil e grades. Possuía uma técnica ímpar.

Certa vez levei-o para comer a macarronada que minha mulher, filha de italiano, fazia aos sábados e depois de umas boas doses de whisky ele se empanturrou com aquele massa.

Gostou dos meus amigos, do papo e da macarronada com polpetas e volta e meia, mesmo sem convite, aparecia aos sábados.

Numa dessas vezes disse-me que gostava muito dos artistas baianos – Mário Cravo, Caribé, Genaro, Jenner Augusto – e do escritor Jorge Amado e tinha inveja deles, ao modo de Gilberto Freire.

É que, em sua terra, sentia-se um solitário. Os conterrâneos não lhe faziam festa, não mostravam orgulho por ele ser daqui, raramente o procuravam.

Era uma das razões porque ele vinha à minha casa. Minha mulher e eu não nos cansávamos de demonstrar o prazer por sua companhia, o encantamento com seu trabalho, a felicidade de tê-lo como amigo.

Essas recordações são o prelúdio para falar de Francisco e Ricardo Brennand.

O primeiro, Chico Brennand, é respeitado escultor e pintor, que doou à cidade do Recife sua extraordinária “Oficina Cerâmica” e, mais recentemente, um Museu com suas telas.

Já Ricardo Brennand, grande empresário que por muitos anos dirigiu as indústrias que levam o nome da família, ao se aposentar decidiu montar um valioso museu nos arredores da cidade, instalando-o em dois castelos que parecem saídos da Europa medieval para o solo pernambucano.

Soube que investiu alguns milhões de reais nesse empreendimento.

O acervo do museu, que visitei recentemente, constante de uma extraordinária coleção de obras de Franz Post e do período holandês, livros, gravuras, mapas do início do século XVII, armaria, documentos, litografias e telas da época maurícia é um rico repositório de nossa história.

É possível que exista, sim, mas não conheço em nosso país patrimônio tão importante no campo das artes como essas iniciativas dos Brennand no Recife, fundado para deleite de todos, com recursos exclusivamente particulares.

Realmente não sei o quanto o povo pernambucano valoriza e divulga esses tesouros plantados em sua terra, mas acho que a casa em que morou Jorge Amado na Bahia, no bairro do Rio Vermelho, que está fechada há vários anos, é ainda mais procurada pelos baianos do que esses museus recifenses pelos habitantes da cidade...

Recife, 28 de março de 2005.



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