Usina de Letras
Usina de Letras
12 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->O ESPELHO -- 17/08/2002 - 21:19 (COELHO DE MORAES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ESPELHO
-baseado na obra de Manuel Mujica Lainez-

Simon del Rey (judeu, português que finge ser espanhol, rosário na munheca, sotaque errado, persignações constantes, sem motivo, agiota, tem ciúmes da mulher) – Bráz Machado
Visitante – Tiago de Jesus
Dona Gracia (Mulher bonita, fidalguia discutível, seu dinheiro em dote aumentou as riquezas do marido, mais jovem, sensual) – Elisa Paschoalino
Emissário (meio galã) – Josué Torres
Juan de Silva (amigo do Simon) – Cacá Fernandez
Soldados ( representantes do governador) – (convoca a turma)
Juiz (terrível e autoritário) – Coelho De Moraes


Simon está em seu escritório. Ele observa a mulher em seus afazeres. Conversa com um visitante ou cliente que de vez em quando olha a mulher, também, e recebe um olhar desconfiado de Simon.
S: Não gosto de falar sobre minha linhagem real – daí vem meu nome - del Rey, mas... para não cair em pecado de... vaidades.
( continua a escrever em cadernos ensebados. Luvas de meio dedo ).
S: Dos judeus... só me interessa o pano.
Visitante: O que?
S: O pano... os tecidos que eles trazem para vender. (olha desconfiado para os lados como se esquece de algo e se persigna intensamente, três vezes ). Boas roupas, alfaias e mantos. Roupas espetaculares de Europa.
( à noite no quarto. Escapulários e santos. Gracia dorme. O quarto parece um altar, com velas... ele, com o terço na mão, tenta escutar o que Gracia fala... ela diz nomes... ele a acorda ).
S: Quem é Diego? Quem é esse Gonçalo?(ele beija o terço).
G: Do que é que vc está falando, marido? (ajustando o travesseiro) Eu estou tentando dormir.
S: Quem são essas pessoas? Diego e Gonçalo...
G: Por que quer saber isso agora? ( ela tenta voltar a dormir, virando para outro lado ).
S: Quem são esses homens?
G: Eu tenho um primo que se chama Diego. Vivia em nossa casa. Não sei o que aconteceu com ele. Um dia sumiu na guerra. Nunca mais o vi.
S: E o outro?
G: Que outro?
S: Gonçalo e não sei mais quê?
G: Gonçalo era meu tio... pai de Diego. Certamente eu sonhava com eles, não lhe parece? ( e volta a dormir. Ele se levanta. Vai ao escritório contar moedas e quedar pensativo ).
Pela manhã chega um Emissário.
E: Trago boas notícias, Sr. Simon del Rey.
S: Abre a boca e desembucha. O que ocorre pelo Chile?
E: Seus negócios estão caminhando muito bem do outro lado da Cordilheira dos Andes. E trago um presente do seu sócio chileno...
S: O velho Leon...
E: Sim, o velho Leon... ele manda esse presente. Um regalo de alto valor ( e vai descobrindo o presente de um pano. Entrega o presente ao Simon, dentro da casa, um grande espelho que brilha ).
S: Um espelho!
E: Um espelho... veneziano!
S: Belo espelho! (ele o observa atentamente). Viajou em lombos de mula e passou por desfiladeiros traidores sem sofrer dano algum?
E: Tivemos todo o cuidado... uma ordem do Sr. Leon.
S: Dona Gracia! Venha ver.
E: Ele dizia que o metal do espelho tem viajado por metade do mundo!
S: Dona Gracia, venha ver. Um presente...
E: Diz ele que o primeiro metal do espelho foi trazido por nada mais nada menos que Marco Polo...
S: Provavelmente em uma de suas viagens à Índia ou China... Dona Gracia! Se faz o favor?
(ela se aproxima, faz reverência ao Emissário e fica deslumbrada com o espelho. Ela olha o espelho e olha o emissário. Troca de olhares e sorrisos e cumprimentos. Ela se vê no espelho. No reflexo ela está mais sensual. O marido e o emissário aparecem também por detrás dela . Há névoa e fumaça. Um certo embaçamento).
G: Não estou me vendo bem ( ela se mira e se move, fingindo e gostando )
E: É um espelho antigo... está claro... mas previno ao meu amo que é nisto que reside o seu maior mérito.
S: Sim.. sim... claro... muito formoso e... muito antigo (como se fosse conhecedor de coisas antigas)... muitos méritos...
E: E... quanto mais antigo... mais requisitado, mais valioso...
(Coloca o espelho em frente à sua cama, entre pinturas de santos e estátuas de Jesus).
S: Muito mais valioso...
(O quarto solo. Luz pela janela ou veneziana. O espelho. A câmara faz um travelings curtos. Simon entra no quarto. Curioso. Se coloca frente ao espelho e se assombra, se persigna e sai correndo do quarto. Repetem-se os travelings, como de retorno)
( Ele dorme ao lado da mulher. Repentinamente acorda. O espelho. Imagens alternadas entre ele e o espelho, travelings curtos. Câmara se aproxima lentamente do espelho a cada tomada ).
S: Que demônios se passa com esse espelho? Ele demora para mostrar a imagem. Isso não pode ser... é uma coisa fantástica. Tenho a impressão de que a imagem que ele copia não é a do meu quarto. Parece outro aposento. Outro lugar.( ele se aproxima do espelho ) Parece que outras pessoas habitam as suas imagens. ( atrás de si pessoas passam pela imagem, sua mulher limpando as coisas, conversas do dia a dia e ele se volta assustado só vê a mulher deitada e se volta novamente e se vê sozinho numa imagem normal ).
( Simon no escritório. Aparece Dona Gracia ).
G: Simon... acho que esse espelho está embruxado. Parece enfeitiçado.
S: E por que? ( meio rude )
G: Porque hoje eu vi nele uma coisa que não é de hoje. Mas era de ontem.
G: Já disse para você não me atrapalhar durante o meu trabalho. Não quero que contrarie minhas ordens. Não posso perder meu tempo com assuntos... sem importância. ( ele está meio em dúvida na verdade ). Você está ficando boba, mulher ( fixa sua visão em algum ponto, meio que perdido, segurando firme contra o peito os livros de contábeis. Resolve ir ao quarto, na ponta dos pés e meio temeroso enfrenta o espelho que lhe devolve sua imagem normalmente . Bufa, dá de ombros. Em outro aposento ele se aproxima da mulher ).
S: Tenho problemas maiores. Terei que sair de casa por uns dez dias.
G: Mas, por que?
S: Tenho que viajar para receber a fazenda que me coube por pagamento de uma certa dívida.
G: Mais terras.
S: Mais ( eles se olham ). Mais terras para nossa riqueza. ( eles se olham. Simon tenta descobrir algo no olhar de Gracia a e vice-versa ) Tenho que fazer os inventários, assinar papeis. Coisas que somente eu posso fazer. E é necessário fazer tudo agora pois para nós, portugueses, os ventos estão soprando na direção de uma tempestade.
G: Explique-se.
S: Apesar de achar que já me consideram castelhano velho e dependendo do que acontecer na política local, o importante é estar bem com todos. Lembra dos pilotos que mataram e dos portugueses que trouxeram a notícia da rebelião no Reino de Portugal?
G: E quando o senhor parte?
S: Hoje mesmo. Sem demora.
( corte para a partida, bolsas e sacolas )
S: Me dói deixar a senhora Dona Gracia mas... deixo, também, as minhas recomendações. Não saia de casa a pretexto algum, a não ser, se quiser, para assistir às missas. Quero que a senhora fique enclausurada como corresponde a uma mulher de sua posição e importância. Como uma monja! Uma madrecita! ( ele se persigna, vai dar uma última olhada no espelho ). E sobre ele (aponta para o espelho) é bom nem se comentar. Se os representantes da Santa Inquisição ouvem uma conversa dessas... de espelhos com imagens atrasadas ou adiantadas, é certo que me botam na fogueira.
G: Deve ser um defeito na engrenagem.
S: Que raio de engrenagem, mulher.
G: Ah! Sei lá. Na engrenagem dos reflexos.
S: E o que é que a senhora entende de engrenagem de reflexos?
G: Aprende-se, ora essa. Ou pensa que minha cabeça não tem outras idéias?
S: Shhh! É bom nem se falar nisso. Há tanto feiticeiro em Veneza que até pode ser que um deles colocou algum tipo de bruxaria nesses metais.
G: Quem sabe se com o tempo essa água do espelho se adormece e ele melhore, não é Simon?
S: Água do espelho? (ele não acredita no que ouve) Mais idéias? ( Eles se olham. Se estudam ). A senhora andou aporednendo a ler, por acaso?
G: Eu não, senhor!
S: Toma cuidado mulher. Essa coisa de mulher saber ler é coisa do capeta. Acredito que o procedimento mais certo, por enquanto, é não olhar muito para ele... e, sobretudo, não deixar que isso se torne uma obsessão. E não exagerar... não exagerar jamais, pois o Diabo deseja que sempre exageremos nas coisas. Seja lá no que for. Até mesmo na fé.
( imagens e idéias que mostram a passagem dos dias.)
( Corte: a bagagem de Simon no chão aos seus pés. Imagens ao rés do chão. )
S: Dona Gracia! Cheguei! Onde está a senhora?
( ela chega. Imagens do chão. Da canela para baixo. Ela está bem vestida. Fica bem próxima de S. )
G: Como foi de viagem?
S: Bem. O que está a fazer? ( ela tira as coisa dele que vêm ao chão)
G: Tira esse peso. Conta mais. Fale da fazenda.
S: Temos a maior das fazendas. Terras que não acabam mais. Como você está bonita, Todo poderoso! Bonita como um navio dourado do Infante Don Henrique, com sua bandeiras vibrantes na brisa do mar.
( por estas imagens dos pés vemos que ela começa a tirar a roupa, tira meia e sapato, ficando de pés no chão . Ela sai, adentrando os aposentos). ( close de S. ele aspira o ar como se procurasse algo. Sai pela casa com o mesmo intento. Chega ao quarto. Velas. Dona Graça está nua sob as cobertas. Ele olha para a mulher. Ele olha para o espelho, e faz para ele como se pedisse contas. Da nuvem das imagens aparece Dona Graça trepando com o Emissário. Rosto desesperado do Simon a olhar o espelho).
G: Vem, Simão! ( ele ouve, mas sem olhar para ela, ele se enrosca no seu lado da cama e finge que dorme. A mulher tenta alguma coisa, mas acaba desistindo e vira para o outro lado. Ele não dorme. Está desesperado. Nervoso. Morde as mãos. Relembra as cenas do espelho. De soslaio observa o espelho, temeroso. As cenas do espelho se desenvolvem ao seu lado, quase em cima dele na cama e ela com o Emissário. Clímax. Corte: Manhã. Ele está a dormir, enquanto sua mulher se levanta. Corte: Ele vai ao banheiro. Lava o rosto, fala para si mesmo ).
S: Não! Agora não! Podem ouvir. Devo levá-la para um lugar bem longe e acabar com ela. Esse governador pode se aproveitar de mim e se vingar... não! Pensar melhor! Há um mundo de parentes orgulhosos. Esse governador me odeia como um cavalheiro odeia a um judeu... minhas coisas ficarão para esses familiares que nunca fizeram nada... Diegos... Gonçalos... e ainda eu tenho que dar palmadinhas em seus ombros... tratar com ele... fazer negócios... não! Talvez lá na Cordilheira. Na nova fazenda! Como se fôssemos viajar para conhecer as novas terras!
( Simão volta ao espelho e vê que soldados o prendem no espelho )
S: Não! Não me meterão a ferros! Eu é que sairei perdendo. Me prenderão por assassino da mulher! Esses mesmos vaidosos castelhanos que matariam suas mulheres por menos que isso, não permitirão que um português judeu faça o mesmo com uma mulher castelhana, mesmo que ela tenha pecado. Acalme-se! Haverá ocasião para a separação. Agora é acalmar-me e ficar quieto. Nada de mortes! Nada de mortes!
( No escritório Juan de Silva o espera )
JS: Grandes novidades! Crise política total! Enquanto você esteve fora o governador determinou que os moradores de origem portuguesa se inscrevam em uma espécie de cadastro especial e entreguem suas armas.
S: Como assim, Juan?
JS: Até agora mais de trezentos e setenta, Simon. Mais do que a quarta parte da população é de origem portuguesa e já se inscreveram por ordem do governador.
S: E todos aceitaram sem reagir?
JS: Todos, desde o mestre de campo até as tropas abaixo. Todos, com arcabuzes, espadas, adagas e lanças. Desarmamento total!
( Simon golpeia a mesa com furor. Vocifera )
S: Não irei! Não sou português! Nunca fui português. Sou um real vassalo del Rey Felipe.
( Graça entra )
G: O espelho...
S: Não me fale desse espelho! Não me faça lembrar dele.
( Simon está frente ao espelho. Observa atentamente. Mas o espelho está normal. Como nunca esteve.)
S: Não tocarei nela. Não irei ao presidio por causa dessa cadela cristã...
( entram os soldados em sua casa )
Sldd: Simon del Rey, trago ordem de conduzi-lo até o governador por não haver cumprido até agora as ordens sobre o desarme de portugueses.
S: Tenho coisas mais importantes a pensar! O que quer o governador, afinal? Deixar-me louco?
Sldd: Senhor, por quem sois... apenas fazemos nosso trabalho.
S: Por que não me deixam tranqüilo com a minha intranqüilidade? Como é que vou esquecer os meus problemas se vocês me torturam com essa estupidez?
Sldd : Estamos apenas pedindo que o senhor...
S: ( grita ) Eu não sou português!
Sldd: O senhor tem que me acompanhar!
S: Eu não sou... não sou português. ( um pega-pega )
Sldd: O senhor virá comigo ao cárcere, Simon del Rey. Por se rebelar contra a autoridade. Há que prestar informações.
S: (rindo meio louco). Era só isso? Não me conduzirão ao forte para me justiçar? Apenas para uma simples declaração? Só isso? Eu digo a vocês quem é o verdadeiro culpado disso tudo. É ele.. (e mostra o espelho) Ele é o culpado... o maldito... o que me desgraçou a vida.
(toma de uma estátua de metal de Jesus, olha para ela , furioso. Detalhar olhar e a estátua! Quebra o espelho. Um fragmento salta e gruda no rosto do soldado que grita: )
Sldd: Você me feriu! E agora vai ter que pagar por isso, seu canalha!
(prendem Simon, aparece Dona Gracia e o Emissário, aturdidos com o acontecimento, sem saber o que fazer. Ele se afasta preso, manietado, e se volta para ver a mulher e o Emissário. Numa tomada pelas costas do Emissário e Graça, que observam a prisão de Simão, a mão de E aperta a bunda de Graça. Logo entram na casa, muito juntos, em apertões e intimidades ).
( corte para um Tribunal . Meio-corpo do Juiz. Câmera afastando Simon).
Juiz: Simon del Rey foi condenado por este júri, perdendo todas as suas fazendas e bens e riquezas, por tentativa de assassinato de um representante de Sua Majestade; por ocultar armas a favor do inimigo português e por ser um judeu herético que não vacilou em lançar um Cristo contra a parede, quebrando um espelho em milhares de pedaços, depois de jurar que esse Cristo – ao qual ele chamou maldito – era o culpado de suas desgraças. ( bate o martelo )
( corte para o envelhecido Simon, com seu rosário, orando )
S: Eu a matarei... Ave Maria, gratia plena, ora pro nobis... com minhas mãos... Pater noster qui est in coelis... eu a levarei para a fazenda e a matarei... Salve Regina, mater misericordiae... longe de seus familiares... Credo in Deo patris...


( fade out )

FIM

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui