BAILARINA
Olhando a imagem da bailarina, logo me lembrei dos lindos e delicados quadros de Dégas. Meninas coradas em roupas esvoaçantes, brancas, rosa ou azul clarinho, sapatilhas com lacinhos, pernas esticadas na barra. O som do piano dá o compasso. A severa professora a todas vigia e se enerva, quando erram bate o bastão no chão. Isso lá na França de antão.
Nos meus tempos de balé as roupas mudaram, para as aulas usávamos saiote curtinho e malha por baixo, tudo preto. O piano sumiu, a vitrola o substituiu. Mas as professoras – duas moças russas, Bruna e Tatiana – exigiam tudo na perfeição, também tinham um bastão. Nada de pernas tortas ou vacilo nas piruetas. Leveza nos braços, sem esquecer a posição dos dedos da mão.
Meu maior suplício era usar as sapatilhas de ponta que machucavam. Eu as enchia de algodão, e assim mesmo viva com os dedos esfolados.
Mas tudo era recompensado no final do ano.
Vestidas com saiotes de tule e corpetes bordados de lantejoula, rodopiávamos pelo palco em apresentação ao público no Teatro Municipal.
Beatriz Cruz |