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Artigos-->OUTRA VOZ QUE CLAMA NO DESER! -- 22/04/2005 - 13:17 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OUTRA VOZ QUE CLAMA NO DESERTO! José Serpa



No primeiro artigo que escrevi aqui sob esta epígrafe, foquei um dos mais flagrantes insucessos do papa Karol Vojtyla – o de não ter sido capaz de convencer o governo israelita a desmantelar o muro que continua construindo no coração da Terra Santa. Hoje vou concentrar-me noutro insucesso do falecido Pontífice – o de não ter sido capaz de prevenir a guerra do Iraque.



O esforço feito por João Paulo II, no sentido de atalhar a invasão americana foi enorme. No dia 4 de Julho de 2004, falando já com imensa dificuldade, o Papa, ao receber o presidente americano, resumia de maneira eloquente o tremendo e baldado esforço que tinha feito para evitar a guerra.



‘Senhor Presidente, a sua visita a Roma tem lugar num momento de grande preocupação com a contínua agitação no Oriente Médio, tanto no Iraque como na Terra Santa.’ Eram palavras carregadas de amarga reprovação as de Karol Vojtyla que continuou dirigindo-se a Jorge Bush: ‘A posição inequívoca da Santa Sé sobre este assunto é do seu conhecimento e foi expressa em numerosos documentos, em contactos directos e indirectos, e em muitos esforços diplomáticos.’



As tentativas do Pontífice tinham-se, de facto, estendido a toda a gama do possível. O documentos trocados entre o Vaticano, Washington DC e Bagdade só se hão-de conhecer bem quando forem franqueados à curiosidade dos historiadores. Os contactos foram muitos e infrutíferos. Os esforços diplomáticos foram intensos, culminando com o envio de emissários especiais às capitais do Iraque e dos Estados Unidos.



Mas o que mais impressiona são as intervenções pessoais de Karol Vojtyla que, repetida e angustiosamente, tentou evitar a guerra. O discurso ao corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé, reunido em 13 de Janeiro de 2003 para ouvir o tradicional State of the World, foi um apelo dramático nesse sentido.



O futuro da humanidade, disse o Papa, depende da coragem dos povos do mundo e dos seus chefes para dizer não – para dizer não há guerra. A guerra não é inevitável, disse ele, a guerra é sempre uma derrota da humanidade. O direito internacional, o diálogo franco, o exercício da diplomacia são os meios dignos do homem e das nações para resolver as suas contendas. E João Paulo II referiu especificamente as ameaças da guerra que dois meses depois se iria abater sobre a populações do Iraque, sublinhando que a guerra não era um meio como outro qualquer para regular os diferendos entre as nações. Que mesmo quando estivesse em causa o bem comum, só se devia recorrer à guerra como última necessidade, e tendo sempre em conta a suas terríveis consequências nas populações civis.



As tentativas de Karol Vojtyla, para pôr cobro às intenções americanas no Iraque e ao terrível sofrimento humano que a sua concretização acarretaria, prolongaram-se e intensificaram-se durante os dois meses que se seguiram ao apelo de 13 de Janeiro de 2003. Mas foi tudo em vão. Pelos fins de Março seguinte, já Jorge Bush tinha ordenado os seus bombardeamentos de shock and awe.



Como não podia deixar de ser, foi uma razia terrível que destruiu milhares e milhares de vidas inocentes e que foi seguida duma ocupação não menos violenta. Estruturas de saneamento básico foram destruídas, faltou água, faltou luz, hospitais foram arrasados, escolas demolidas, museus saqueados, tortura em prisões – todo o sofrimento que João Paulo II predissera e tentara prevenir.



A insegurança, a agitação, a violência, a indizível miséria humana que, pela mão de Jorge Bush, se tinham apossado do povo Mártir do Iraque atingiam proporções de praxismo quando, em Junho de 2004, João Paulo II o recebeu de novo em Roma. Ninguém saberá jamais o que pensou o presidente americano das palavras recriminatórias do frustrado e acabado velho. Talvez tenha tido um rebate de consciência...



E talvez tenha sido um certo remorso que o levou de novo a Roma para contemplar, uma derradeira vez, o rosto do Pontífice, agora já morto e definitivamente calado –outra voz que clamara no deserto... Talvez.



Ou talvez não... Às vezes parece que a voz dos grandes profetas só ganha real volume e projecção depois da sua morte. Oxalá. Deus queira que o direito internacional, o diálogo franco e a diplomacia voltem a ser os meios usados para resolver contendas das nações .

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