Se conheceram em uma moite de verão. Dançavam, se olhavam,se aproximavam. Proximidades das faces. Resolveram sair.
Outro lugar. Se tocavam, se beijavam. A música estava alta, Ella Fitzgerald na sua mais divina perfeição.Em busca do divino bebiam vinho. Falavam daquela paixão, temiam a separação, dependiam do contato dos corpos. Resolveram namorar.Passada uma hora, entre vinhos e cigarros resolveram conversar. A conversa fazia-se necessária. falavam de seus antigos amores. Estavam seguros juntos. Agora eram namorados.
Se viam todos os dias. Não comentavam a mútua dependência de seus corpos. Necessitavam do sexo, do contato, de declarações de amor, do vinho, de boas músicas. Buscavam o prazer. Desejavam a perfeição, estudavam mitologia. Se olhavam enquanto se amavam. Dormiam com os lábios colados.Havia duas semanas que não falavam com os amigos. O telefone tocava e os recados na caixa postal já passavam de vinte. Bebiam, se amavam e pouco conversavam. Esqueceram de comer. Resolveram comer.
Sairam para comprar comida em um supermercado mais próximo. Estranhavam a separação de seus corpos. Não se reconheciam na distância. Entre as prateleiras do supermercado a estranheza se fez presente. Não sabiam o que comprar, porque comprar. Resolveram não comprar .caminharam dois quarteirões em um constrangedor silêncio, e não se olharam mais. Se separaram em uma esquina onde uma velha mulher pedia esmola. Se encontraram uma semana depois em uma festa. Trocaram palavras cordiais; e depois deste dia nunca mais se viram.