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Artigos-->JOGO PESADO NA ÁSIA CENTRAL -- 19/05/2005 - 22:53 (Vitor Gomes Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
JOGO PESADO NA ÁSIA CENTRAL

Vitor Gomes Pinto

Escritor, Analista internacional.

Vitor.gp@persocom.com.br





Chegou a vez do Usbequistão, em pleno coração da Ásia Central nos costados da mãe Rússia, uma das mais instáveis regiões do mundo atual. Seu governo, apesar de apelar para a força tem tantas fraquezas, depois de quatorze anos de domínio absoluto, que poderá desabar seguindo o caminho do Quirguistão e da Ucrânia, cujos presidentes foram depostos nos últimos cinco meses. Depois da queda do império soviético em 1991, as cinco repúblicas – Casaquistão, Turcomenistão, Usbequistão (as três mais ricas), Quirguistão e Tajiquistão – ganharam a independência, mas permaneceram nas mãos de líderes ex-comunistas reciclados e pouca coisa mudou nesses confins que ocupam uma área de quase 4 milhões de km2, do mar Cáspio à China e da Sibéria ao Paquistão, com quase todas as possibilidades de conflito por perto, na Índia, no Iran ou logo a seguir no Iraque.

O Movimento islâmico sunita Uzb ut Tahrir é acusado pelo presidente Islam Karimov, de querer derrubá-lo, mas os rebeldes dizem que se trata de uma revolta popular motivada pela pobreza e pelo despotismo. O ataque que libertou dois mil prisioneiros e provocou, na brutal e desmedida repressão do exército, mais de setecentos mortos, ocorreu na remota cidade de Andijan, não por casualidade situada a quarenta minutos de carro do foco que originou a derrubada do quirguis Akayev em março. Putin, preocupado em consolidar seu próprio reinado, observa inerme cada vez mais formar-se um anel de influência norte-americana à sua volta, retirando-lhe poder. É a estratégia do dominó, pela qual a desestabilização de uma peça provoca de maneira gradual a queda das demais. Após a Geórgia e o Afeganistão, seguiram-se Ucrânia e Quirguistão. Há forte instabilidade na Bielo-Rússia e Bush declarou que o próximo alvo será Belarus onde o presidente Lukashenko é acusado de ter fraudado as eleições de 2004. Em seus próprios domínios, Putin teve uma vez mais de agir com grande violência para controlar o Cáucaso e, embora tenha assassinado o líder moderado Maskhadov, segue desafiado pela revolta na Chechênia que teve no massacre das crianças numa escola da cidade de Beslan sua marca mais cruel.

Formando um triângulo com Andijan e a capital Tashkent, está Samarkand, o principal entreposto da rota da seda que ligava a China à Europa no século IV A.C. Hoje os usbeques sobrevivem do comércio de algodão, do ouro e da passagem pelo seu território do petróleo proveniente das fantásticas jazidas do mar Caspio e das drogas negociadas pelas máfias afegãs e russas. Além dos fortes interesses econômicos, dois outros elementos explicam a instabilidade cada vez mais permanente da Ásia Central. O primeiro é a água, o bem mais vital para todos os povos que ai vivem: os dois maiores rios, o Sirdaryá e o Amudaryá, que atravessam o Usbequistão e irrigam o fértil vale Fergana onde se localiza a atual revolta, nascem um no Quirguistão e o outro no Tajiquistão, o que há pouco quase provocou uma guerra devido a acusações de uso exagerado e de bloqueio de acesso prejudicando os países à jusante. O segundo é a segurança pós-11 de setembro. Os EUA têm bases instaladas no Usbequistão e no Quirguistão, aliados de primeira hora no ataque ao Afeganistão. Além disso, como publicou o jornal inglês The Guardian, utilizam as prisões usbeques (e também, entre outras, as do Egito, Jordânia e Marrocos) como ponto de interrogatório e castigo para supostos integrantes da Al-Qaeda e de grupos considerados terroristas que regularmente são capturados no Oriente Médio e na Europa e não são desejados nem em território norte-americano nem em Guantánamo.

As fronteiras na Ásia Central, fixadas no período de domínio comunista, não respeitam áreas de domínio histórico das grandes etnias locais, produzindo enclaves e muita tensão. No Usbequistão, tão logo os familiares terminem de enterrar os mortos de Andijan e comece o retorno dos que fugiram da metralha, a calma aparente imposta pelas forças armadas poderá ser rompida, num conflito que ameaça incendiar esse país de 25 milhões de habitantes que apenas querem sua paz de volta, para voltarem a preocupar-se com o célere desaparecimento do mar Aral que a oeste dividem com os tajiques, e a torcer por Rustam Kasimdzhakov, o jovem usbeque campeão mundial de xadrez, orgulho nacional.

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