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Artigos-->A CULPA E O PERDÃO -- 09/04/2005 - 23:16 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A CULPA E O PERDÃO



Francisco Miguel de Moura

Escritor



«Você pode até chorar, / você até sorrir, / perdão foi feito pra gente pedir...»

O poeta popular pode estar certo, mas o perdão de que nos fala é um perdão individual, bem menor. A comunidade é bem maior. É o mundo.

Lembrei-me desses versos, ao deparar-me com a imagem terrível que a tevê mostrou na semana passada e os jornais e revistas reproduziram. Reabre feridas de guerra. Uma menina correndo das chamas de um bombardeio americano, nos campos do Vietnam. Ela aparece já nua, entre seus irmãos, que morreram na ocasião. Em 1972, época do bombardeio de «napalm», ela tinha apenas 9 anos e sobreviveu. Atualmente mora na cidade de Toronto, Canadá, e é casada. Sua família reduz-se ao marido e ao filho, pois seus pais também morreram naquela guerra terrível. Seu nome é Phan Ti Kim Phuc.

Será feliz, apesar das marcas físicas inapagáveis que lhe ficaram nas costas, pelas profundas queimaduras? Conviverá bem com a absurdidade dos traumas físicos, morais e espirituais que suportou e dos quais ainda se recorda?

É possível que sim. É possível que seja apenas um ato público e nada mais.

Nossa atenção se volta ao que pensa, hoje, sobre os vencedores. Perdoa-lhes. E o perdão talvez seja muito mais benéfico a quem dá do que a quem recebe.

No dia 11 do corrente, visitando o Museu da Tolerância, em Los Angeles, nos Estados Unidos, depositou uma coroa de flores para os americanos mortos na guerra, e disse esta frase que a imprensa do mundo inteiro reproduziu:

- «NEM ELE NEM EU PODEMOS MUDAR A HISTÓRIA, MAS PODEMOS NOS ESFORÇAR, NO PRESENTE E NO FUTURO, PARA PROMOVER A PAZ.»

O «ele» é referência ao piloto que explodiu a bomba que mataria sua família e, por milagre, não a matou também.

O perdão e, ao mesmo tempo, o reconhecimento do enorme crime que praticaram contra seu país, faz a gente pensar no amor. Como o amor é grande e forte! Não se deixa abater por nenhum mal do mundo. Mata o ódio, sem ódio nenhum. O amor cria. Só amor constrói. Só o amor é rico e poderoso.

E, a meu ver, engana-se quem diz que o mundo progride quando há uma guerra, ou por causa dela. Ou que, não obstante os seus malefícios, traz coisa boas. Beleza não traz. Bondade também não. O mundo cresceria muito mais «se houvesse paz entre os homens de boa vontade». Por mim, dispensaria qualquer guerra. Toda ela é suja e injusta, principalmente com os pequenos, os que nela vão lutar, e os que nem sabem dela e no entanto encontram a morte. Sempre injusta com os vencidos, os que nela morrem, ou os que ficam mutilados por causa.

Dispensaria qualquer progresso vindo através de tanta dor, de tanta aflição.

Só existe perdão porque há culpa. Assim, melhor é que não existisse culpa e não haveria o sacrifício espiritual do perdão. Quem dá não mede sacrifícios, esquece-os, afasta a memória (imediata) do que é tão trágico, tão infeliz.

No caso específico, ninguém particularmente pediu perdão. Mas está no coração, no ar e nas ações de milhares e milhares de americanos aquilo que se chamaria de «complexo de culpa» por aquela guerra. E a gente sente que eles imploram o perdão.

Foi isto que Phan Ti Kim Phuc sentiu verdadeiramente. E foi em socorro da voz coletiva dos que infligiram tanto sofrimento, sem necessidade, ao seu povo, e hoje se sentem arrependidos. Assim deve ser entendida sua mensagem de perdão em nome do ofensor, formulada pelo próprio ofendido.

O jornal em que li a notícia acrescenta, finalizando: «O mundo agradece».

Muito inteligente a criação do comunicador, comove. Mas perguntamos nós:

- Quem é o mundo? É o povo? Ou seus governantes? Os soldados que mataram? Ou os que morreram no campo de batalha?

Ninguém, particularmente, precisará de agradecimentos do mundo. Precisa-se de consciência e de responsabilidade. Que aquilo nunca mais volte a acontecer.

E volta e acontece todos os dias. Quantas guerrinhas não se fazem neste momento? Quantas mortes todos os dias? Guerra por petróleo. Guerra por terra. Guerra por religião. Guerra por dinheiro e por droga. Guerra de uma tribo contra outra. Guerra por guerra.

O mundo é insensato.



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