Usina de Letras
Usina de Letras
133 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62182 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50584)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140792)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Significado do Amor -- 09/12/2001 - 10:43 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Costumo trabalhar até muito tarde e geralmente pela manhã acordo sem muito tempo de fazer alguma coisa antes de recomeçar novamente. Mas hoje amanheci pensando naquele menino epilético que eu havia visitado e que agora com um tratamento adequado, já não sentia as consequências devastadoras.
Não sei porque uma angústia tomava conta de mim e minha vontade era me dirigir à periferia da cidade para ver aquela família, e talvez outra, que estivesse necessitando. Naquele momento, acho que espiritualmente, eu precisava bem mais que eles. Em vésperas de natal, imaginava a devastação e tristeza que deveria tomar conta deles, sempre tão carentes de doçura e afeto.
Meu coração batia desordenadamente quando cheguei à porta, se pudermos chamar de porta o lugar onde deveria bater para que me atendessem. E surpreendentemente Marlon apareceu, com o rosto mais cheio e menos amarelado do que o tinha conhecido, o que tanto me impressionara. Ele sorriu sinceramente e aquela expressão ficou fixada para sempre em mim, tenho certeza absoluta.
Sua mãe chegou logo depois, e ela sim, me pareceu deveras abatida. Ligeiro ríctus de satisfação, mais parecendo um esgar, surgiu em seu rosto, ao me ver, e as lágrimas, acho represadas, saíram livremente quando a abracei. Olhei-a admirada que apesar da vida e dos sofrimentos incomensuráveis pudesse ainda ser bonita. Os traços estavam marcados pela vida atribulada, e muitas rugas precoces se alojavam nos olhos grandes e impressionantemente negros. Os cabelos mal tratados eram lisos e também escuros, e mesmo com a falta de trato, abundantes, embora foscos pela limpeza precária. O nariz perfeito poderia servir até para se comparar às nossas deusas gregas, mas a pele estava manchada pelo sol em demasia.
Imaginei, como teria sido bela, se a vida lhe tivesse dado oportunidades e conforto. Nesse momento, jurei, que haveria de ajudá-la, sempre no que me fosse possível. E me entristeci ao sentir como somos tão mesquinhos e mal agradecidos quando temos um mundo de vida, esperança, amor, ternura, realizações, ideais concretizados, mesmo que não inteiramente, e perspectiva para sonhar. Eu me senti uma idiota ali, ao lado daquela mulher valorosa, e não sabendo apreciar o que recebera ao nascer. Que recebia elogios com a mesma indiferença que ela ouvia críticas e desdém. Que me sentia ofendida com uma palavra quando ela almejava por alguém que se interessasse pela sua vida.
Saí de lá sabendo que ela esperava outro filho de um homem bêbado, violento, que a brutalizava para deixar nela ainda uma criança, que passaria as mesmas e inevitáveis agruras. Saí de lá imaginando a vida de alguém que tinha alma, coração, sentimentos, a quem não deveria ser vedado sonhar e desejar, mas que estava transformada num robó pronta a sofrer sem a palavra definitiva e final.
Ao entregar uma cesta com alimentos, deixei junto com isso a minha impotência, porque sabia que a verdadeira alegria lhe tinha sido negada ou ela estava frágil para procurá-la. Perguntei-lhe o que queria fazer, se gostaria de passar algum tempo longe daquele lugar ou tomar outro rumo, se pudesse, e ela prontamente me respondeu que sua vida era ali, e não se sentiria bem em outro lugar.
Lembrando do natal, recordando as mágoas tão sem consistência que às vezes tomam conta do ser humano, pergunto-me porque não encaramos a vida de outra forma sendo capazes de sobrepujar coisas tão pequeninas. E é no espírito de natal, que quero aprender cada vez mais com pessoas excepcionais como essa moça, e pedir ao criador seja qual for o nome que ele tiver, que me ajude nessa íngreme e pretensiosa missão. Mas principalmente me ajude a ser menos egoísta, mais, muito mais compreensiva e ser capaz de ver acima e além das pequeninas coisas que recebemos e usufruímos.
De nada adiantará pensar e confraternizar o Natal com o coração afastado do que é a essência do "ser" e do "viver". Será inútil tentarmos a confraternização se durante o ano nos afastamos de tudo que possa significar a profundeza de se doar e de amar verdadeiramente. Por isso quero aprender. Por isso almejo me aperfeiçoar. E seguir sem entraves para compreender realmente o significado da palavra amor. Se conseguir um mínimo que seja, sei que terei conseguido ser feliz e poderei encarar meus ideais fundamentados em meu próprio conhecimento do ser humano.

Escritora@vaniadiniz.pro.br
www.vaniadiniz.pro.br






Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui