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Artigos-->UM LIVRO CURIOSO -- 23/05/2005 - 14:25 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Comprei um livro novo. É um livro curioso. Chama-se Jesus Muçulmano, The Muslim Jesus.



The Muslim Jesus é o título que traz na capa, porque na introdução, uma longa e erudita introdução, o autor chama-lhe Evangelho Muçulmano, o que também me parece melhor nome para este curioso livro.



O autor é professor universitário e uma sumidade em assuntos do Oriente Médio, a língua árabe, religião islâmica e quejandos. O livro foi publicado pela prestigiosa Harvard University Press e saiu em 2001.



Só agora é que soube da sua existência. Vi o anúncio num catálogo que a Harvard University Press mandou cá para casa, o título saltou-me à vista, não resisti à tentação e lá se foram mais vinte e tal dólares para o maneta.



Vocês sem dúvida sabem quem foi o maneta... ou, se calhar, não sabem. Bom, em benefício dos que não sabem, deixem-me abrir aqui um parêntesis na história do meu livro curioso e dizer-vos quem era o maneta.



Quando foi das invasões francesas, certa região de Portugal ficou sob o poder administrativo dum oficial francês a quem faltava uma mão e a quem tinham posto a alcunha de o Maneta. O homem era mau e o pior destino que se podia dar a quem fizesse algum desacato era mandá-lo para o maneta – não voltava de lá inteiro. Tornou-se proverbial a crueldade do maneta e ainda hoje, à distância de séculos, vai para o maneta o que vai para o desperdício.



Voltemos ao meu curioso livro cuja compra talvez não tenha sido afinal um desperdício.



O Evangelho Muçulmano vale bem o preço. É uma colecção de trezentas e três máximas e histórias que vêm dos inícios do islamismo e que são atribuídas a Jesus Cristo. Algumas são curtas com apenas uma frase como aquelas em que Jesus aconselha a baixar os olhos para não cometer adultério, e a sofrer o que se não quer para atingir o que se quer... Outras são narrativas mais longas em que se contam episódios atribuidos à vida do Nazareno.



O que mais me impressionou na leitura deste Evangelho Muçulmano, como cristão que sou, foi o imenso apreço, o respeito, a veneração que os muçulmanos têm pela pessoa de Jesus Cristo. Na introdução e nos comentários ao longo do livro, o autor remete para elucidativos versículos do Alcorão e, aí também, Jesus ocupa um lugar de relevo. Não como filho de Deus que os muçulmanos não crêem que Deus tenha um filho, mas como um grande profeta, de certo modo, o maior de todos os profetas.



O autor de O Evangelho Muçulmano põe em termos claros o importante lugar que Jesus, o filho de Maria, ocupa no Alcorão e na tradição islâmica. É como se uma das grandes religiões do mundo, o Islão tivesse adoptado a figura central de outra grande religião, o Cristianismo.



Eu ainda não acabei de ler o curioso livro que comprei por vinte e tal dólares Mas já li o bastante para suspeitar que esta separação entre cristãos e árabes é mais agendada do que real.



No fundo, ambos se dizem filhos do mesmo pai, Abraão. Têm o mesmo Deus, com o qual pretendem ter a mesma relação de criador (o mesmo génese), de legislador (os mesmos mandamentos), de resgatador (o mesmo juízo final). Pensar Deus como uno ou como triuno, vem a ser, no fundo, a grande diferença. E, por mais importante que ela pareça aos crentes dos dois lados, não me parece que seja grande bastante para justificar este conflito latente e permanente entre as duas grandes religiões e culturas monoteístas. Especialmente quando ameaça transformar-se numa terceira guerra mundial.



É que isto, no fim de contas, é ainda a mesma guerra expansionista, a mesma ambição de domínio que levou os mouros até Covadonga e os cristãos até Alcácer Quibir. É tempo de mouros e cristãos se conhecerem melhor, se aproximarem, se entenderem, para não se deixarem manipular por líderes religiosos e políticos que, ao longo dos últimos quinze séculos, em vez de minimizar as diferenças entre nós e de nos aproximar, nos vão separando e afastando cada vez mais.



E é por issso que os vinte e tal dólares que eu dei pelo meu curioso livro, se calhar não foram desperdiçados, não se foram para o maneta.
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