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Artigos-->NEM ME LEMBREI DA MORTE -- 30/04/2005 - 15:37 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NÃO ME LEMBREI DA MORTE



Francisco Miguel de Moura*



Pensar na morte a gente pensa de duas formas: ou cientificamente, ela lá longe, acontecendo com os outros; ou existencialmente, na nossa morte. E neste caso, todos nós a tememos, a não ser os santos e os loucos.

No dia de "finados" não me lembrei da morte. Lembrei-me, com saudade, de minha mãe, de meu pai, de minha irmã Teresa, e de outros, alguns mais íntimos. E isto foi o bastante. Para que lembrar da morte se ela também é vida, se não há vida sem morte? Querer separar uma coisa da outra é anti-natural e até um pouco desumano.

Estou lendo um livro simples mas fascinante, traduzido do francês por Benôni Lemos; título: "Compreender a história da vida"; subtítulo: "Do átomo ao pensamento humano"; autor: André Steiger; editora: Paulus, São Paulo, 1998. Talvez essa tenha sido a razão do esquecimento da festa dos mortos. Estava estudando a luta (e a alegria) dos vivos. Não vou querer resumir o livro – que fala tão bem da vida quanto da morte – para meus leitores, seria impossível. É uma obra de divulgação científica, deve ser lida e meditada. Tudo sobre a vida. Há um capítulo inteirinho sobre a morte.

Não mudei minha opinião sobre a morte porque o li, mas fiquei um pouco perplexo, e me fiz a seguinte pergunta:

- Deus (ou a Natureza) gastaria bilhões ou talvez trilhões de anos para formar-se e formar o homem, a matéria pensante, a matéria que a si se reconhece, para quê? Para tudo acabar na morte? Morte total?

Mesmo que a Terra fique estéril e sem água, que o sol esfrie ou esquente demais, penso que o homem, a natureza pensante há de perdurar de uma forma ou de outra, aqui ou noutra estrela ou planeta. Eis uma forma possível de eternidade. A história do homem, a história da vida.

Porém, acreditar num céu depois da morte individual da pessoa, levando cada um sua identidade, sua personalidade, não sei. Não tenho condições ainda... Respeito os que assim crêem, os que têm fé. Mas na minha ótica, todas as religiões possuem algo a ser repensado, são incompletas porque humanas. "Nenhuma religião é dona de Deus", diz o autor do livro mencionado.

E a morte? E os mortos?

Bem, "segundo os biólogos, apreciadores da matemática, uma só bactéria deixada entregue a si mesma, sem a intervenção dos fenômenos reguladores naturais (a morte), esgotaria a água dos oceanos em menos de uma semana!" Por isto ficou estabelecido, lei natural, que a planta come a terra e o homem come a planta. E que todos os animais possuem predadores, menos o homem, porque ele é o animal menos natural que existe na face do planeta. É um animal especial.

"A vida", dizem, "é certamente uma força, uma energia única e misteriosa". E a morte? Bem, "a morte se define claramente como o ponto final e sem retorno da vida terrestre."

Mas essa não seria uma simplificação, uma visão pedestre, não de quem estudou e conseguiu captar segredos da natureza e da vida?

Talvez, porque a força, a energia que se evola na morte deve ir para algum lugar, deve acumular-se ou transformar-se em algum bem, em outra energia, em outra forma de existência. E se assim é, não haverá morte. Haverá transformação. E se não há morte, por que comemorar a morte, especialmente com tanta bobagem como velas e coroas, nos cemitérios?

Quem acredita que missas e rezas vão aliviar as dores de um seu parente, no outro mundo, que o faça de acordo com sua fé. Eu, me desculpem, acredito como o poeta Olavo Bilac, que: "As almas dos que morreram (...) vão descansar em paz do que na terra sofreram." Os mortos querem paz, se é que podem querem alguma coisa, se lá já não têm tudo. E essa paz seria também a nossa paz. E se a vida é um mistério, a morte é um mistério ainda maior. Mas, "sem mistério, a vida seria irrespirável", disse o filósofo Gabriel Marcel.

Finalmente, estou certo, os descrentes como eu é que são intranqüilos, é que sofrem. "Todos os crentes do mundo, sejam quais forem sua religião e sua idade, têm sempre um futuro diante de si", disse o autor de "Compreender a história da vida".



*Francisco Miguel de Moura é escritor, mora em Teresina.



"Meio Norte", 21-11-2000

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