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Artigos-->Johnny Walker -- 30/05/2005 - 16:02 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A estratégia do crime foi planejada em Washington. Desde de 1970 que Kissinger e os serviços de informação preparavam cuidadosamente a queda de Salvador Allende. Milhões de dólares foram distribuídos entre os inimigos do governo legal da Unidade Popular. Assim é que, por exemplo, puderam sustentar sua longa greve os proprietários de caminhões, que em 1973 paralisaram boa parte da economia do país. A certeza da impunidade solta as línguas. Quanto ao golpe de Estado contra Goulart, os Estados Unidos tinham no Brasil sua maior embaixada: o diplomata golpista Lincoln Gordon. O Pentágono deslocou um enorme porta-aviões e quatro navios-tanque para as costas brasileiras “para o caso de que as forças anti-Goulart viessem a pedir nossa ajuda”. Essa ajuda, disse “não seria apenas moral. Daríamos apoio logístico, abastecimento, munições, petróleo”.



Eduardo Galeano, As Veias Abertas da América Latina, pp-293.





Estamos completando vinte anos de abertura política pós-regime militar, mas vejo que nossa geração não está interessada na questão. É óbvio, nunca fomos tão ignomizados, expropriados intelectualmente e moralmente pisados nesse início de século. A questão reflexiva é: se as elites abandonaram um projeto nacional para o país – pois não queriam bater de frente com o imperialismo – e resolveram seguir de vez a cartilha monetária de Washington. Quem somos nós? É verdade, poucos proletários se perguntam sobre isso. Não que sejamos menos humanos ( somos objeto, certo? ), a situação poderia ser bem pior. Claro, poderíamos estar passando por outra ditadura institucional. Mas não estamos? Quem já ouviu “Another brick on the wall”, da banda inglesa Pink Floyd sabe do que estou falando. Somos apenas mais um tijolo na parede de concreto. É assim que funciona nossa democracia. Em 1985, o Colégio Eleitoral ( de maioria civil ) articulou o processo transitório regime/abertura democrática no país, e todo cuidado foi tomado para não perder a legitimidade das concessões dos poderosos burgueses ( os mesmos que haviam agimentado o golpe de 1964 ) que posavam de moderados sorridentes. O fim da ditadura significa “xeque-mate”, ou como se diz numa mesa de bar: cartada final, “truco”. Funcionou mesmo? Claro. Delfim Netto, Marco Maciel, José Sarney, Antonio Carlos Magalhães e outros elementos importantes da arquitetura militar dividiram o bolo e bolaram uma constituição federal medíocre. Dizem que é mais perfeita, pelos mesmos motivos ninguém a cumpre e poucos a conhecem.



No mesmo ano em que ocorria o Rock in Rio, o Brasil parecia despertar. Despertava para um pesadelo, um sono obscuro, cheio de névoas. O gigante adormecido tratou de desarticular estruturas primordiais: a terra, a educação e a cidadania. Não fez Reforma Agrária, não educou para dar cidadania – por isso é que existem brasileiros vivendo ( subvivendo ) em condições mínimas, acabam inchando as metrópoles – não é de hoje! – e se perdem na incerteza do dia seguinte. A fobia social cresce, com ela, uma minoria de indivíduos chegam às universidades e apenas reproduzem o status quo das elites. A desconstrução cultural de uma identidade popular abre espaço para uma individualização do ser, competitiva, imbuindo-se de valores materialistas, fórmula perfeita para o capitalismo nosso de cada dia. E como dizia Paulo Freire, “pessoas oprimidas lutam, vencem e hospedam o opressor”, tudo acontece numa normalidade “natural” da sociedade brasileira.



Paralelo a tudo isso, tínhamos o grande potencial de nação – espere aí, ainda temos! – capitalista ‘emergente’, conforme o discurso da sociologia estadunidense. A subordinação peculiar das soluções vazias. De 1964 a 1985 os projetos megalômanos de aquisição em tecnologias e serviços importados endividaram o país. As privatizações promovidas por FHC e a equipe tucana são leves resquícios, que a posteriori, adentram de vez no neoliberalismo econômico. Bem, a doutrina marxista, dialética e materialista, mantêm os pilares na economia. A grande guerra é o dinheiro. Antes do golpe, outros países latino-americanos já passavam por ditaduras ( como a Nicarágua, República Dominicana, Honduras, Cuba e El Salvador ) promovidas pelos EUA justificadas por intervenções empresariais. A disputa pelo mar do Caribe iria se tornar o grande negócio que multinacionais como United Fruit, Texaco e Esso tratavam de iniciar no continente.



O policiamento militar da região caribenha foi uma grande fonte de inspiração para os interesses capitalistas dos EUA. A Revolução Cubana consistiu um caso à parte, o movimento popular de guerrilha rural deu certo, após anos de batalhas internas e perseguição pelo regime de Fulgêncio Batista, coronel treinado pela CIA e derrubado pelas forças de Fidel. Outros países não tiveram essa sorte – o que a história absolverá? Ou melhor, quem?



Apesar de tudo, constatamos um surgimento de movimentos esquerdistas na América Latina ( não esqueçamos que a Teologia da Libertação e as organizações camponesas contrárias ao regime cresceram neste barril de pólvora ) ganharam corpo neste período. De alguns anos pra cá, esse movimento dá sinais para uma segunda chance. O quadro político atual mostra um panorama de governos esquerdistas ( pelo menos em sua origem teórica ), contrapondo os governos conservadores da Europa atual ( como os de Silvio Berlusconi e Tony Blair ). Nesse contexto, entramos no século XXI com um partido político socialista impregnado de correntes políticas moderadas e conservadoras. Não há sincretismo ideológico no atual PT. Os guerrilheiros de ontem tornaram-se burocratas – pelo menos aqueles que chegaram ao poder. Fomos hipócritas o suficiente para nos aliar há um hemisfério norte protestante, fundamentalista, arcaico e economicamente poderoso. Os mesmos generais que se sentaram numa mesa de bar com os tecnocratas do passado e arrebentaram este país, ainda estão com suas sombras em nossas mentes... por favor, falem neste assunto.







Paulo Milhomens

É ator e estudante de História na UFT.

paulokalil@hotmail.com

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