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Infantil-->Bicho-de-pé -- 29/05/2007 - 14:31 (Jader Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Bicho-de-pé

O bicho-de-pé é uma espécie de pulga que penetra sob as unhas dos pés dos meninos da roça. Ao entrar na pele, aloja-se silenciosamente no nos vãos dos dedos daqueles que brincam descalços nos quintais ou vivem fazendo artes ao redor das casas pobres. São comuns nos areais da beirada dos rios. O nome científico do bicho-de-pé é “tunga penetrans”. Muitos “tunga penetrans” entraram no meu pé quando eu era pequeno, isso no tempo distante dos meus oito anos. Eu não tinha nenhum medo do bicho-de-pé, pelo contrário, até gostava da coceira aquecida dele, da sua atividade febril ao penetrar no meu pé. O dedo recém infectado ficava vermelho e levemente entumecido. Era uma gostosura.
Eu já fazia de propósito. Volta e meia eu me metia sob a velha casa onde morava, na Vila de Água Doce, apenas para “pegar” um bicho-de-pé. A enorme casa da minha infância era feita de pau-a-pique, uma espécie de palafita mista de madeira e alvenaria. O assoalho e as paredes eram suspensos por enormes baldrames de madeira rústica que se encaixavam em esteios quadrados, os quais prosseguiam em direção ao céu para receber, num pé direito alto, as vigotas que sustentavam a gaiola do telhado. Sob a casa havia um grande espaço, uma espécie de vão suspenso, coberto por um tapete de areia fina onde eu brincava solitário. Eu me divertia naquela praia exclusiva, às margens de um mar imaginário e somente meu, igual a um outro que diziam existir ao longe. O porão era um lugar fresco e tranqüilo, a pátria ideal e sagrada dos porcos domésticos, das galinhas e dos meus bichos-de-pé. Hoje tudo é diferente, tudo mudou.
No passado das Minas Gerais, no meu tempo de menino, não havia essa liberdade de pai e mãe beijarem ou abraçarem os filhos, era tudo muito distante e solene, havia muito respeito. Por isso é que digo que não tive infância, apenas fui menino. Nunca beijei minha mãe, nem me lembro de ter recebido dela um beijo ou um abraço. Mas eu era esperto e usava o “bicho-de-pé” como desculpa para me aproximar dela e receber seu amor. Quando sentia necessidade de ganhar um carinho dela, de receber um toque da sua mão, eu me metia sob a casa e ficava lá durante horas até que um ou mais bichos-de-pé grudassem em mim. Depois, era só entrar na cozinha e me queixar pra ela, resmungando, dizendo que “desconfiava” que havia um “bicho-de-pé” no meu pé. Mas Acho que ela já sabia da minha malandragem. Pedia para ver se era mesmo verdade e examinava cada um dos meus dedos, detalhadamente. Eu sabia, o “bicho” estava lá, exercendo a sua função, penetrando bem fundo nos vãos dos meus dedos. Então, a dona Francisca me fazia deitar sobre um banco comprido de madeira que havia ao lado do seu velho fogão de lenha e puxava os meus pés para o seu colo. Esses momentos eram de delícia —longas sessões de carinho indireto que eu amava e tanto precisava. Confesso envergonhado que foi graças aos “bichos-de-pé” que ela me acariciou muitas vezes e jamais me esquecerei disto. Só me arrependo de nunca ter perguntado a ela se não gostaria que eu também lhe “tirasse” alguns “bichos-de-pé” do pé...

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