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Artigos-->EQUADOR: OUTRO PRESIDENTE PODE CAIR -- 17/04/2005 - 00:18 (Vitor Gomes Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
EQUADOR: OUTRO PRESIDENTE PODE CAIR

Vitor Gomes Pinto

Escritor. Autor do livro Guerra nos Andes





O Equador, mais do que seus vizinhos latino-americanos, especializou-se em defenestrar presidentes em praça pública. Revoltas militares e golpes sangrentos são coisas do passado. Quem inaugurou a moda foi o Brasil ao livrar-se de Collor de Melo em 1992, sendo seguido pelos venezuelanos que declararam o impeachment de Andrés Pérez no ano seguinte. Logo cairiam De la Rúa na Argentina, Fujimori no Peru, Sánchez de Lozada na Bolívia. Os equatorianos, contudo, aperfeiçoaram a técnica, conseguindo derrubar El Loco Abdala Bucaram em 98 e Jamil Mahuad em janeiro de 2000. Gustavo Noboa, o substituto num mandato-tampão, escapou por pouco, conseguindo fazer eleições e passar o mandato, mas sendo obrigado a fugir do país sob pesadas acusações de malversação de fundos públicos. Agora o presidente Lucio Gutiérrez Borbúa luta já em desespero de causa para completar o segundo ano de governo enquanto fora do Palácio de Carondelet o circo está armado e só se espera pela sua queda. A proposta é de que o vice Alfredo Palácio assuma e antecipe as eleições regularmente previstas para o final de 2006.

A atual crise começou em 8 de dezembro do ano passado, quando Gutiérrez argumentando com certa razão que a Corte Suprema de Justiça (CSJ) era um antro secular da oposição conservadora, montou uma maioria fortuita no Congresso, destituiu os 27 magistrados e nomeou outros, supostamente favoráveis ao governo. Sob protestos internacionais e com a antiga corte mantendo informalmente suas reuniões, a pressão subiu até tornar inevitável a substituição dos novos juízes. Os parlamentares entraram num vale-tudo de barganhas por cargos na CSJ e, de quebra, nos Tribunais Constitucional e Eleitoral e na “Fiscalia General”. Na 4a. feira de manhã uma manifestação de cerca de 5 mil pessoas em Quito foi dissolvida pelo exército, já especializado no ramo, com bombas de gás lacrimogêneo. Parecia que o furor das ruas fora acalmado, mas o locutor de uma pequena rádio local, La Luna, começou a dizer que “se devia fazer algo” e terminou por sugerir ao povo que se reunisse às 9 e meia na Avenida de los Shyris. A idéia se espalhou e à noite uma imensa multidão marchou batendo panelas e gritando “Fuera Lucio”. Segundo Jorge Morillo, um dos organizadores dos protestos de rua, “o objetivo é fazer sentir ao ditador Gutiérrez que já não o agüentamos mais”. O ambiente político ferveu ainda mais quando o ex-presidente Bucaram voltou ao país, depois de 8 anos de asilo político no Panamá, favorecido por decisão da CSJ, dirigida por seu amigo Guillermo Castro, anulando as acusações de corrupção que lhe pesavam em cima.

Contra a parede, Gutiérrez agarrou-se aos militares e na noite de sábado foi à TV, com todo o comando do Exército (exceto o chefe, general Luis Aguas) e da Polícia aparecendo atrás de si, anunciar o decreto de estado de emergência na capital e a demissão dos magistrados que haviam sido nomeados em dezembro. Embora no mesmo dia o presidente tenha se arrependido, anulando o estado de emergência, a repercussão não poderia ser mais negativa. “Uma estupidez não se cura com outra” disse o prefeito de Guaiaquil, enquanto o de Quito declarava a capital uma “cidade democrática”. “Confirma-se a ditadura” concluiu o ex-vice-presidente León Roldós.. Em Los Shyris pelo menos 15 mil pessoas que de lá não arredaram pé fizeram um silêncio sepulcral quando o estado de exceção foi lido, para logo voltar a sacudir suas bandeiras, entre as quais as que contestam a cessão da base aérea de Manta e a recente assinatura do Tratado de Livre Comércio, ambos favorecendo os Estados Unidos. O presidente justificou-se dizendo que fora criado um estado de comoção interna na província de Pichincha (onde está a capital) e que a CSJ de dezembro era temporária e o Congresso não atendera seus últimos pedidos para dissolvê-la.

Enquanto isso, a economia dolarizada enfrenta momentos de desafio. O cidadão Luiz Zambrano não conseguiu pagar a 3a. prestação de sua TV porque a loja não aceitou sua nota de cem dólares. “Disseram que não sabiam se era verdadeira e me mandaram trocá-la, mas a fila no Banco Central é enorme e os outros Bancos também não aceitam com medo das falsificações que são cada vez mais bem feitas”. Em volta do Equador, a modernidade e a paz também estão em crise. O venezuelano Hugo Chávez comprou cem mil fuzis kalashnikov e criou milícias populares para manter-se no poder, ressuscitando a idéia originária de Dom Manuel, O Venturoso, que em 1505, à falta de um exército, resolveu armar o povo. Há uma escalada de violência guerrilheira na Colômbia, onde Fernando Botero, talvez cansado de retratar as tristezas de seu povo, lançou uma série de pinturas sobre as torturas de Abu Ghraib. A violência sem qualquer motivo é um fenômeno universal e os equatorianos, no fundo, tentam proteger-se simplesmente trocando o presidente, na esperança de que o próximo enfim acerte e os proteja.

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