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Artigos-->A QUESTÃO COIMBRÃ E O INÍCIO DO REALISMO EM PORTUGAL -- 14/05/2005 - 02:12 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




A QUESTÃO COIMBRÃ E O INÍCIO DO REALISMO EM PORTUGAL



João Ferreira

13 de maio de 2005



I



Há ingredientes históricos, ideológicos, estéticos e literários que devem ser conhecidos eponderados para entendermos a Questão Coimbrã ou o início do movimento realista em Portugal que eclodiu em 1865.

Há sobre a questão uma ampla e vasta bibliografia. Entre essa bibliografia deve ser destacada a coletânea recolhida por Alberto Ferreira e Maria José Marinho, representada em 3 volumes publicados pela Portugália Editora de Lisboa, sob o nome de "Bom senso e bom Gosto. Questão coimbrã".

Mas de que setrata exatamente quando se fala de "questão coimbrã"?

A expressão “questão coimbrã” alude, em primeiro lugar”, a uma acesa e prolongada polêmica literária que se estabeleceu entre Antônio Feliciano de Castilho, representante do movimento romântico em ocaso (Lisboa) e Antero de Quental, jovem estudante da Universidade de Coimbra, autor de Odes Modernas que se encontrava já mentalizado para as novas tendências estéticas e transformações tecnológicas que ditavam uma nova visão de mundo em 1865. Na polêmica entraram muitos e notáveis escritores portugueses como Ramalho Ortigão, Camilo Castelo Branco, Teófilo Braga e outros, tomando partido de um lado ou de outro ou tentando apaziguar a questão, ou levando para o debate ponderações de apaziguamento.

Sim, trata-se de uma polêmica, com aparência de polêmica literária, com autores alinhados em duas vertentes ou tendências estéticas. É neste sentido que os críticos vêem normalmente a questão coimbrã. Mas há quem pense diferente. Segundo João Gaspar Simões, por exemplo, o debate não foi literário. E não havia nele uma oposição entre romantismo e realismo. Segundo Simões, citando Alberto Ferreira que por sua vez se apoia em palavras de Eça de Queirós, no In Memoriam de Antero de Quental, o pleito fora sobretudo moral. Alberto Ferreira não aceita que o debate fosse entre românticos e realistas. Isto porque o romantismo vai muito além de 1865. Segundo Alberto Ferreira, em Portugal há três fases de romantismo: o primeiro manifesta-se entre 182O e 184O; o segundo entre 184O e 186O; e o terceiro desenvolvendo-se paralelamente ao romantismo sem data limite .[ Convém lembrar que a História da Literatura Portuguesa de A. José Saraiva-Oscar Lopes, sob o rótulo Romantismo abrange o romantismo propriamente dito e o período realista de Eça, Antero e Ramalho.]. Por outro lado não podemos deixar de ver que a Questão Coimbrã, provoca o nascimento da Escola dissidente de Coimbra. E quem eram os estudantes literatos? Sabemos de Antero de Quental, de Vieira de Castro e de Teófilo Braga, pelas citações de Castilho. Vítor Sá, autor de Perspectivas do século XIX, admite que exista uma geração intermediária entre a segunda e a terceira geração romântica, surgida após a dissolução do liberalismo radical e que representa em Portugal a primeira manifestação de consciência social (Lopes de Mendonça, Amorim Viana e outros) que iria servir de apoio a Antero e Teófilo para a adopção de um esquema ideológico que iria se embater com o papado oficial da literatura representado por António Feliciano de Castilho.

O que não se pode ignorar porém é que as próprias "Farpas" de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, no estudo que elaboram sobre "Portugal em 1871, "fazem sem dúvida nenhuma uma oposição profunda entre a literatura romântica e a nova literatura do realismo.

II



No entendimento de Teófilo Braga, a Questão Coimbrã- polêmica literária- representou, a "dissolução do romantismo":

"A França - e através desta a Alemanha e a Inglaterra - foi a principal inspiradora dos dirigentes da rebelião Coimbrã. Entre 186O e 1865 saturaram-se de cultura europeia, aspirando a plenos haustos os ares que vinham de fora, absorvendo de golpe o humanitarismo social francês de 48. Leram e decoraram Proudhon e Quinet, o satanismo baudelaireano, a erudição histórica de Leconte de Lisle, o determinismo de Taine, as eloquências liberais humanitárias de Hugo, o diletantismo crítico de Renan, o revolucionarismo apostólico de Michelet - e ainda Hegel e Heine, e Darwin e Flaubert. Espíritos muito dóspares, tinham porém em comum o prurido de irreverência e de liberdade, o sentimento de revolta contra a estagnação do ultra-romantismo constitucionalista e o intuito de renovação do clima das letras e da vida portuguesa. Fora desta comunidade de formação e de atitude geracional, cada um deles seguiu uma trajetória criadora e vital acentuadamente diferenciada.



III



De facto, a palavra "realismo" já se envolvera na contenda literária de 1865-1866 e fora utilizada como sinônimo de arte nova"ou "estilo coimbrão". Um dos espíritos críticos mais avisados da época, Luciano Cordeiro, que participou da polêmica entre Lisboa e Coimbra, publica em 1867 em “A Revolução de Setembro” um artigo intitulado "A arte realista". Anunciava aí que com a "dissolução do Romantismo", periclitante e decrépito, surgia a "escola crítica"que falava à consciência e à razão e exigia maior cultura intelectual e mais profundo conhecimento dos problemas filosóficos e sociais da época. Aí repudiaria também tanto o realismo materialista da arte pela arte como a "inspiração romântica"expressa pela literatura oficial do romance e da poesia. Cordeiro percebia que "os dissidentes de Coimbra"representavam um segundo romantismo que "tinha tanto de truculento como o Ultra-romantismo tinha de pacato. Neste segundo Romantismo latejava porém uma inquietação viva por formas de verdade artística de que havia de brotar o Realismo".



IV



A segunda fase do processo da gênese do Realismo é identificada com o aparecimento das Conferências do Cassino de Lisboa em 1871. Aqui, a geração dissidente, mais madura, desenhava com mais precisão os contornos da "nova expressão de arte". Eça de Queirós, que em 1865 foi apenas um expectador na polêmica, é agora o expositor doutrinário da "nova literatura". A sua conferência em 1871 versou sobre o "Realismo como nova expressão de arte". Sob a influência dos debates havidos no Cenáculo e de Antero, Eça aproximou as teorias de Taine sobre o determinismo do meio com os postulados estético-sociais de Proudhon, vergastando o estado decadente das letras nacionais e fazendo a defesa de uma arte "que respondesse às aspirações do espírito dos tempos, que agisse como regeneradora da consciência social e desterrasse o falso. pintando a realidade”. Essa arte, uma arte revolucionária era o Realismo. Renegando a arte pela arte, a retórica vazia e a invenção romanesca, procedia pela observação e pela experiência, pela fisiologia, ciência dos temperamentos e dos caracteres; enfim, visava a dilucidação dos problemas morais e o aperfeiçoamento da Humanidade. Com esta conferência Eça já colocava o realismo próximo do naturalismo de Zola. A conferência de Eça teve repercussão na Imprensa e a crítica de Pinheiro Chagas, o apadrinhado de Castilho e pivô do conflito de Lisboa com os jovens de Coimbra.



V



A batalha efetiva da implantação do Realismo em Portugal é ganha através da produção estética de nível. Essa produção é aberta oficialmente com a publicação

de "O Crime do Padre Amaro", (1876) seguida dois anos depois pelo "O Primo Basílio"(1878) e depois pelos "Os Maias"(1888), com ênfase para a crítica de costumes e reforma social. Eça abandona as preocupações estilísticas do realismo em "O Mandarim"(188O-1881), onde "começa a fugir da submissão incômoda à verdade, da tortura da análise e da impertinente tirania da realidade"e depois em "A Relíquia".

Cerca do ano 189O, o realismo tinha perdido seu poder estético de persuasão e começava a ser usado um novo estilo que passaria a ser chamado de simbolismo.

























































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