O Chato do Piolho
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Esse piolho é um saco
É cabra mal educado
Só sabe comer sozinho
E de olho arregalado
Tenho pena de galinha
E também de ararinha
Que passa no seu cercado
Com certeza ele ataca
Feito gavião malvado
Pula em cima da penosa
E carrega para o lado
Bota a água na chaleira
Enquanto treina a coceira
Preparando o ensopado
Agora entendi o porquê
De ele gostar da bichinha
Seja pato, rola ou tatu
Ele come até ararinha
Desde que bem cozida
Já vi coisa parecida
Dentro de toda cozinha
E depois que enche o bucho
O piolho fica à vontade
Pra contar suas proezas
Fala com sinceridade
Que é bom conquistador
Das coisas boas do amor
Ele gosta de verdade
Ama tudo que é bonito
Tem fome de um leão
Adora dos pés a cabeça
Se esbalda com o coração
Do sobrecu nem se fala
Com ele as vezes se entala
E diz ter muito tesão
Fala muito esse piolho
Mas a sua conversa é fiada
Diz que come com os olhos
Diz a coisa simulada
E a gente fica pensando
Que ele está namorando
No final não dá em nada
O piolho é traiçoeiro
Quando a língua ele usa
Pra comer o que divulga
Come muito e se lambuza
E a mão é malcheirosa
A conversa vira prosa
A turma fica confusa
A verdade verdadeira
É que o piolho sacana
Come muito ao seu jeito
E ninguém mais ele engana
Isso muito me intriga
Quando ele enche a barriga
Dessa comida profana
Diz que come qualquer comida
Mas comer tem duplo sentido
Posso comer pela boca
E escutar pelo ouvido
Ou comer com outra parte
É só uma questão de arte
Basta ser muito enxerido