DITADOS
José Eurípedes de Oliveira Ramos
Bem humorados, um quê de troça, assim eram os “ditados” dos antigos (sentenças, aforismos, máximas, provérbios, anexins... como preferir) e uma das maneiras de ensinar, corrigir ou sentenciar falando pouco. “--Gente reservada não aprecia discurso”. Ainda hoje, adaptadas às mudanças que o tempo trouxe, vez por outra encontramos as ironias, lições e “filosofias” em frases simples, diretas ou ambíguas, que glosam as situações e comportamentos.
Entre os “camioneiros” e nas pequenas cidades é onde estão mais presentes. De origem anônima, revelam a cultura do povo que dispensa os adornos literários porque “mais complicam do que explicam”. ”--O amor é a mais antiga das mentiras. --O sol é pra todos. A sombra, pros ricos. --A água dá... a água leva. --A água silenciosa é mais perigosa. --A amar e a rezar, ninguém pode obrigar. --A aranha vive do que tece. --A caixa menos cheia é que mais faz barulho. --Macho que é macho não chupa mel... come abelha.”
Encontrados em todos os tempos, em todos os povos, em algum lugar um novo ditado é criado ou repetido a cada momento. Diante de um fato cultural ou da natureza, o homem o apreende, interpreta, valoriza e emite um conceito, raciocinando do particular para o geral. Os. publicitários são mestres em utilizá-los. Apesar da imbecilidade de alguns, trazem certa força de certeza que facilita a aceitação e divulgação e, não raro, influem e até governam o inconsciente coletivo.
Muitos têm sabor especial, revelando o universo cultural do autor. O mundo do futebol, por exemplo, é pródigo em ditados e em frases curiosas: “--Clássico é clássico e vice-versa. (Jardel, ex-jogador do Grêmio). --No México que é bom. Lá a gente recebe semanalmente, de quinze em quinze dias... (Ferreira, ex-jogador do Santos). --Disconcordar é meu direito (Vladimir, ex-jogador do Corinthians). --Meu coração tem uma cor só: rubro-negro (Fabão, ex-Flamengo). São famosos os criados por Vicente Matheus, popular ex-presidente do Corinthians. Em dezenas, escolho três: “--Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático e gramático. --Quem está na chuva é pra se queimar. --O difícil, vocês sabem, não é fácil. “
As gafes e o palavrório metafórico das infindáveis homilias do senhor Lula comprovam que na política os ditados nascem e florescem como praga: ”--Adversário bom é o que está morto. --Espaço cedido é espaço perdido. --Quem pode mais chora menos.--Manda quem pode. Obedece quem tem juízo. --É com mel que se conquistam as moscas. --Pros amigos, tudo. Pros inimigos, a lei. --Correligionário não tem defeito. Adversário, se não tiver, eu ponho. --Quem é contra o governo não tem razão com o delegado”.
Interessante e infindável, o tema é objeto de análise de estudiosos (sobretudo os da área de Sociologia, Psicologia e até do Direito), que encontram neles a cultura e o caráter de um povo. Neles está a alma popular, com suas virtudes e deficiências. Refletem as tradições, a educação e os valores permanentes e os atuais que dominam uma época. E ajudam os escritores sem assunto.
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