MEU ÚNICO TESTAMENTO DE AMOR
Diana:
Vim para escrever pensando que este, talvez, seja meu testamento de amor. Peguei um filminho desses enlatados americanos de enredo fácil, que nos metem goela abaixo. Em seguida, passaria um grande filme. Minha mão corria em direção ao telefone, querendo te acordar. Era cedo demais.
Raramente escrevo cartas. Minhas cartas costumam ser meus poemas e crônicas. Mas, esse amor me veio tão justo e terno, tão apaixonante e delirante que meus dedos gostariam agora de estarem tocando um piano, compondo nossa música, ou até, nossas músicas. Não resisti, tinha que escrever uma carta. O torpor advindo de meu estado sonolento não me inspira, porém, a escrever uma canção.
Este é o meu testamento. Não tem hora para acabar.
Diana, seus olhos me deixaram a marca do presente, passado e futuro. É como se todas as outras mulheres que passaram por minha vida jamais tivessem existido. É como se amasse pela primeira vez ou jamais tivesse amado. O fogo da paixão vai baixar, mas tenho certeza que pegarei cada palito de Porto Alegre fazendo dele uma fogueira iluminando nosso amor. Quero ter a certeza de estar cultivando uma planta rara de um jardim raro. Estarei atento. A gente “costuma se acostumar” trazendo um sentido de amor ausente, tragado pela rotina, engolido pela sobrevivência. Por favor, se eu estiver desatento que você seja a primeira a lembrar da importância do cultivo dessa planta rara.
Quero vê-la brilhar com o tecido mais pobre de Porto Alegre a Floripa; seu corpo transpirando e respirando felicidade. Quero você nua à minha frente. Nua de ressentimentos, de tecidos, de mágoas. Quero você inteligente, sensível, carinhosa, prestimosa e zelosa. Quero você feito cobra deslizando sobre meu corpo. Mas quero você, sobretudo, livre. Livre para dizer o que pensa e mais que isso: o que sente. Quero que se divirta, sorria, ria e que meu sorriso seja seu espelho e que eu seja o lenço a enxugar suas lágrimas e você o meu esteio. Quero que guarde seus momentos a sós e respeite os meus momentos. Quero o silêncio amigo quando os infortúnios se transformarem em desabafo. Quero, enfim, um beijo calado me calando: deixarei, então, meus momentos vividos como meu único testamento de amor.
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