PARA UMA SOCIOLOGIA TRANSDISCIPLINAR
Prof. Rui Simon Paz
As ciências sociais em geral, e a Sociologia em particular, perderam-se no tempo e no espaço, ao longo do século passado, em face da robusta blindagem que erigiram em torno de seus objetos e métodos. A filiação a correntes de pensamento e, radicalmente, a determinados autores, acorrentou-as, avassalando seus conteúdos em torno do ideologismo, do verbalismo e do formalismo. Ignorou que, como tudo, as teorias são biodegradáveis.
Enquanto isso, a realidade exterior à blindagem acadêmica correu solta, livre, dinâmica, transformando-se permanentemente a cada acontecimento. Daí resultou um profundo fosso entre a experiência existencial da vida e o saber instituído dos laboratórios.
Hoje, após duas guerras mundiais, com as conseqüentes transformações políticas, sociais, econômicas e, sobretudo, culturais, sabemos não ser mais possível fazer ciência sem consciência, sem observação, indução e experimentação permanentes.
A visão transdisciplinar nos mostra que a realidade é complexa, pois tudo está interligado e é interdependente; revela-se em infinitos níveis, onde o edifício lógico e epistemológico de cada nível é único e não aplicável aos demais, ou seja, há níveis de realidade e níveis de percepção que não se confundem, mas se alinham em torno da unidade na diversidade; as verdades são relativas e incompletas, pois o que vale para um nível não se revela da mesma forma em outro. E a lógica do terceiro incluído permite a expectativa do novo, do inusitado, sem assombros ou preconceitos, pois o que é contraditório num determinado nível de realidade pode não ser em outro.
A nova Sociologia precisa, portanto, erigir-se em nova filosofia e novo método. É transdisciplinar, deve encarar o indivíduo como pertencente à unidade humana, mas singular e irredutível, capaz de fazer avaliações e críticas de per si, diante do real e do imaginário, limitado apenas pelo seu possível, portando parcelas da verdade, portanto, também é exlética; as organizações sociais são expressões temporárias e fluidas do possível alcançado pela interação das individualidades que compartilham uma determinada época; o ser humano ontológico transcende e transversa o ser histórico, pois as idéias se biodegradam, mas o homem não, reconstrói-se incessantemente, faz ressignificação e reapresentação permanente do mundo, em face da persistência da mudança.
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